On The Boulevard des Capucines

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terça-feira, novembro 20, 2007

O Vírus do Ang Lee

Qualquer pessoa que tente fazer o download da versão sem cortes de "Lust, Caution", o novo "filmaço" do Ang Lee, merece ter o seu computador contaminado.

(Trilha Sonora: Moacir Santos - Choros & Alegria)

domingo, novembro 11, 2007

Pé na Tábua

O cineasta Claude Lelouch, de "Um Homem, Uma Mulher", de 1966, voltou a ser discutido, pelo menos aqui no Brasil, 40 anos depois de seu grande - praticamente único - filme. Ele ganhou uma retrospectiva na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, visitou a cidade, fez críticas à Nouvelle Vague (como bom diretor secundário, assim como Paulo César Saraceni já falou mal do Cinema Novo) e tal e coisa. Ele também está sendo lembrado por um curta-metragem de 1976, bacaníssima, e que rendeu ao francês uns dias na prisão por direção perigosa pelas ruas de Paris (sem trocadilhos - direção de carro mesmo): "C'était un Rendez-vous". Esta pequena obra foi utilizada - quase na íntegra - para o clipe de "Open Your Eyes", do Snow Patrol. Encontrei tudo no YouTube. O primeiro vídeo, logo aí embaixo, é o curta-metragem original, apenas com o ronco do motor. O segundo é o clipe do Snow Patrol. Pé na tábua!





quarta-feira, novembro 07, 2007

Reclamando dos Reclames

Duas constatações rápidas sobre propagandas exibidas atualmente em nossa televisão tupiniquim:

1. Que Ben Affleck é um ator ruim todos já sabem. Que é ruim até para comercial de desodorante todos acabam de descobrir. Coisa feia.

2. Usar o tema clássico de "O Poderoso Chefão", composto pelo gênio Nino Rota, em um comercial de mortadela é, no mínimo, para falar pouco, de uma extrema falta de respeito. Mau gosto mesmo.


(Trilha Sonora: Judas Priest - Painkiller)

sábado, novembro 03, 2007

(Beth) Balanço

O Beth do título é só para dar um ar legal, oitentista, para a nota... E também porque não pensei em nada melhor... Enfim...

Antes de entrar no balanço, peço desculpas pela demora e pelo pacote de posts. Principalmente para a Sílvia, que tem até RSS do meu blog, o que é uma honra. Ano que vem serei mais assíduo durante o evento. Estamos combinados? :)

Mais uma coisinha. Muitas das notas foram escritas entre uma e outra sessão. Algumas foram unidas depois. Não espere, portanto, nada além do superficial. Se você quiser discussões mais profundas, basta enviar um e-mail, ligar em meu celular ou me convidar para uma pizza.

Fechei a Mostra Internacional de Cinema com 27 filmes vistos, um número bem razoável para quem tem cada vez menos paciência. Alguns bons filmes, outros excepcionais, outros bem ruins. A premiação oficial ficou assim:


Melhor Filme – Prêmio do Júri
"O banheiro do papa", de Enrique Fernández e César Charlone

Prêmio Especial do Júri
"Truques", de Andrzej Jakimowski

Prêmio do Júri – Revelação
"Postales de Leningrado", de Mariana Rondón

Prêmio do Júri – Melhor Atriz
Carla Ribas, por "A casa de Alice"

Prêmio do Júri – Melhor Documentário
"Transformaram nosso deserto em fogo", de Mark Brecke

Prêmio do Júri – Melhor Curta Estrangeiro
"Em construção", de Zhenchen Liu

Prêmio do Júri – Melhor Curta Brasileiro
"O crime da atriz", de Elza Cataldo

Prêmio do Júri – Menção Especial (Curta)
"O pequeno Martin", de Violaine Bellet

Prêmio da Crítica
"A questão humana", de Nicolas Klotz

Prêmio do Público – Melhor Longa Estrangeiro de Ficção
"Into the wild", de Sean Penn
"Persépolis", de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud

