On The Boulevard des Capucines

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quarta-feira, novembro 29, 2006

O Sacrifício de Robert Altman

A morte de Robert Altman veio assim, de repente, e – confesso – me pegou bastante desprevenido. Passei horas e horas pensando sobre o significado da perda para o cinema americano, para o cinema mundial e tal e coisa. Sobre isso, há pouco a acrescentar. Mas não sobre a sua despedida.

“A Última Noite”, que já mereceu um post neste blog, é – nas palavras do próprio Altman – um filme sobre a morte. “A Última Noite” conta – como o título em Português deixa bem claro – a derradeira noite de um programa de rádio, daqueles da velha guarda, ao vivo, com efeitos sonoros e platéia. Entre os personagens, um anjo que vem para anunciar – vejam só – a morte.

E “A Última Noite” ganhou, para mim pelo menos, uma nova dimensão.

Em 1986, o cineasta russo Andrei Tarkovsky realizou “O Sacrifício”, sua obra-prima. É um filme sobre a morte, feito por um artista que sabe que vai morrer. As filmagens foram realizadas entre idas e voltas de hospitais, em uma luta inglória contra o câncer. O trabalho passou para a história como um testamento, como uma mensagem a seus filhos. Com a história real por trás da ficção das telas, o filme ganha uma dimensão ainda maior que a sua própria ambição.

Voltemos ao Altman... “A Última Noite” é o filme de alguém que busca lidar com a morte, tão infalivelmente próxima? Ou tudo não passa de uma dessas coincidências?


(Trilha Sonora: Michael Penn – March)

sábado, novembro 25, 2006

Werner Herzog

Acho que já falei em algum post que gosto de cinema desde os 10 anos. Mas demorei um pouco para conhecer a arte por trás das telas. Quando conheci, comecei a (tentar) ver todos os filmes disponíveis de todos os grandes cineastas. E de fazer anotações sobre cada um dos diretores. Poucos escritos sobreviveram ao tempo. Um deles, de anos e anos atrás, é uma nota rápida sobre Werner Herzog, o meu preferido dentro do Novo Cinema Alemão. Como acabei de passar pelo seu mais recente trabalho, “O Homem Urso”, resolvi digitalizar o texto, mesmo antigo. Acho que tem tudo a ver com o documentário, que é ótimo, principalmente para quem acompanha a carreira de Herzog. “O Homem Urso” é Herzog puro, de ponta a ponta. Vamos lá:

“O cinema de Werner Herzog trata de dois temas principais: o homem privado do convívio normal com a sociedade e a obsessão e suas conseqüências. Sua obra pode ser resumida na cena de abertura de “O Enigma de Kaspar Hause”. O personagem, em um porão, vive acorrentado, longe do mundo. Mesmo nos filmes sobre a obsessão, seus retratados vivem distantes.

Werner Herzog, parte do triunvirato do Novo Cinema Alemão (com Wenders e Fassbinder), encontrou em Klaus Kinski seu principal instrumento. Este genial ator, um dos melhores do mundo em todos os tempos, colaborou na bastante na construção de uma cinematografia forte e consistente, com muitas bases no realismo (e no engajamento) dos documentários.”

De volta. “O Homem Urso” tem tudo o que descrevi acima. O “Homem Urso” do título é um homem obcecado, que, cansado do que a sociedade o oferece, priva-se do convívio “normal” para morar ao lado dos ursos. Poderia ser ficção. Poderia ter Kinski no papel principal. Fantástico.

Acima, uma foto de Herzog no Brasil, quando filmava "Fitzcarraldo".


(Trilha Sonora: Lard - The Last Temptation Of Reid)

quinta-feira, novembro 16, 2006

New Order

São raras as oportunidades de ver, ao vivo, a performance de bandas que mudaram a cara do rock. Em minha lista estão, por enquanto, os Rolling Stones, os Ramones, o Bob Dylan e o David Bowie. E agora tenho o prazer de acrescentar o New Order.

