On The Boulevard des Capucines

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

terça-feira, outubro 31, 2006

Electroma


Daft Punk vai ao cinema. O que esperar?

Um musical? Não, não...

Uma animação psicodélica? Não, não...

Um clipe em longa-metragem com uma trilha matadora? Não, não...

Vejamos... Que tal uma ficção científica com robôs? Sim! Mas o mais certo seria "uma chatíssima e pretensiosa ficção científica com robôs".

Tudo bem. Você pode até falar conceitualmente, sobre a opressão da modernidade, da busca por identidade, por seu verdadeiro eu e blá, blá, blá... A verdade é que "Electroma" testa sua paciência beirando os limites do insuportável.

Eu não sei como é o inferno. Mas tenho certeza que os cinemas de lá só exibem "Electroma". E com uma trilha sonora alternativa, composta apenas por variações intelectualóides de "Infinita Highway", dos Engenheiros do Hawaii.

Na imagem acima, uma visão do inferno na Terra...


(Trilha Sonora: Bic Runga - Birds)

Vitus

François Truffaut, em uma tarde qualquer, em Paris, resolveu ver - mais uma vez - o filme "Intriga Internacional", de Alfred Hitchcock. Chovia. Na fileira da frente do cineasta francês, sentou-se um homem, meio atrapalhado, esbaforido. Para este homem, o cinema serviu como abrigo da chuva. Nada mais. Começa a exibição. Duas horas depois, quando as luzes foram acesas, o tal homem disse para ele mesmo - em voz alta e com um sorriso nos lábios: "nada mal". Truffaut vibrou. O cinema havia cumprido uma de suas funções.

"Vitus", filme do diretor Fredi M. Murer, conseguiu o mesmo resultado na sessão de segunda-feira, 30 de outubro, no charmoso Cine Sesc. Quando os letreiros começaram a subir, as pessoas se levantaram com um sorriso nos lábios. Eu também sorria (apesar de ter continuado sentado). Vitus é um garoto que sofre pelo fato de ser um gênio. Viveria em completo isolamento não fosse pelo avô, papel de Bruno Ganz, em uma interpretação magnífica. A história, que é contada sem grandes pretensões, cativa pela inocência e simplicidade. O cinema cumpre uma de suas funções.

"Vitus" está entre os selecionados para disputar o Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira no ano que vem. Se Pedro Almodóvar não estiver entre os concorrentes - e é óbvio que vai estar -, pode ter alguma chance, já que este é exatamente o tipo de produção que a Academia de Hollywood adora. Quem sabe...

Na foto, o garoto-prodígio Vitus e seu avô.

(Trilha Sonora: Bic Runga - Birds)

domingo, outubro 29, 2006

Notícias do Lar / Notícias de Casa

Amos Gitai participou ativamente da história de Israel dos últimos 40 anos. Ele chegou até a lutar na Guerra do Yom Kippur. Mas é com uma câmera na mão que este soldado é revelado. Em "Notícias do Lar / Notícias de Casa", Gitai faz do documentário sua moderna forma de arqueologia, voltando a uma casa que havia filmado em 1980, que já havia sido habitada por palestinos e por judeus. Era, portanto, uma metáfora do conflito.

E, 26 anos depois, o que mudou? O conflito parece estar longe do fim e as feridas permanecem abertas. Entre os palestinos, uma diáspora. Entre os israelenses, o medo. Um crítico de cinema (irei omitir seu nome) disse, logo após a exibição, que o filme era ruim porque as personagens não eram tão interessantes assim. Não entendeu nada. É fundamental ver um pouco além das imagens em casos assim. O menos importante aqui é a forma.

No pôster, Amos Gitai e o presente que ganha de uma de suas "personagens".


(Trilha Sonora: Live - Birds Of Pray)

sábado, outubro 28, 2006

Réquiem Para Billy The Kid

Confesso que fui atraído a este filme apenas por seu título, que acho lindo. E também pelo fato de ter sido dirigido por uma mulher, francesa: Anne Feinsilber, que faz sua estréia. Antes da exibição, ela reforçou os pontos citados. Como uma mulher, francesa, havia dirigido um faroeste sobre Billy The Kid, uma lenda americana, misturando realidade e ficção? A resposta é simples. O filme não é, nem de longe, um faroeste. Quem dera Anne... É um documentário sobre a lenda do vilão (para alguns herói) feito com um amadorismo de dar dó.

Anne conversa com Billy The Kid (com narração de Kris Kistrofferson, que fez o papel de Billy The Kid no clássico de Sam Peckinpah) e, aos poucos, vai recriando a história do garoto. Mas sem nenhum propósito. Há poucos bons momentos, que logo são dissipados no tal do bate-papo improdutivo, que caminha em direção a lugar nenhum.

Acima, o pôster do filme, a única foto de Billy The Kid.

(Trilha Sonora: Justyna Steczkowska - Dziewczyna Szamana)

Time

Kim Ki-Duk nasceu como artista em 2000, quando participou do Festival de Veneza com "A Ilha". Durante a exibição, duas jornalistas italianas ficaram chocadas com as cenas que viram, passaram mal e deixaram a sala. Pronto! A curiosidade (que, já diziam, matou o gato) fez com que centenas de pessoas fossem apresentadas ao diretor sul-coreano. A polêmica reduziu sua obra. O filme ia além da controvérsia. Anos depois, ele parecia ter encontrado seu caminho com o belíssimo "Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera", seu melhor trabalho.

Mas Kim Ki-Duk resolveu voltar à polêmica reducionista de outrora. Em "Time", ele conta a história de um casal que toma medidas extremas para que o amor entre os dois não morra. E aí caímos todos em um dramalhão meio "Nip", meio "Tuck", que beira as raias do ridículo. Uma pena. Kim Ki-Duk é um dos melhores diretores asiáticos da atualidade (e isso não é pouco, já que a produção oriental é, hoje, das mais interessantes do planeta). Enquanto apostar nas fórmulas de seu início conturbado de carreira, ele só tem a perder.