Prêmio do Público – Melhor Documentário Estrangeiro
"O filme da rainha", de Sergio Mercúrio

Prêmio do Público – Melhor Longa Brasileiro de Ficção
"Estórias de Trancoso", de Augusto Sevá

Prêmio do Público – Melhor Documentário Brasileiro
"Pindorama - A verdadeira história dos Sete Anões", de Roberto Berliner, Leo Crivelare e Lula Queiroga

Prêmio do Público – Melhor Média-Metragem
"Cartas a uma ditadura", de Inês de Medeiros

Prêmio da Juventude (Festival da Juventude, estudantes do ensino médio)
"Postales de Leningrado", de Mariana Rondón

Prêmio Humanidade
Amos Gitai


A minha lista é um pouco diferente. Segue:


Melhor Filme
"Estômago", de Marcos Jorge

Melhor Filme Nacional
"Estômago", de Marcos Jorge

Melhor Filme Internacional
"A Retirada”, de Amos Gitai

Melhor Diretor
Brian De Palma, por "Redacted”

Melhor Atriz
Gong Li, por "A Maldição da Flor Dourada”

Melhor Ator
João Miguel, por "Estômago”

Melhor Documentário
"Sicko”, de Michael Moore

Prêmio Especial
"Across The Universe”, de Julie Taymor

Menção Honrosa
"Viagem a Darjeeling”, de Wes Anderson

Prêmio Revelação
"Persepolis", de Marjane Satrapi e Vincent Paronnaud

Mico
"Lust, Caution”, de Ang Lee


(Trilha Sonora: The Delgados - Peloton)

De “Hair” a “Across The Universe”

“Across The Universe” é o novo filme de Julie Taymor, diretora cheia de talento de “Titus” e “Frida”. É uma história de amor como várias outras, mas com a diferença de que é pontuada, contada e cantada por meio de canções dos Beatles. E aí é uma covardia! Para quem cresceu adorando os reis do ié, ié, ié, ver este musical é uma experiência única. Já seria, para ser sincero, apenas pelos Beatles. Mas a obra é muito mais...

Fazendo uma comparação indevida com “Hair”, o musical de Julie Taymor – pela primeira vez em seu habitat natural (ele foi diretora de musicais da Broadway) – vai discutindo com leveza os temas comuns aos jovens, as várias descobertas inerentes à idade. Sou radical em relação ao comportamento dentro de uma sala de exibição. Mas em “Across The Universe”, as regras deveriam ser quebradas. Todos estariam livres para bater palmas e cantar em voz alta. Seria uma catarse coletiva de lágrimas, sorrisos e abraços no maior estilo “flower power”: paz e amor no escurinho.

Na imagem acima, Lucy (Evan Rachel Wood) e Jude (Jim Sturgess).


(Trilha Sonora: Vários – Across The Universe)

Emoção em Quadrinhos Animados

“Persepolis” nasce de uma graphic novel muito famosa na França – já lançada no Brasil – pela lembrança carinhosa e ingênua da vida conturbada da autora Marjane Satrapi, que nasceu no Irã e foi “obrigada” a migrar para a Europa. Os quadrinhos foram animados e viraram um filme autobiográfico que transborda emoção, dirigido pela mesma Marjane Satrapi, em parceria com Vincent Paronnaud. Não por acaso, é o escolhido pela França para representar o país na disputa pelo Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira.

A história de Marjane, guardadas as devidas proporções, é um pouco a história de todos nós, de nossa formação. Olhando para trás e acompanhando a trajetória da fofíssima Marjane, fã de Bruce Lee e Iron Maiden, vemos as nossas revoluções, as nossas evoluções, os nossos ídolos, os nossos amores, os nossos aprendizados, as nossas quedas...