O show dos caras por aqui foi antológico, apesar de o som não ter colaborado muito. Mas é a experiência que conta. Estar ali, no meio da multidão, ouvindo o New Order tocar "Transmission", "Atmosphere" e "Love Will Tear Us Apart" é indescritível. Imagino quando eles ainda eram o Joy Division...

E depois veio a sessão nostalgia, com "True Faith", "Bizarre Love Triangle" e, claro, "Blue Monday". New Order entra não apenas na minha lista de bandas fundamentais que já vi. Mas também na lista dos meus melhores shows.

Na foto, o baixista Peter Hook. O que seria do New Order sem ele?

(Trilha Sonora: Joy Division - Heart And Soul)

quarta-feira, novembro 15, 2006

David Lynch X Jean-Luc Godard

Jean Luc Godard é um dos mestres do cinema moderno. Ele foi, ao lado de François Truffaut, o nome mais importante da revolução que mudou o jeito de filmar na década de 60, atacando as super-produções e aproximando as obras da vida cotidiana. Enquanto Truffaut continuou firme na estrada que havia construído, Godard preferiu a busca de novas rotas. Em um primeiro momento, adotou uma visão política bastante incomum aos seus colegas da Nouvelle Vague. Mas, logo depois, as questões socias perderam espaço para discussões sobre o próprio cinema.

E aí Godard fechou seus filmes para o mundo. O hermetismo de seus mosaicos são interessantes para estudantes de cinema, acadêmicos anarquistas e intelectualóides. Foram estes mosaicos que fizeram de Godard um adjetivo, usado até em letras de músicas, e que pode ser traduzido como "chato" ou "incompreensível". Um rótulo que, aliás, contaminou todo o cinema francês. É muito comum em uma roda de bar ouvirmos alguém falar que não gosta de filmes produzidos na França (mesmo sem ter visto ao menos um). A culpa é do Godard. Jean-Luc Godard virou uma caricatura de si mesmo. Ele faz "filmes de Godard".

Na lista de famosas rivalidades, minha posição é bem clara. Entre Coca-Cola e Pepsi, sou Coca-Cola. Entre Beatles e Rolling Stones, sou Beatles. Entre Truffaut e Godard, sou Truffaut.

Falemos de David Lynch. Uma figura das mais interessantes do cinema americano dos últimos anos, autoral como poucos em Hollywood. Mas ele está virando uma caricatura de si mesmo, assim como Godard. Está rolando no YouTube um vídeo com o cineasta fazendo a divulgação de seu novo trabalho: "Inland Empire". Como é a divulgação? Lynch fica sentado em uma esquina de Los Angeles, ao lado de uma vaca e um cartaz com os dizeres "Sem Queijo Não Haveria Inland Empire". A quem pergunta, Lynch responde que "o queijo é feito de leite".

Patético.

Ridículo.

Lynch, assim como Godard, fez uma opção artística: desafiar, afrontar o público com seu cinema, fazer a audiência pensar, entrar em seus sonhos esquizofrênicos. Os exemplos mais claros são "A Estrada Perdida" e "Cidade dos Sonhos", que, apesar de incompreensíveis, são uma experiência única. Mas será que tudo não passou de uma caricatura? De uma forma de chamar a atenção? De uma vaca na coleira? Enfim... Para onde vai a carreira de Lynch?

Com todo o respeito, Sr. Lynch... Largue a vaca e vá plantar batatas!

Acima, o artista fazendo pose (sem a Mimosa).

(Trilha Sonora: Joy Division - Heart And Soul)

domingo, novembro 12, 2006

Filmes Bons e Filmes Legais

Há uns posts, comentei a morte do cinema e a pobreza dos críticos de hoje em dia. Entre outras afirmações, disse que os atuais só sabem fazer guias do tipo "o melhor do fim de semana nas telas". Mas nem isso... Muitos dos pensadores de nossos dias não sabem diferenciar um filme legal, que é puro entretenimento, de um filme sério, que é uma forma de expressão artística. Aí vemos aberrações como os elogios à filosofia oriental impressa em "O Tigre e o Dragão" e à profundidade das questões da juventude levantadas em "O Homem-Aranha 2". Essas questões existem? Sim. Estão lá nos filmes? Sim. São relevantes cultural ou artisticamente? Não. As obras citadas são, em ordem, um drama explosivo de artes marciais e uma aventura adolescente de tirar o fôlego. São filmes legais. Sim. E ponto final. São bons filmes? Estou aberto a argumentos...