Na imagem acima, o casal radical em um jardim de esculturas.


(Trilha Sonora: Justyna Steczkowska - Dziewczyna Szamana)

sexta-feira, outubro 27, 2006

Shortbus

John Cameron Mitchell é uma das minhas boas descobertas em várias mostras internacionais. Sua carreira como diretor de cinema começa em 2001, com "Hedwig". A história do(a) líder de uma banda alemã em turnê pelos Estados Unidos saiu dos teatros "Off Broadway", onde foi montada pelo próprio Mitchell. Ao levar sua "odisséia rock anatomicamente incorreta" para as telas, manteve o mesmo controle que tinha nos palcos: escreveu, dirigiu e interpretou o papel principal de forma brilhante (uma atuação que merecia, pelo menos, uma indicação ao Oscar de Melhor Ator daquele ano).

Depois de uma estréia tão cheia de promessas, aguardava este filme com uma certa ansiedade. A exibição começa e Mitchell já surge imerso em controvérsia. A sequência de abertura, com uma rápida apresentação das personagens de "Shortbus", é explícita, gratuita. É uma provocação sem propósito, feita apenas para chocar. Sem cair em outras armadilhas fáceis, a provocação deixa de existir. E a obra passa a acompanhar os passos de um casal homossexual em crise, de uma terapeuta de casais que nunca teve um orgasmo, de uma dominatrix carente de relações afetivas, de um voyeur... E é aí que o humanismo sem preconceitos ou julgamentos rasteiros ganha a tela e conquista a audiência.

"Shortbus" pode não ser dos filmes mais fáceis.

Mas vê-lo traz recompensas.

Acima, um pôster alternativo de "Shortbus".

(Trilha Sonora: Casey Dienel - Wind-Up Canary)

quinta-feira, outubro 26, 2006

O Cheiro do Ralo

Lourenço Mutarelli é um dos mais festejados autores de histórias em quadrinhos do Brasil. Seu primeiro romance, "O Cheiro do Ralo", é a história de um paulistano comum que vive de negociar objetos usados. Para ele, tudo tem um preço. Tudo. Até a bunda (!) de uma balconista, a sua maior obsessão.

A qualidade do filme, que foi muito bem recebido no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, compensa a espera por uma adaptação cinematográfica da obra de Mutarelli. Como não poderia ter sido diferente, a produção também foi muito bem recebida na Mostra de São Paulo. A sessão foi um evento, com a presença do diretor Heitor Dhalia, dos produtores, dos atores - entre eles, Selton Mello, que faz o papel principal, cada vez melhor! -, de algumas celebridades, de Bruno Barreto, de Beto Brant e de Hector Babenco.

Na saída da sala, ouvi Bruno Barreto conversar com um dos produtores de "O Cheiro do Ralo". Ele disse que "gostou muito", principalmente da "narrativa urbana" que viu na tela. O filme é mesmo muito bom. E a "narrativa urbana" de Barreto está expressa neste cotidiano que a maioria de nós desconhece, de anônimos que lutam por trocados aqui e ali, recriado com um humor cínico e - por que não? - fedorento. O cinema nacional mostra suas garras.


(Tilha Sonora: Mia Doi Todd - The Ewe and The Eye)

quarta-feira, outubro 25, 2006

Os Infiltrados

O que acontece com Martin Scorsese? Preciso de mais tempo para buscar uma boa resposta. Mas, por enquanto, fico com a impressão de que desde 1997, quando fez o descompromissado "Kundun", ele só consegue realizar um grande filme, um como dos velhos tempos de "Taxi Driver" e "Touro Indomável", quando está envolvido em projetos - digamos - passionais. Os outros parecem, de alguma forma, entendiá-lo. "No Direction Home", o documentário sobre a carreira de Bob Dylan, é brilhante. A viagem que fez pelo cinema italiano em "My Voyage to Italy" e até o episódio que dirigiu para a série "The Blues" são mais interessantes que suas produções dos últimos 10 anos.

"Os Infiltrados" têm momentos empolgantes. Mas que não nos fazem lembrar de Scorsese. Sua identidade aparece tímida, apenas nos clássicos do rock americano que pontuam a trilha. Até a violência da trama, que envolve policiais, mafiosos e os tais infiltrados, não tem o mesmo apuro visual de antigamente. Entre os atores, a certeza é de que os - óbvios - Matt Damon e Mark Wahlberg ainda não podem interpretar qualquer personagem mais elaborado. E se não fosse por Jack Nicholson e Leonardo DiCaprio (foto), o filme não teria quase nada de interessante.

Ainda espero o próximo Scorsese.

Vamos ver até onde vai a minha paciência...


(Trilha Sonora: Mia Doi Todd - The Golden State)

segunda-feira, outubro 23, 2006

O Caminho para Guantánamo

O que faz de um filme um grande filme? Vejamos. Sua relevância estética em relação à história do cinema, sua constituição como "obra de arte", o impacto cultural - e emocional - que provoca, sua contribuição social e política, o retrato que captura do tempo histórico etc. Um filme pode ser grande por reunir várias das qualidades listadas ou por, simplesmente, levar qualquer uma delas às últimas consequências. "O Caminho para Guantánamo" é um grande filme. "O Caminho para Guantánamo" é um grande filme por levar às últimas consequências o retrato que faz de nosso tempo na história. O tempo da foto que ilustra este post.

Os diretores Michael Winterbottom e Mat Whitecross misturam realidade e ficção para mostrar os acontecimentos aparentemente banais que levaram quatro cidadãos ingleses (efetivamente nascidos na Inglaterra) às prisões americanas em Cuba. O semi-documentário afirma que, não importando para onde vá a ficção, é a realidade que temos de confrontar. Aqui, a ficção serve apenas como a reconstituição desta realidade que surge tão absurda, tão absurda.

E o que foi feito? O que estamos fazendo? O que vamos fazer?