Como se já não bastasse, as personagens principais (mão e filha) são dubladas por Catherine Deneuve e Chiara Mastroianni, mãe e filha na vida real.

Belíssimo!


(Trilha Sonora: Vários – PMRC’s Filthy Fifteen)

Melodramas de Sangue

“A Casa das Cotovias” é o primeiro filme dos irmãos Taviani em quase 10 anos. Eu sou fã do trabalho de Paolo e Vittorio (na foto ao lado) . Na fila do cinema, tive de controlar a ansiedade tentando decorar a letra de “Chick Habit”, de April March, com meu iPod. Emoções assim, antecipadas, acabam por atrapalhar e prejudicar a percepção. Nos festivais pelos quais passou, a produção foi classificada pela crítica como excessivamente melodramática. Aqui no Brasil, Luiz Carlos Merten, o “Mestren” – dos poucos críticos que respeito, contra-atacou dizendo que é um melodrama sim, mas o melhor dos últimos 60 anos, desde Douglas Sirk. Infelizmente, fiquei decepcionado com o filme. Acho que o tal excesso de melodrama prejudica o resultado final, onde tudo parece desconexo, apesar de alguns bons momentos. Uma pena...

Por falar em melodrama, fui atraído para o filme “Amor Pulsa Mais Rápido que Sangue”, estréia do diretor japonês Hideki Kitagawa. É um melodrama moderno, que segue a tradição de auto-destruição por meio do sexo de filmes como “O Império dos Sentidos”, “Crônica de um Amor Louco” e “Matador”. A produção impressiona pela composição cuidadosa de cena, com imagens de raríssimo apuro plástico. E também pela mistura dos instintos de vida e morte. Prato cheio para Freud...


(Trilha Sonora: Portishead – Portishead)

Sobre Árabes e Israelenses

Amos Gitai é hoje o cineasta mais importante do Oriente Médio. A frase é repetida à exaustão por aí. É uma verdade, mas uma meia verdade. Amos Gitai é mais do que isso. É um dos cineastas mais importantes do mundo, rivalizando com Bernardo Bertolucci, Pedro Almodóvar e outros gênios.

Com “A Retirada” (filme já comentado neste blog), Amos Gitai realiza seu melhor trabalho desde “Kadosh”. Uma obra madura, de beleza inquestionável, sobre a desocupação dos colonos judeus da Faixa de Gaza, e pelo exército israelense. E do meio do caos da intolerância humana, um momento lírico, de poesia visual: o encontro da personagem de Juliette Binoche (na imagem acima) com a filha é lindo, com uma intensidade contida, reprimida, prestes a aflorar. (Por falar em Juliette Binoche, ela, para variar, é brilhante. Sua atuação naturalista em “A Viagem do Balão Vermelho” também é extraordinária).

Ainda sobre o conflito árabe-israelense, uma boa surpresa da Mostra Internacional de Cinema é o filme “A Banda”, do estreante Eran Kolirin, que trata do assunto com muito bom humor e uma sutileza de fazer inveja a muitos veteranos.


(Trilha Sonora: Emma Pollock – Watch The Fireworks)

O Excêntrico Wes Anderson

Wes Anderson apareceu de repente e logo foi alçado ao patamar de grande diretor. Tudo por causa de “Os Excêntricos Tenenbaums”, um filme cheio de gente esquisita e só. Logo depois, Anderson fez “A Vida Aquática de Steve Zissou”. Peguei pela metade na TV e nada chamou minha atenção.

Um pouco por obrigação e muito – muito! – por Natalie Portman, fui ver “Viagem a Darjeeling”. Confesso que fui para não gostar. Mas gostei! O cineasta dosou a excentricidade, criou personagens críveis, com passados e histórias para contar, e realizou um filme, no mínimo, simpático, daqueles para sair da sala de bem com a vida.

Apenas para não deixar assim, em branco, o filme é precedido por um curta-metragem, “Hotel Chevalier” (imagem acima), uma pequena introdução à trama central, com Natalie Portman, lindíssima e cheia de talento.