Cinema é arte e/ou entretenimento. Alfred Hitchcock era arte e entretenimento. Ingmar Bergman é arte. George Lucas é entretenimento. Tobe Hooper é entretenimento.

E foi um episódio dirigido por Tobe Hooper para a série de televisão "Masters of Horror" que vi na madrugada de ontem, no FX. "Dance Of The Dead" mostra o mundo após a Terceira Guerra Mundial e as estranhas formas de diversão que surgem em meio ao caos. O resultado é decepcionante. Hooper parece desesperado em parecer moderno, abusando de efeitos gráficos, de enquadramentos não-convencionais e de uma montagem radicalmente rápida. Com a trilha sonora de Billy Corgan, o episódio é como um alucinado clip dos Smashing Pumpkins em raro momento speed-metal. Enfim...

É estranho que Tobe Hooper esteja entre os "Mestres do Horror". Ele surgiu para o cinema em 1974, com o seminal "O Massacre da Serra Elétrica", dos melhores do gênero. Depois, em 1982, dirigiu "Poltergeist", dos mais inteligentes filmes de terror já feitos, escrito e produzido por Steven Spielberg. Anos depois, é óbvio que foi Spielberg quem tomou as câmeras das mãos de Hooper, que não tinha lá muito talento para conduzir esta história sobrenatural.

"Dance Of The Dead" só confirma esta antiga impressão. Tobe Hooper já foi legal...

Na imagem acima, o doentio Robert Englund, o melhor de "Dance Of The Dead".


(Trilha Sonora: Flashdance)

sábado, novembro 04, 2006

30ª Mostra Internacional de Cinema - O Balanço

Ufa ...

Acabou. A maratona nem foi tão cansativa assim, mas estou ficando velho. E o público "muderno descoulers" (como diz MariMari em sua Casa no Mato - http://casanomato.blogspot.com/), que vai aos filmes como quem vai a uma baladinha qualquer, ajuda bastante. Enfim...

Foram 25 filmes. Por R$220,00. Segundo a minha matématica, R$8,80 por sessão. Justo.

A premiação oficial ficou assim:


Prêmios do Júri

Melhor Filme: O Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia

Prêmio Especial: O Violino, de Francisco Vargas (México) com menção especial para o ator Don Angel Tavira

Melhor Ator: Adel Imam, por O Edifício Yacoubian (Egito)

Melhor Atriz: Maria Lundqvist, por Minha Vida Sem Minhas Mães (Finlândia)

Menção Honrosa (pela elaboração visual): O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hamburger (Brasil)

Categoria Internacional: Hamaca Paraguaya, de Paz Encina (Paraguai/França/Argentina/Holanda)

Categoria Nacional: O Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia


Prêmios do Público

Melhor Curta Brasileiro: Primeira Vez, de Fabrício Bittar

Melhor Média Brasileiro: Deus e o Diabo em Cima da Muralha, de Tocha Alves e Daniel Lieff

Melhor Longa Estrangeiro de Ficção: Rosso Come il Cielo, de Cristiano Bortone (Itália)

Melhor Documentário Estrangeiro: Uma Verdade Inconveniente, de Davis Guggenheim (EUA)

Melhor Curta Estrangeiro: Eu Quero Ser Piloto, de Diego Quemada-Diez (Quênia/México/Espanha)

Melhor Média Estrangeiro: Jana Sanskriti – Um Teatro em Campanha, de Jeanne Dosse (França)


E a minha premiação ficou assim:


Melhor Filme: "Still Life", de Jia Zhang-Ke

Melhor Diretor: Tsai Ming-Liang, por "Eu Não Quero Dormir Sozinho"