(Trilha Sonora: Rachael Yamagata - Happenstance)

Os Estados Unidos Contra John Lennon

A pergunta que fica após a exibição é: "o que aprendemos?". Completamos hoje 40 anos do nascimento político do maior ícone cultural de todos os tempos. E depois de tanto tempo, ainda não demos chance nem para a paz, nem para o amor.

O documentário mostra como o pacifismo de John Lennon e Yoko Ono incomodou o governo americano, na época afundado em uma guerra sem propósito, e acirrada no segundo mandato de um presidente tolo. Alguma semelhança com nossos dias? De que servem as aulas de história?

Um único ponto negativo talvez seja a falta de uma palavra sequer sobre o assassinato de John Lennon. Há quem diga que o governo americano esteve envolvido. E que Mark David Chapman, o homem que puxou o gatilho, fazia parte do projeto secreto de controle da mente (com o uso de drogas - LSD - e técnicas de hipnose) da CIA, o "MK Ultra". Aos que acham o tema "fantasioso" ou "paranóico", recomendo uma pesquisa rápida na internet.

Para os fãs dos Beatles, de Lennon e apreciadores de rock em geral, é obrigatório. Para todos os demais, um exercício de civismo. Para pensar no trânsito, no chuveiro...


(Trilha Sonora: Lisa Loeb - The Very Best Of Lisa Loeb)

A Última Noite

30 anos depois de "Nashville", Robert Altman retoma, mesmo que de forma indireta, o tema de seu filme mais consagrado: o country. "A Última Noite", como o título sugere, revela os dramas dos bastidores do último programa de rádio "Prairie Home Companion", realizado ao vivo, em um teatro, com platéia, efeitos sonoros e tudo mais.

Durante a duração do tal programa (a mesma do filme), Altman faz um retrato nostálgico dos "velhos e bons tempos que não voltam jamais"... Assim como em outras de suas obras recentes, o diretor fragmenta a trama em busca de um conceito mais amplo das relações humanas. E é assim, acompanhando de perto as personagens, que a gente não consegue desgrudar o ouvido da tela nem por um minuto.

Apesar de não ser dos melhores Altmans, "A Última Noite" é leve, engraçado, cativante, terno, delicioso. Perfeito para uma tarde de domingo!

Na foto, Woody Harrelson e John C. Reilly como a dupla "boca suja" Dusty & Lefty.


(Trilha Sonora: Sarah Harmer - I'm a Mountain)

A Promessa

Chen Kaige andava meio em baixa no mercado ocidental. E nada melhor do que apostar em uma tendência cada vez mais aceita por aqui: um filme de artes marciais com coreografia cuidadosa e um visual de encher os olhos. Tudo culpa de "O Tigre e o Dragão", de Ang Lee, que iniciou a onda. Zhang Yimou, por exemplo, fez os seus épicos "Herói" e "O Clã das Adagas Voadoras" seguindo a mesma receita. E deu certo! Chen Kaige achou que era a sua vez...

Mas "A Promessa" não cumpre a maioria de suas expectativas. O filme é, sim, lindo! Só que artificial ao extremo. Seu claro descompromisso com a realidade (a produção é até um pouco inverossímil) exige a utilização excessiva de efeitos especiais criados por computador, deixando de lado a charmosa técnica de "wires" (cabos), desenvolvida na China e recém-adotada pela Hollywood pós-Matrix. O computador, aqui, matou a sutileza, a poesia. Pena...

Na foto, a deusa Manshen.


(Trilha Sonora: Dixie Chicks - Little Ol' Cowgirl)

sábado, outubro 21, 2006

Pelos Blogs da Vida 2 (Edição Especial)

Mais um blog para vocês viajarem:

http://justpinkandblack.blogspot.com/

É o diário de bordo da Didi, irmã algo além do fascinante de uma fascinante e querida amiga.

"From the world to the dreaming fields of light
From the soaking mud
Gonna fly up to the sky
To the scarlet thing in you"


(Trilha Sonora: Peter Murphy - Wild Birds)

Babel

No post "Ang Lee, 'Crash' e a Crítica Brasileira", apontava os resultados do último Oscar como o sinal definitivo da morte dos filmes e, por consequência, da crítica de cinema. Mas há agora, apenas um ano depois do fiasco, uma clara chance de redenção. Que o Oscar de Melhor Filme seja entregue para "Babel" e o de Melhor Diretor, para Alejandro González Iñárritu. Acho pouco provável que qualquer outra produção atual consiga atingir o nível de apuro estético de "Babel", e com toda a intensidade de sua carga emocional.

"Babel" encerra de maneira devastadora a trilogia que começou com "Amores Brutos" e passou por "21 Gramas". Em todos, há sempre três vértices. Em "Amores Brutos", um único ponto (o centro - o acidente automobilístico) nos leva a acompanhar três dramas distintos, mas com fatos em comum. Em "21 Gramas", um outro acidente automobilístico faz com que três vidas sejam direcionadas para um único ponto (o centro). Em "Babel", o centro (o presente de um caçador a seu guia - na foto, o resultado) tem seus efeitos irradiados aos três vértices como ondas provocadas por uma pedra em um lago.

Olhem só:

"Amores Brutos" - O acidente é ponto de partida para três histórias distintas
"21 Gramas" - O acidente leva à convergência de três vidas para uma só história
"Babel" - O "acidente" é propagado de forma a afetar os três diferentes núcleos em três diferentes histórias que repercutem entre si

"Babel" é o melhor trabalho de Alejandro González Iñárritu como diretor. É também o melhor texto já escrito por seu parceiro de trilogia, o roteirista Guillermo Arriaga.

E, para encerrar, o melhor filme que vi em muitos anos...

A nota é 10!


(Trilha Sonora: Silêncio. Por respeito.)