(Trilha Sonora: Vários – Viagem a Darjeeling)

Fantasias Orientais

O cinema chinês que surge com força comercial no ocidente ainda está contaminado com os vírus do tigre e do dragão. Depois do sucesso de Ang Lee, cineastas consagrados como Zhang Yimou e Chen Kaige aderiram à moda. Mas só Zhang Yimou acertou!

“Herói” e “O Clã das Adagas Voadoras” são filmes belíssimos, de coreografias impossíveis e uma verossimilhança fantástica, muito particular e fascinante. A tradição recente continua com “A Maldição da Flor Dourada”. Mas, ao contrário das obras anteriores de Yimou, a história ganha importância, em detrimento das cenas de ação contra a lógica e a gravidade.

A trama lembra um pouco as tragédias familiares de William Shakespeare, como “Rei Lear” e “Hamlet”. Agora, nada acontece por acaso, ou apenas por um visual de encher os olhos. De encher os olhos mesmo é a interpretação de Gong Li (acima), magistral, talvez a melhor de toda a sua carreira.


(Trilha Sonora: This Mortal Coil – Blood)

De Palma e Cronenberg

Brian De Palma já foi assunto deste blog. Um tempo atrás disse que não veria “Dália Negra” – ainda não vi – por considerar o diretor uma fraude. Como uma espécie de boa ação, resolvi dar a ele uma nova chance e encarar uma sessão de “Redacted”, o filme que deu ao cineasta o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Veneza (acima) – e que eu critiquei, by the way...

E olhem só! Queimei a língua! “Redacted” é um filmaço, o mais forte registro da guerra insensata dos Estados Unidos contra o Iraque. A produção é surpreendente em todos os sentidos. De Palma nunca (nunca!) falou sobre os males do mundo, nunca (nunca!) demonstrou qualquer consciência política ou social e nunca (nunca!) foi ousado em sua linguagem pessoal. Pois bem... Chegou a hora. Fiquei de queixo caído.

“Redacted” é incômodo, violento e desagradável. O que melhor resume a obra de Brian De Palma é o silêncio sepulcral que tomou o cinema após o fim de exibição. É o tal do silêncio que fez um barulho danado... Imperdível!

Assim como De Palma promove uma mudança radical de postura artística, David Cronenberg parece percorrer o mesmo caminho. O diretor sempre explorou as interferências externas no corpo humano, imperfeito, e literalmente. “A Mosca” é o melhor exemplo. Das interferências externas ao corpo humano, Cronenberg “evoluiu” para as interferências externas à mente humana. Aqui, “Spider” é o melhor exemplo. Em alguns casos, as interferências surgem misturadas, em delírios como “Gêmeos” e “Crash”, até hoje seus melhores trabalhos.

“Marcas da Violência”, com força, pode ser encaixado no tema. “Senhores do Crime” não. Há alguma mudança em curso no cinema de David Cronenberg. Seu novo filme é muito bom, superior ao último, mas perde pela falta de identidade. Resumindo, poderia ser assinado por qualquer um. Eu prefiro o Cronenberg antigo...


(Trilha Sonora: Vanessa Carlton – Be Not Nobody)

O Velho e o Novo

O velho é o diretor Guilherme de Almeida Prado. Apesar de outros tantos filmes, ele ainda é lembrado por “A Dama do Cine Shangai”, um filme apenas razoável, que vive de óbvias citações ao cinema noir. Em “Onde Andará Dulce Veiga?”, o cineasta retoma sua obsessão, mais uma vez com Maitê Proença, e – adivinhem – não mostra nada de novo. É uma produção datada, fora de época, com uma direção ruim, um roteiro ainda pior e atores de chanchada e da Boca do Lixo (até Matilde Mastrangi!) com textos bem decorados. Nem vou falar em Carolina Dieckmann, que só é atriz para folhetins da Rede Globo (está ainda bem longe de uma interpretação mais séria, de verdade, no cinema). Sem a menor relevância.