Prêmio Especial: "Babel", de Alejandro González Iñárritu

Melhor Ator: Don Angel Tavira ("O Violino")

Melhor Atriz: Hermila Guedes ("O Céu de Suely")

Menção Honrosa: "O Labirinto do Fauno", de Guillermo del Toro

Categoria Internacional: "Eu Não Quero Dormir Sozinho", de Tsai Ming-Liang

Categoria Nacional: "O Céu de Suely", de Karim Aïnouz

Mico: "Electroma", de Guy Manuel de Homem Christo e Thomas Bangalter


(Trilha Sonora: Toy Dolls - Bare Faced Cheek)

O Céu de Suely


A estréia de Karim Aïnouz (brasileiro de Fortaleza, no Ceará) como diretor não poderia ter sido melhor. "Madame Satã" é um dos filmes mais impressionantes da nova safra do cinema nacional. A expectativa por seu retorno às camêras era enorme. E valeu a espera!

"O Céu de Suely", que conta a história de Hermila e de seu retorno ao interior do Ceará depois de uma temporada em São Paulo, é quase o oposto de "Madame Satã". De uma metrópole a uma pequena cidade. De um mito da subversão a um cidadão comum. Da noite ao dia. As mudanças não afetaram em nada o trabalho de Karim, que continua soberbo.

Para manter a tradição, ele agora revela a excepcional atriz Hermila Guedes (que faz o papel de, surpresa, Hermila, na imagem acima). Anos atrás, havia sido Lázaro Ramos.


(Trilha Sonora: Toy Dolls - Dig That Groove Baby)

Juventude em Marcha

O título do filme poderia ser "Still Life", com o de Jia Zhang-Ke (leia o post). "Juventude em Marcha", de Pedro Costa, faz um recorte na vida dos cabo-verdianos que vivem em Fontainhas, um bairro pobre de Lisboa. Por que recorte? Porque não há uma narrativa bem definida, mas apenas uma sequência de eventos cotidianos com o personagem principal, Ventura.

A ausência de uma história é bastante prejudicial. Ver "Juventude em Marcha" é quase como chegar de penetra, de repente, a um almoço de domingo na casa de qualquer família de origem portuguesa. Você vai acompanhar uma discussão, uma risada, um momento de silêncio etc. E nada vai parecer fazer muito no sentido no final.

O maior destaque da produção são os atores, todos não-profissionais, interpretando os seus próprios papéis. O desempenho impressiona. O fime, nem tanto.

Na imagem, Ventura em Fontainhas.


(Trilha Sonora: Slayer - Reign In Blood)

O Grito das Formigas

Mohsen Makhmalbaf é a "ovelha-negra" do cinema iraniano. Seus filmes são diferentes de todo o resto da produção de seu país, que surgiu como um novo neo-realismo. Ele é homem de sonho, de fantasia. Suas narrativas são repletas de metáforas. Os melhores exemplos são "Gabbeh", um poema visual sobre as cores da vida, e "O Silêncio", onde o som é o personagem principal. Mas as "ilusões" da vida não são o que o cineasta tem de melhor. Em "O Caminho Para Kandahar", há uma forte preocupação em retratar a realidade como ela é, sem retoques.

Esta mesma preocupação aparece em "O Grito das Formigas". Makhmalbaf vai à Índia contar a história de um casal iraniano em Lua de Mel. A mulher busca uma revelação espiritual enquanto o homem questiona sua fé. Durante a viagem, o diretor faz um retrato devastador da pobreza e suas implicações religiosas. Nestes momentos, o filme é um documentário. Brilhante. Mas, como em outros trabalhos, perde força na ficção.

Mohsen Makhmalbalf é muito melhor quando sai de seus mundos oníricos.

Na imagem, o homem que consegue parar trens com os olhos.

(Trilha Sonora: The Datsuns - Smoke & Mirrors)

Little Red Flowers

As "florzinhas vermelhas" do título são as estrelinhas que ganhávamos aqui das professoras por uma lição-de-casa bem feita. Na China, no final da década de 40, o prêmio era, além de uma singela recompensa, uma forma cruel de avaliação. É no meio deste sistema militar de Jardim de Infância que encontramos o garoto Qiang, personagem central da história.