O Crocodilo

Nanni Moretti costuma passear com muita intimidade entre a comédia e o drama, dosando bem as tramas e os conflitos de suas histórias. Mas ele errou em "O Crocodilo". O filme conta a trajetória de um diretor fracassado de filmes B que, além de lutar por um financiamento para uma aguardada nova produção, enfrenta uma grave crise conjugal.

Além de tentar equilibrar estas duas bolas, Moretti ainda quer discutir o cinema italiano e a política dos anos Berlusconi. É demais. O malabarismo exigido para o andamento da obra prejudica seu ritmo natural, tornando "O Crocodilo" um pouco cansativo, apesar, claro, de alguns bons momentos.

O que mais chama a atenção é a relação entre a decadência do cineasta interpretado por Silvio Orlando e o cinema da Itália. Os dois já foram grandes um dia...

Hoje, a cinematografia que foi a mais importante do mundo durante anos (principalmente entre o final da década de 40 e o início dos anos 60) vive de momentos raros de talento. Com uma certa tristeza, afirmo que "O Crocodilo" não é um deles.

Na foto, o "crocodilo" (Berlusconi) e uma mala de dinheiro que cai do céu. Sim! Malas de dinheiro caem do céu na Itália...


(Trilha Sonora: O silêncio ainda impera.)

Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita

Como é bom voltar a filmes que não vemos há tempos...

A memória que tinha da obra-prima de Elio Petri era a melhor possível. Mas alguns detalhes ficaram perdidos por aí. O encerramento, por exemplo. O filme acaba com uma frase de Franz Kafka, falando sobre o poder e sua relação íntima com a lei.

"Investigação..." é uma releitura 180° de "O Processo". O livro de Kafka trata de um homem inocente que, em um belo dia, acorda com muitas contas a acertar com a polícia. "Investigação..." trata de um homem culpado (Gian Maria Volontè - soberbo) que, em um belo dia, tenta acertar suas contas com a polícia, mas não consegue. Como um homem da lei, da consciência pública e do poder, está acima de qualquer suspeita.

Fantástico!


(Trilha Sonora: Silêncio! É madrugada outra vez.)

O Labirinto do Fauno

Belíssima fábula de Guillermo Del Toro, um diretor que está para o México assim como Luc Besson está para a França. Ou quase isso...

Com um visual arrebatador e excelentes interpretações de Maribel Verdú (De "E Sua Mãe Também") e Sergi López (de "Uma Relação Pornográfica"), "O Labirinto do Fauno" conta a história de Ofelia (papel da brilhante Ivana Baquero, de apenas 12 anos - na foto, com o fauno do título) em busca de uma identidade há muito perdida.

A fantasia mostrada nas telas é um ritual de passagem, o enfrentamento da vida adulta que está por vir, o sacrifício da inocência. Assim como em "A Viagem de Chihiro".

É chegada a hora de crescer. E algo vai ficar pelo caminho...

(Trilha Sonora: Silêncio! Já são quase 3 horas da madrugada!)

quinta-feira, outubro 19, 2006

A Morte do Cinema

A Livraria Cultura do Conjunto Nacional, ali na avenida Paulista, tem uma excelente estratégia para vender livros durante a Mostra de Cinema: rechear suas vitrines com variações sobre o tema. Em uma de minhas já várias visitas à central (para trocar meus ingressos), fui atraído pelo título "The Death of Cinema: History, Memory and the Digital Dark Age", de Paolo Cherchi Usai, com prefácio de Martin Scorsese (capa ao lado). E a atração foi transformada em compra. :0)

O livro trata de um tema que é pouco explorado. A efemeridade dos filmes, que teimam em sumir deixando apenas vestígios vagos na memória de cada um de nós. Ainda estou bem no começo, mas gostei bastante do que já li. Segue um trecho do prefácio de Martin Scorsese, no original em Inglês:

"His (Paolo Cherchi Usai) portrait of a culture ignoring the loss of its own image is a devastating moral tale, the recognition that there is something very wrong with the way we are taught to disregard the art of seeing as something ephemeral and negligible".


(Trilha Sonora: AC/DC - My Personal Greatest Hits)

quarta-feira, outubro 18, 2006

Ang Lee, “Crash” e a Crítica Brasileira

O texto é velho, mas permanece atual. Foi escrito durante um acesso de raiva que tive logo após ver "Crash", último vencedor do Oscar de Melhor Filme. Como prometido, segue o post sobre a "crítica burra".

A crítica de cinema já foi inteligente. Mais até do que isso, já foi decisiva nas discussões que levaram a evoluções da linguagem. Lembremos Lotte Eisner, teórica por excelência do Expressionismo, André Bazin, que sacramentou as bases do cinema moderno ao lado dos diretores-escritores da Nouvelle Vague, ou mesmo Pauline Kael, a mais importante e ácida crítica nascida nos Estados Unidos, para quem ninguém era intocável. No Brasil, para citar apenas dois nomes, José Lino Grünewald, com toda sua quase impenetrável cultura, e Glauber Rocha, que deixou para trás uma produção intelectual invejável e veemente. Tomemos Glauber. As idéias impressas no papel pularam para as telas em filmes como, por exemplo, “A Idade da Terra”, até hoje incompreendido e subestimado. Não é menos do que uma obra-prima. E serve como nosso ponto de partida. Porque o cinema e sua crítica perderam o rumo. Não há paixão, não há discussões, não há evolução, não há inteligência.

O cinema como um movimento crescente de expressão artística morreu em 1980, com o lançamento de “A Idade da Terra”. Na época, a produção foi recebida como o discurso de um louco. Como tal, Glauber Rocha vociferou e disse que ninguém havia entendido nada. Hoje é fácil ver como estava certo. Atualmente, cineastas como Ang Lee são tomados por gênios e “revolucionários”. Ele começou sua carreira muito bem, com “A Arte de Viver”, de 1992, seguido por dois filmes deliciosos: “O Banquete de Casamento” e “Comer, Beber e Viver”, todos realizados na China. Fez barulho em festivais internacionais e chegou a receber uma indicação ao Oscar. O sucesso permitiu o estabelecimento definitivo nos Estados Unidos, onde morava e estudava desde a década de 70. A partir de então, fez “pérolas” como “Razão e Sensibilidade”, “Tempestade de Gelo”, “O Tigre e o Dragão” e “Hulk”. Uma história de “inigualável” talento, como todos nós podemos notar facilmente.