Ainda bem que não dependemos mais da mediocridade que imperou no Brasil durante muito tempo, principalmente nas duas últimas décadas do milênio. Marcos Jorge, diretor quase estreante, aparece com “Estômago” e mostra que nem todos estão perdidos no tempo, que o país pode e deve caminhar rumo à vanguarda da arte cinematográfica.

“Estômago” dialoga com os dias de hoje, tem uma história bem contada, contada pouco a pouco, ganhando a platéia, em um roteiro muito bem escrito e com um ótimo trabalho do elenco principal, com destaque para João Miguel, perfeito. Vá correndo ao cinema quando o filme estrear. Mas vá de barriga cheia...

Por razões ainda desconhecidas, “Estômago” não aparece entre os melhores filmes da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, apesar da recepção mais do que calorosa. Para mim, é um novo motivo de desconfiança... Mais um prêmio que perde credibilidade. Como já falei por aqui, está na hora de o evento deixar o amadorismo de lado.


(Trilha Sonora: The Notting Hillbillies – Missing… Presumed Having A Good Time)

De Ang Lee a Milos Forman

Eu não quero perder tempo com Ang Lee, o palhaço que a crítica pseudo-intelectual adora celebrar. Já fiz muito em ir ver “Lust, Caution”. É grotesco que um filme patético como esse tenha vencido o último Festival de Veneza. Veremos até quando a máscara vai permanecer intacta. Há de cair!

“Lust, Caution” é uma bobeira histórica, que fala de espionagem sem suspense, de dramas sem conflitos, de romances sem o ardor da paixão. Tudo é artificial. Durante várias vezes ensaiei sair da sala no meio da exibição. Mas fiquei até o fim. Para ver meia dúzia de idiotas aplaudir a obra, mostrando aos demais que, sim, eu estou por dentro da arte do cinema, eu sou cool pacas, fora o mainstream, viva o circuito alternativo, até que “Hulk” é bem legal. Calem a boca! Desafio qualquer um a sentar comigo na frente da TV – pago os petiscos e as bebidas – e provar que Ang Lee é um grande cineasta. Estou esperando...

Para tirar o amargo da boca (tive até de tomar calmante após ver o Ang Lee – e isso é verdade), conferi “As Sombras de Goya”, de Milos Forman, com produção de Saul Zaentz, roteiro de Jean-Claude Carrière e belas interpretações de Natalie Portman (foto acima), Stellan Skarsgard e Javier Bardem. Tão bom que fez o meu humor voltar ao normal.

Com a cabeça no lugar, decidi não perder (mesmo) mais tempo com Ang Lee e jogar meus calmantes na privada.


(Trilha Sonora: Robert Plant & Alison Krauss – Raising Sand)

A Amargura de Denys Arcand

“O Declínio do Império Americano” e “As Invasões Bárbaras” são pérolas do pessimismo das novas gerações – velhas também – diante de um mundo que mudou muito, e rápido demais. Para pior, obviamente. O diretor Denys Arcand capturou a desesperança com uma pequena dose de bom humor salpicada com a amargura de quem perdeu a direção da vida.

Em “A Era da Inocência”, mais uma vez, o cineasta mostra um homem em crise, fazendo uma retrospectiva sem glórias de seu passado sem luz. A diferença é que a pequena dose de bom humor virou uma enorme dose de bom humor, talvez como o único remédio para aplacar as dores da modernidade. O filme é uma boa surpresa, e está indicado pelo Canadá para disputar uma vaga para o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira.


(Trilha Sonora: Nouvelle Vague – Bande À Part)

A Casa de Moagem, em Duas Partes

Quentin Tarantino é um dos melhores diretores em atividade. E seu talento não veio da faculdade, das teses acadêmicas ou de leituras consagradas. Nem de filmes consagrados. Veio do lado B do cinema, que ele conhece – e cultua – como ninguém.