O diretor Zhang Yuan tinha um bom material nas mãos. Mas fragmentou a narrativa, deixando o carisma de seu filme restrito às crianças, o que é, no mínimo, apelativo. A trama começa pela obsessão que Quiang desenvolve pelas "little red flowers". Depois, vemos o menino espalhar um boato entre seus coleguinhas de que a professora é um monstro devorador de crianças (estamos na China comunista...). No final, vemos sua transformação em um rebelde sem causa.

São, portanto, três médias-metragens com o mesmo personagem. E apenas o primeiro, o das florzinhas vermelhas, vale ser visto.

O pôster escolhido (acima) mostra momentos de iniciação sexual no Jardim de Infância.


(Trilha Sonora: The Datsuns - Smoke & Mirrors)

quinta-feira, novembro 02, 2006

O Violino

A história de "O Violino" é bonita também fora das telas. Com muitas dificuldades, o diretor mexicano Francisco Vargas conseguiu rodar um média-metragem e levá-lo a uma mostra paralela do Festival de Cannes. O filme chamou atenção. Houve, então, a urgência de completá-lo. Passando mais uma vez pelas mesmas dificuldades, Vargas reuniu o elenco e a equipe técnica para filmar o restante de sua obra, voltou a Cannes e saiu da Un Certain Regard com o prêmio de Melhor Ator para Don Angel Tavira, que interpreta Plutarco, um velho violinista que não tem uma das mãos. Na vida real, ele é músico - professor de violino - e não tem uma das mãos.

Nas telas, a história da guerrilha campesina mexicana em sua luta contra os militares mexicanos é linda. Apesar de um pouco irregular (há duas tramas paralelas que convergem para um mesmo ponto - a do violinista e a da guerrilha), o filme é - como um todo - surpreendente. A produção ganhou cinco prêmios no Festival de Gramado e deve repetir a festa na Mostra de Cinema. Como o diretor foi convidado às pressas para vir a São Paulo, desconfio que o troféu Bandeira Paulista já tem dono. :0)

Na imagem acima (colorida apesar de o filme ser preto-e-branco), Don Angel Tavira (Plutarco), seu violino e sua interpretação naturalista de tirar o fôlego.

(Trilha Sonora: Bic Runga - Birds)

Hollywoodland - Bastidores da Fama

George Reeves era um ator frustrado. Apesar de ter trabalhado em "E O Vento Levou" e "A Um Passo da Eternidade", ficou marcado por seu atuação na pele (?) do homem de ação na série de televisão "Superman". Em 1959, ele foi encontrado morto em sua cama, com um tiro na cabeça. A história real é a inspiração para uma trama policial de um amadorismo brutal, comandada por Allen Coulter, que nunca deveria ter tentado ir para a tela grande (ele é diretor de TV - e todos sabemos que para ser diretor de TV basta saber duas palavras: "action" e "cut").

Como não tem talento algum, Coulter copia descaradamente a estrutura narrativa de "O Reverso da Fortuna", onde Barbet Schroeder (que também está longe de ser um bom cineasta) investiga uma série de diferentes suposições sobre a história real do milionário Klaus von Bulow (Jeremy Irons - Oscar de Melhor Ator), acusado de tentar matar a esposa.

"Hollywoodland" foi exibido no último Festival de Veneza. E Ben Affleck ganhou o prêmio de Melhor Ator. O pior é que ele está, mesmo, muito bem no papel do primeiro homem a ficar famoso por interpretar o Super-Homem. Aí já não há mais nada a ser dito sobre o filme.

Uma vergonha...

Na foto, Adrien Brody, patético no papel de um detetive de quinta categoria.