Sua obra mais recente, “Brokeback Mountain”, acaba de “premiar” o brilhantismo de Ang Lee com o Oscar de Melhor Diretor. Uma aberração que é a prova maior de que o cinema empobreceu. E de que sua crítica é burra. O filme trata do amor que surge arrebatador entre dois cowboys. A câmera sutil do diretor sugere o romance homossexual que está por vir com dois enquadramentos infelizes, em dois momentos distintos, do órgão sexual masculino. Cinemão. Aqui lembro com saudades de “Felizes Juntos”, de Wong Kar Wai, que mostra a mesma relação entre homens sem cair em armadilhas fáceis e de mau gosto. Voltemos à Montanha Brokeback. Depois do tórrido encontro carnal, os cowboys seguem suas vidas. Vemos os dois com suas famílias, no trabalho. Por anos e anos. Nenhuma referência ao caso. Quando, surpresa, descobrimos que sim, eles mantiveram relações secretas apaixonadíssimas por todos esses anos. Como podemos estar unidos à dor de um casal se achamos que foi apenas e tão somente uma aventura equivocada de uma estação? Cinemão.

O prêmio de Melhor Diretor para Ang Lee só foi superado pelo de Melhor Filme para “Crash”, de Paul Haggis, roteirista de “Menina de Ouro” e que, pela primeira vez, esteve atrás das câmeras. O filme é uma farsa, do início ao fim. Um plágio descarado de uma tendência narrativa que passa por Quentin Tarantino e Paul Thomas Anderson. O roteiro circular da trama, que confunde o espectador brincando com o tempo das ações mostradas, vem do belíssimo “Antes da Chuva”, de Milko Manchevski. A história povoada de personagens vem de Tarantino, mas principalmente de Anderson e seu “Magnólia”. “Crash” não é nada mais do que “Magnólia” com uma temática diferente. “Magnólia” tratava dos acidentes emocionais que nos cercam. “Crash”, da intolerância racial. Até o espaço físico é semelhante. “Crash” apenas amplia a noção de “Magnólia”. De uma avenida para a cidade de Los Angeles. E o que vemos a seguir é desprezível.

Não quero nem comentar o roteiro, que é interessante, apesar de forçar toda e qualquer situação na direção de um conflito de raças. O ridículo chega ao ponto máximo durante um diálogo entre um casal. Na cama, eles discutem por causa de uma frase racista. Tudo bem. Mas é um pouco demais. O problema é que os americanos realmente precisam de coisas óbvias para conseguir entender um filme. Principalmente os adultos, que vivem em uma sociedade onde o público-alvo das produções cinematográficas é o adolescente de 13 anos. Estão, portanto, desacostumados com qualquer coisa que ultrapasse a altura dos joelhos. “Magnólia” era genial porque tratava de aflições humanas reais - facilmente reconhecidas (e sofridas) por você ou por mim, unidas por um momento poético de rara beleza, quando todos surgem cantando “Wise Up”, e por uma chuva de sapos. A mesma estrutura aparece em “Crash”. Há o tal momento poético que pretendia ser de rara beleza. A música tema, inclusive, é de uma cantora que tem “fortíssima influência” de Aimee Mann, a autora da trilha de “Magnólia”. A canção de “Crash” é apenas mais uma das partes deste plágio criativo. Desafio qualquer um a ouvir “You Do”, também de “Magnólia”, e não encontrar um caso que deveria estar nos tribunais americanos.

Mas e a chuva de sapos? A seqüência mais comentada de “Magnólia”, mal recebida pelo público que tem medo de ir além da “água no joelho”, está lá em “Crash”. No lugar dos sapos, neve. Tão ou mais improvável, já que estamos em Los Angeles, Califórnia. Como em “Magnólia”, onde, logo no início, é discutida a possibilidade de eventos estranhos, em “Crash”, também na cena inicial, somos confrontados com a idéia de que realmente pode nevar em Los Angeles. Deprimente. É este cinema que enchemos de glórias? Um cinema óbvio, sem uma sutil inteligência, onde tudo deve ser explicado à exaustão? Onde tudo é mesmo o que parece? Onde a falta de técnica passa por estilo? Por que isso acontece? Há vários culpados na promoção deste cinema idiota e que deveria ser banido das telas. E todos eles são críticos, que perderam completamente a noção do que um filme deve ser.

Nada acontece por acaso. Os próprios filmes (e seus diretores, claro) levaram à decadência da crítica. Hoje não temos mais Fellinis, Truffauts, Kurosawas, Tarkovskis. E vivemos em um mundo que aceita esta baixíssima qualidade, destinado a não ir além da projeção. E assistimos e aplaudimos estes filmes. Não é estranho que qualquer produção mais ou menos de um diretor mais ou menos seja recebida calorosamente. É a escassez de obras sérias e de qualidade que nos leva a esse mar de mediocridade. Se a crítica não acordar e não voltar a discutir o cinema com seriedade, apontando tendências, buscando saídas, semeando revoluções, vamos ver a tela grande como plataforma de lançamento para a diversão caseira, para os DVDs.

A crítica de hoje é burra e preguiçosa. Porque vê filmes demais sem o tempo necessário para pensar sobre cada um deles, porque está servindo a interesses financeiros maiores, porque é jovem e inexperiente, porque parece ter caído de pára-quedas em uma profissão que exige conhecimento e amor à arte, porque transformou análise em "guia de fim de semana", porque não estuda cinema, porque não tem idéias, porque não estabelece relações, porque não lê, porque não discute, porque não agride. A crítica hoje é uma peça de promoção, desprezada pelo público em geral, e uma piada para quem gosta de cinema de verdade.