“À Prova de Morte”, 50% do projeto “Grindhouse” – moído pela Miramax, recria a experiência dos filmes “exploitation” (produções baratas cheias de sexo e violência) como um rigor – e um vigor – quase histórico. É uma aula pop de sub-cultura. Divertidíssima!

Entre na brincadeira e não espere nada autoral, estilo “Cães de Aluguel” ou “Pulp Fiction”. Só há Tarantino nas referências (algumas delas a ele mesmo), nos diálogos bizarros, na trilha sonora e na podolatria. O resto do filme é uma viagem para um cineminha vagabundo e empoeirado com péssima projeção de uma cópia caindo aos pedaços de um filme qualquer de quinta categoria.

“Planeta Terror”, a outra metade de “Grindhouse”, foi dirigido por Robert Rodriguez. O filme também é divertido e engraçado, apesar de sofrer – pouco – com a falta de referências (que sobram em “À Prova de Morte”) e com um ar mais moderno. Fácil de entender. Ratinho de cinema é o Tarantino, dono de invejável cultura B, C, D e E. Os outros, como Rodriguez, apenas dirigem, como vacas de presépio, sob a liderança do mestre. Na imagem acima, a deliciosa Rose McGowan, antes de perder sua perna e ganhar uma prótese, digamos, letal. :)


(Trilha Sonora: Vários - Quentin Tarantino’s Death Proof)

Documentários Preguiçosos

O avanço da tecnologia, e desde os primórdios até hoje em dia, provoca mudanças na linguagem cinematográfica e facilita – e muito – a vida de milhares de diretores ao redor do mundo. Alguns crescem e elevam a arte a novos patamares. Outros ficam preguiçosos.

A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo começou para mim com “Inútil”, de Jia Zhang Ke, o mais importante diretor chinês da atualidade. É um documentário sobre as transformações econômicas e sociais daquele país a partir da indústria da moda. Dentro de seu “tema”, o filme ganha relevância. Fora dele, poderia ser bem melhor. Faltou um pouquinho de dedicação. Falando no “tema”, “Pickpocket”, um de seus primeiros filmes, exibidos em retrospectiva, bebe nesta mesma fonte – das transformações econômicas e sociais na China -, mas voltado ao indivíduo. Interessante.

“Arquivos da Meia Lua” é um documentário sobre soldados indianos na Primeira Guerra Mundial (lutavam pelo Império Britânico) capturados pelos alemães para serem transformados em objetos de estudos antropológicos. O personagem principal da história é Mall Singh. O cineasta Philip Scheffner não encontrou nenhum registro oficial do militar, não localizou ninguém de sua família e não recebeu autorização para filmar na Índia. Sua empreitada, mesmo sendo um fracasso retumbante, virou filme.

Estou cansado de documentários preguiçosos sobre como não consegui realizar meu trabalho, sobre o mordomo da minha família, sobre a louca do lixão, sobre os moradores de uma favela ou de um prédio qualquer... Documentários feitos, provavelmente, em uma semana ou pouco mais ou pouco menos.

Do outro lado, há Michael Moore. Ele trabalha da forma mais tradicional, com pesquisas, entrevistas e tal e coisa (seus métodos – questionáveis para alguns – não estão em discussão) e também dá muito trabalho. “Sicko” (imagem acima), seu novo petardo, mira a indústria da saúde nos Estados Unidos. Uma pena que não exista ninguém com a veemência satírica de Michael Moore no Brasil...

A atual “tendência” é chata e desinteressante. É um atraso não apenas para o cinema, mas para todo o registro visual de nossa história. Vamos deixar de ser preguiçosos e trabalhar. Luzes, câmeras e mais ação, por favor.


(Trilha Sonora: April March – Chick Habit)