(Trilha Sonora: Bic Runga - Birds)

Eu Não Quero Dormir Sozinho

O cineasta italiano Michelangelo Antonioni é um dos vértices de minha santíssima trindade, junto com François Truffaut e Ingmar Bergman. Há muito tempo, os críticos o rotularam como o "poeta da incomunicabilidade". A trilogia formada pelos filmes "A Aventura", "O Eclipse" e "A Noite" mostrava pessoas vivendo isoladas em seus próprios mundos, em meio à indeferença da sociedade que as cerca. O sucessor de Antonioni é Tsai Ming-Liang.

O diretor malaio é o poeta moderno da incomunicabilidade. Até a forma de seus filmes reforçam esta idéia, tratada de maneira muito mais radical: câmera fixa, planos longos, ausência de elipses e diálogos. É a conspiração do silêncio. "Eu Não Quero Dormir Sozinho" segue a cartilha e entra na lista dos trabalhos mais representativos dos últimos 20 anos pelo retrato poético que faz do afastamento e do isolamento que vivemos ( ficando ao lado de "Vive L'Amour" - sua obra-prima -, "O Rio", "O Buraco" e "Que Horas São Aí?").

Tsai Ming-Liang é hoje o melhor cineasta do mundo.

Na imagem acima, homens em momento de incomunicabilidade.


(Trilha Sonora: Iron Maiden - A Matter Of Life And Death)

Still Life

A China vive mais uma revolução, agora econômica. Seu crescimento é pujante. Sua posição no mundo cada vez mais destacada. Um dos marcos deste dragão que surge é a usina hidrelétrica de Três Gargantas (aquela que vai fazer Itaipu parecer um brinquedo de criança). O diretor Jia Zhang-Ke, do inesquecível "Plataforma" e de "O Mundo", escolheu uma das cidades diretamente atingidas pela obra como cenário de seu filme "Still Life", Leão de Ouro no último Festival de Veneza. E mesmo a cópia digital (de péssima qualidade) exibida durante a Mostra de Cinema não conseguiu estragar a produção ou tirar seu impacto.

A pintura da natureza que morre embaixo das águas e das vidas que a acompanham é uma metáfora poderosa de nossas próprias relações. Still Life (o conceito artístico, de natureza morta), no filme, são os prédios em decomposição, as casas inundadas, as emoções afogadas, tratadas aqui sob a ótica de um trabalhador que busca sua ex-mulher e de uma enfermeira que procura pelo marido que não vê há dois anos. Fengjie, a cidade que está hoje condenada ao desaparecimento, além de ser o cenário destas histórias, é uma de suas personagens.

"Still Life" é um momento de rara beleza do cinema mundial. Fantástico.

No pôster, o trabalhador, a enfermeira e Fengjie.


(Trilha Sonora: Iron Maiden - A Matter Of Life And Death)

O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias

O período mais obscuro de nossa história é ainda muito recente. Uma parte de minha infância, por exemplo, foi vivida sob um regime de exceção, mesmo que eu não soubesse direito o que acontecia... O cinema tem, entre tantas outras, a característica de fotografar o momento de uma nação, seus ânimos, anseios, desejos. Durante uns bons anos, o retrato feito da ditadura foi duro, seco, cheio de raiva, violento. Mas o tempo passou. E hoje, como prova o diretor Cao Hamburger em seu segundo filme, "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", é possível rever o governo militar com leveza e poesia.

A trajetória do garoto Mauro, de apenas 12 anos, que é afastado de seus pais (revolucionários em fuga), marca a narrativa. E aqui não há como não fazer uma relação direta entre esta obra e "Pra Frente, Brasil", de Roberto Farias, de 1982. A época é a mesma: o Brasil durante a Copa do Mundo de 1970, engolido pela emoção do futebol. Mas o resultado é completamente diferente. Não há dúvida de que os dois são grandes filmes, separados apenas por seu tempo histórico.

"O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" já é das mais importantes produções de nossa cinematografia. Porque, enfim, deixamos para trás o rancor. Uma etapa foi vencida. A infâmia está definitivamente enterrada no passado.

Na imagem acima, o menino Mauro (o excelente Michel Joelsas) com a mãe, interpretada por Simone Spoladore.

(Trilha Sonora: Iron Maiden - A Matter Of Life And Death)