Saudades de Glauber Rocha, que espero esteja olhando por nós...

(Trilha Sonora: Aimee Mann - One More Drifter In The Snow)

terça-feira, outubro 17, 2006

Pelos Blogs da Vida

Alguns blogs que têm tudo a ver ...

http://casanomato.blogspot.com/ - De Mariana Dorin - Loucuras saudáveis, artes e afins. Entre, fique à vontade, tome uma dose de pinga da melhor qualidade.

http://patriciabelotti.blogspot.com/ - De Patrícia Belotti - Vida, louca vida. Além de ter uma voz magnífica, seus relatos cotidianos são mais que deliciosos.

http://sonhossupernova.blogspot.com/ - De Roberta da Purificação - Quem mais poderia fazer algo tão poético e sublime? Visite e purifique-se!

http://dixlexicopensante.blogspot.com/ - De Eduardo Zaitz - Dixléxico assim mesmo, com X. Belíssimo blog sobre cinema de um velho ratinho da mostra.

http://coletivo.blogspot.com/ - de Maurício Alcântara - Sobre o início de tudo. Entre aqui sempre que quiser saber o que há de melhor nos palcos da cidade.

http://subverso.blogspot.com/ - de Maurício Alcântara - Sim! O cara tem dois blogs! Este é mais "absolutamente inútil e egocêntrico", como ele mesmo diz.


(Trilha Sonora: The Loud Family - Plants And Birds And Rocks And Things)

domingo, outubro 15, 2006

Minha Programação

Os filmes que pretendo ver na primeira semana da Mostra de Cinema de São Paulo.

A carinha feliz indica as obras aguardadas com mais ansiedade. :0)


O LABIRINTO DO FAUNO, de Guillermo del Toro :0)

INVESTIGAÇÃO SOBRE UM CIDADÃO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA, de Elio Petri

O CROCODILO, de Nanni Moretti

BABEL, de Alejandro González Iñárritu :0)

A PROMESSA, de Chen Kaige :0)

A ÚLTIMA NOITE, de Robert Altman

OS ESTADOS UNIDOS CONTRA JOHN LENNON, de David Leaf e John Scheinfeld :0)

O CAMINHO PARA GUANTANAMO, de Michael Winterbottom

OS INFILTRADOS, de Martin Scorsese :0)

O CHEIRO DO RALO, de Heitor Dhalia

EU NÃO QUERO DORMIR SOZINHO, de Tsai Ming-Liang :0)

SHORTBUS, de John Cameron Mitchell :0)

NOTÍCIAS DO LAR/NOTÍCIAS DE CASA, de Amos Gitai

VOLVER, de Pedro Almodóvar :0)

HALF MOON, de Bahman Ghobadi

STILL LIFE, de Jia Zhang-Ke

PARIS, TE AMO, de Vários Diretores


(Trilha Sonora: Aimee Mann - One More Drifter In The Snow)

Não Verei Dália Negra

(Este post é para Daniela Noyori, a faísca que provocou o incêndio)

"Dália Negra" tem tudo para ser um grande filme. Baseado na obra de James Ellroy, conta a história real de Elizabeth Short, uma mulher que, na década de 40, foi para Hollywood em busca do sonho de ser atriz. Sonho nunca realizado. Beth (como era mais conhecida) conseguiu apenas frequentar festas com alguns poderosos do mundo do cinema. E só. Ela foi brutalmente assassinada. Seu corpo (ou o que sobrou dele) foi encontrado em um terreno baldio. Tinha 22 anos. O caso nunca foi solucionado.

É a história perfeita para a exposição das entranhas da indústria cinematográfica americana. E uma oportunidade rara de recriar a atmosfera noir com toques mais modernos. No papel é, portanto, tudo muito bonito. Não fosse pelo nome de Brian De Palma.

Ele sempre foi considerado o maior discípulo de Alfred Hitchcock, um jovem cineasta que, inspirado pelo "Mestre do Suspense", teria um futuro brilhante. Vejamos.

Seu primeiro filme a chamar atenção foi "Carrie", de 1976, 12 anos após sua estréia, "The Wedding Party". A adaptação do texto de Stephen King é visceral, assustadora e, sim, promissora. Havia, enfim, inteligência no terror. O que viria pela frente?

1980. Brian De Palma lança "Vestida para Matar", que, com eficiência e virtuosismo, traz um pouco do clima de "Psicose", com muita neurose no ar. E neurose com toques atuais, já que envolvia até o medo de contrair doenças venéreas, ou ciprianofobia.

1981. Logo na seqüência de "Vestida para Matar", De Palma surge com "Um Tiro na Noite", que é seu melhor filme até hoje. E como ele encarou bem o sucesso e produziu uma obra assim, tão descompromissada, tão avessa a vôos mais altos! "Um Tiro na Noite" parece o trabalho de um estudante de cinema recém-formado, que viu o que tinha de ver e absorveu as melhores influências possíveis. "Um Tiro na Noite" é "Janela Indiscreta", mas com som.

1983. "Scarface". Atualização violentíssima do clássico de Howard Hawks, era um passo dado em uma outra direção. Apesar dos excessos, ainda não apontava a decadência que estava por vir.

1984. De Palma volta ao suspense com "Dublê de Corpo", que une as histórias de "Janela Indiscreta" e "Um Corpo que Cai". É um filme um tanto irregular, e por ser pretensioso demais. A intenção foi sufocada.

1986. "Quem Tudo Quer, Tudo Perde". Filme que esqueci horas depois de ter visto. O título é, no entanto, profético.

1987. "Os Intocáveis". O trabalho mais aclamado de Brian De Palma, considerado por muitos um dos melhores filmes da década de 80. É mesmo de arrepiar, para o bem.

Vamos ficar por aqui.

Depois de 1987, a lista de filmes de Brian De Palma é mesmo de arrepiar, mas para o mal: "Pecados de Guerra", "Fogueira das Vaidades", "Síndrome de Caim", "O Pagamento Final", "Missão Impossível", "Olhos de Serpente", "Missão: Marte" e "Femme Fatale".

Desafio qualquer um a encontrar um filme nota 5 na lista acima!

O diretor de "Vestida para Matar", "Um Tiro na Noite" e "Os Intocáveis" é o mesmo de "Fogueira das Vaidades", "Síndrome de Caim" e "Missão: Marte"?

Não!

Brian De Palma só é um grande cineasta quando está apoiado nos ombros de gigantes. Quando tenta fazer as coisas de seu jeito fica perdido em seu malabarismo estéril e sua latente falta de criatividade.

E morre a velha teoria de que Brian De Palma é discípulo de Hitchcock, ou de que presta homenagens a grandes diretores. A verdade que seus filmes atuais mostram é que ele só é bom quando rouba idéias de outros. O assassino de "Vestida para Matar" é um "wannabe" de Norman Bates. A personagem de John Travolta em "Um Tiro na Noite" saiu do James Stewart de "Janela Indiscreta". No lugar da fotografia, o som. A personagem de Craig Wesson em "Dublê de Corpo" vem do James Stewart de "Um Corpo que Cai", mas com uma fobia diferente (de acrofobia para claustrofobia). E a seqüência de "Os Intocáveis" na estação de trem de Chicago? É igual à do massacre nas escadarias de Odessa, retratado em "O Encouraçado Potemkin", de Sergei Eisenstein. Até o carrinho de bebê está lá... E não é um tributo! É cópia! É falta de criatividade! É preguiça de ter uma boa idéia, de encontrar uma solução!

Eu desisti de Brian De Palma depois de "Missão:Marte". O diretor que já fez parte da minha lista de favoritos nada mais é do que uma sombra. Pior. Para mim, Brian De Palma é apenas um plagiador de primeira. Ou de segunda.


Sobre a Dália Negra

O nome Dália Negra veio do hábito que Beth Short tinha de usar apenas roupas pretas.

Tem muita gente que diz ter desvendado o mistério. O sítio blackdahliasolution.org, por exemplo, revela que o assassino é um tal de Ed Burns (Ou Marice Clement), um dos amigos favoritos da Dália Negra. Ed teria transformado Beth Short em um cavalo, em uma "Black Beauty", como diz o sítio em uma explicação para a violência do crime (?!).

Há também quem diga que o assassino é Orson Welles (?!).

Encontrei fotos grotescas da Dália Negra, algumas tiradas pela polícia ainda no local do crime e outras da autópsia. Apenas imaginem. Acima, uma foto da bela Beth Short.

(Trilha Sonora: Rose Melberg - Cast Away The Clouds e Portola)

sábado, outubro 14, 2006

3 Horas e 18 Minutos

Foi o tempo em que fiquei na fila para comprar os ingressos para a 30ª Mostra Internacional de Cinema. Deixando um pouco de lado a qualidade da programação, que comentarei em breve, algumas considerações sobre a organização do evento:

1. Por que temos de ser fotografados, ganhar credenciais e ingressos com nomes impressos? Não há nada mais moderno? Qual o sistema utilizado em outros festivais pelo mundo afora?

2. Por que a internet é tão precariamente utilizada?

3. Por que o contrato tem de ser preenchido e assinado ano após ano? Não seria mais fácil criar um banco de dados com as informações de todos e apenas confirmá-las na hora da compra?

4. Por que os pacotes têm ingressos "pessoais e intransferíveis"? Como os bilhetes estão pagos antecipadamente, tanto faz quem vai entrar na sala de cinema. Ou não?

5. Por que não aceitar cartões de crédito e débito?

Vou encaminhar estas perguntas à organização da Mostra. A resposta será publicada aqui, se vier, claro.

Acima, o cartaz deste ano, assinado por Manoel de Oliveira.

(Trilha Sonora: Melissa Auf Der Maur - Auf Der Maur)

Sem Palavras!

sexta-feira, outubro 13, 2006

Ciao, Gillo!

Gillo Pontecorvo não está mais entre nós... Ele morreu na quinta-feira passada, aos 86 anos, em Roma. Em tempos conturbados, fico com a veemência política e social que pulsava de seus filmes. O melhor de todos, sem dúvida, "A Batalha de Argel", uma obra-prima.

Na foto acima, Gillo no set, ao telefone.

(Silêncio)

Natal Antecipado


Como fã ardoroso, já estou com o novo CD da Aimee Mann, "One More Drifter In Snow", que só será lançado no dia 24 de outubro. Esse mesmo da capa fofa aí do lado. :0)

Discos de Natal são parte da tradição americana de fim de ano. Você pode até achar que canções natalinas não têm muito a ver com o trabalho da Aimee Mann. Mas o resultado é genial. Ela recria com admiração e respeito alguns temas clássicos (o melhor é "You're a Mean One, Mr. Grinch!") e ainda nos presenteia com uma música inédita, "Calling On Mary".

É isso. Chegou a vez da Aimee. E, para variar, mandou muito bem. Aliás, a primeira década do século XXI é só dela. Em 2002, "Lost In Space", um álbum espetacular. Em 2005, "The Forgotten Arm", um disco conceitual ousadíssimo que conta a história de amor entre um boxeador alcoólatra, John, e Caroline. Um tour-de-force com vários momentos sublimes. E espero novidades para 2007. Quem sabe?

Além de sua indiscutível capacidade musical, ela é hoje a mais talentosa letrista do mundo. E de longe. Para quem tem dúvidas, vale uma cuidadosa revisão de "Magnólia", a obra-prima de Paul Thomas Anderson baseada nas personagens criadas pela Aimee Mann.

Para fechar, só garanto que meu Natal vai ser muito feliz este ano!

(Trilha Sonora: Aimee Mann - One More Drifter In The Snow)

Johnny Guitar - Nicholas Ray

Minha paixão por cinema começou bem cedo. Tinha entre 10 e 12 anos. Desde então, nunca parei de ver e rever filmes. E há tempos não retomava "Johnny Guitar", de Nicholas Ray. Nada menos que uma obra-prima! Fantástico!

É até estranho lembrar que a produção foi massacrada pela crítica americana, que esperava ver um faroeste convencional. E "Johnny Guitar" não tem nada de convencional. O tema principal é, quem diria, o amor. O conflito nasce da rivalidade entre duas mulheres, que, a cada minuto, ganha novas cores.

Nos papéis principais estão a durona Joan Crawford, que dispensa apresentações, e a diabólica Mercedes McCambridge (que anos depois faria a voz do diabo em "O Exorcista"). O Johnny Guitar do título, interpretado por Sterling Hayden, é só o terceiro em escala de importância.

O público também não gostou muito. Mas eis que surgiram os jovens franceses e tomaram a linha de frente na defesa de Nicholas Ray. O líder do "movimento" foi François Truffaut, que resumiu: "Se você não gostou de Johnny Guitar, por favor, deixe de ir ao cinema".

Como Truffaut é meu mestre, acompanho humildemente sua avaliação.

"Johnny Guitar" é 10. E a nota, raríssima.

Na foto, Crawford e Hayden.

(Trilha Sonora: Aimee Mann - Acoustic Aimee)

quinta-feira, outubro 12, 2006

Hora do Jantar!

*** Blog é mesmo um vício ... :0)

Estava agorinha mesmo preparando meu jantar. E parei alguns minutos na frente da TV.

E, na Fox, encontrei "O Gato" (The Cat In The Hat). Vi uns 20 minutos.

Duas rápidas impressões:

1. Dakota Fanning é a coisa mais fofa do mundo. Além de ser uma atriz excepcional. Não será surpresa alguma uma indicação ao Oscar no início do ano que vem. Ela acaba de encerrar sua participação em um drama barra-pesada dirigido por Deborah Kampmeier, ainda sem título. O filme estréia dia 29 de novembro, em Nova York, Estados Unidos.

2. Mike Myers dá um show no papel do Gato de Cartola. Outro comediante que brilhou em uma adaptação de Dr. Seuss foi Jim Carrey, que fez o Grinch.

Impressão Bônus: Foram 20 minutos bem razoáveis até...

Na foto acima, Myers e Fanning em "O Gato".

(Trilha Sonora: The Dresden Dolls - The Dresden Dolls)

O Novo Mundo - Terrence Malick

Acabo de ver "O Novo Mundo", de Terrence Malick. O que mais impressiona é a velocidade com que o diretor produziu o filme. Para contar a história de Pocahontas, levou menos de 10 anos. De "Cinzas no Paraíso", de 1978, até "Além da Linha Vermelha", de 1998, foram 20 anos de intervalo (caso minha matemática não esteja errada).

Malick é assim mesmo. Um cineasta bissexto. E recluso. Não aparece em festivais, entregas de prêmios, fotos ou imagens de bastidores. Também não dá entrevistas. Uma figura tão difícil quanto talentosa. Mas, enfim, vamos ao filme.

A crítica*, na época do lançamento, foi quase unânime em dizer que "O Novo Mundo" não tinha nada de especial. Não concordo. A produção é, sim, ingênua. O choque entre as civilizações parece ser um tanto óbvio. Os primeiros 40 minutos estão dedicados a mostrar quão fantástico é o tal "novo mundo", uma utopia real. Depois passa a destruir o mito da civilidade (?) do homem moderno.

Mas deixemos de lado as implicações antropológicas do filme. Eliminando a ingenuidade e a obviedade, Malick oferece tudo o que se poderia esperar dele. Grandes planos gerais, compostos com a maestria de sempre, montados em longas seqüências, o que reforça a experiência visual única de seus trabalhos. Tudo embalado por uma produção cuidadosa (com exceção do figurino indígena, correto demais) e performances bem convincentes.

Por enquanto, sem pensar muito, e ainda sob o impacto inicial, é isso.

Belo filme. De 0 a 10, leva um 7,75. :0)

Mas é o pior dos Malicks que vi. Em ordem: "Cinzas no Paraíso" (impecável!), "Além da Linha Vermelha" (primoroso!) e "O Novo Mundo" (quase lá!).

Acima, o pôster teaser. Dizem por aí que os índios olharam para o mar e não viram os navios que chegavam. Simplesmente porque tais imagens não faziam parte de seu repertório cultural. Será?


* A crítica de cinema é burra! Volto ao assunto em breve...

(Trilha Sonora: Mia Doi Todd - The Golden State)

Boulevard des Capucines

O primeiro post do Blog "On The Boulevard des Capucines" tem de iluminar minhas intenções futuras, começando, obviamente, pelo título escolhido.

O Boulevard des Capucines fica em Paris, na França. No dia 28 de dezembro de 1895, no Salão Indiano do Grand Café, número 14 do Boulevard des Capucines, eram projetadas as primeiras imagens em movimento. Nascia o cinema. Com 33 testemunhas.

E quem assume a paternidade? Os irmãos Auguste e Louis Lumière. Mas tal paternidade deve ser questionada. Afinal, o homem sonhava em criar movimento desde que pintava nas paredes das cavernas.

O cinema é uma criação coletiva, que surge de uma necessidade humana primordial. É através de suas imagens que nos vemos, nos conhecemos e nos reconhecemos.

Este será um espaço de discussões sobre cinema, música e artes em geral.

Estaremos todos em um Salão Indiano virtual, perdido em um dos milhões de sítios da internet, com as luzes apagadas... No lugar do piano, um pouco de tudo. E vamos viajar!

Acima, o Boulevard des Capucines, em 1873, retratado por Claude Monet. A pintura faz parte da série Gare Saint-Lazare e está no acervo do Museu de Arte Nelson-Atkins, em Kansas City, Missouri, Estados Unidos.

(Trilha Sonora: Motörhead - Ace Of Spades)