On The Boulevard des Capucines

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

sábado, setembro 29, 2007

Queimaram meus Ouvidos

Sim. Ando bem queimado. Primeiro, pelo palpite errado sobre "O Céu de Suely", que seria o meu indicado para concorrer a uma vaga para a disputa de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Oscar 2008. Mas tudo bem. A vaga ficou com um belíssimo e sublime filme, que deixa de lado o rancor de tempos recentes para mostrar - e bem - uma história simples com o olhar ingênuo de uma criança: "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias". Apesar da minha preferência, a escolha da comissão da Secretaria do Audiovisual não merece as críticas bobas que está recebendo.

E foram justamente as críticas bobas que chamuscaram minhas lindas orelhinhas. De uma hora para a outra, parte da imprensa - muitas vezes não especializada - fez coro por "Tropa de Elite". E aí choveram manchetes do tipo "'Tropa de Elite' está fora do Oscar". Não entendo. Quantas pessoas viram - NO CINEMA! - "Tropa de Elite"? Eu respondo: uma centena de pessoas no Rio de Janeiro, durante o Festival do Rio, e meia dúzia de gatos pingados em Jundiaí, onde ocorreu a estréia para inglês ver.

Na onda causada pela crítica lobista, li uma série de comentários que não podem ser levados a sério. Vou desancar um por um, mas apenas os mais imbecis.

"Os paulistas da comissão escolheram um filme paulista". Pedro Butcher é carioca. Bruno Barreto também, e tem ligações profissionais atuais com José Padilha, diretor de "Tropa de Elite". Leon Cakoff é sírio, naturalizado brasileiro. Hector Babenco é argentino. Da lista, apenas Ana Paula Sousa e Rubens Ewald Filho são de São Paulo. Resumindo: a comissão tinha dois paulistas contra dois estrangeiros e dois cariocas. Beleza?

"O governo não quer mostrar 'Tropa de Elite'". Meus caros. Se o governo não quisesse mostrar "Tropa de Elite", dinheiro público não teria sido dado à produção por meio de leis federais de incentivo. Simples assim. O filme custou R$ 10,5 milhões. Sim. É dinheirinho suado nosso, seu, meu. Nenhuma conspiração. Lembro que a última vez em que o Brasil fez barulho lá fora com algum produto cultural foi com "Cidade de Deus" que, cá entre nós, não é um mar de elogios rasgados ao país.

"A Globo queria um de seus filmes no Oscar". Oras bolas. A Globo Filmes não produziu "Tropa de Elite". Só que produziu outros filmes que estavam na disputa. "O Ano.." não é filho único. No andar da carruagem, tanto faz ir ao Oscar com A, B ou C. E mais. A "Globo.com" e o jornal "O Globo" foram dois veículos que - entre outros - fomentaram esse debate nada a ver com nada. A organização bateu na decisão da comissão julgadora e está na minha lista de lobistas, seja lá o lobby por qual razão.

Não entendo essa polêmica toda. Para ser muito sincero, até desconfio. É no mínimo estranha essa defesa exagerada de "Tropa de "Elite". Também acho que discussão de camelô não merece grandes elucubrações. Porque, afinal, tem muita gente que viu a tal da cópia pirata e deveria ficar é de boca fechada. E tem mais. Quem foi ao cinema conferir a versão oficial não saiu com a certeza de ter presenciado um grande espetáculo. A imprensa carioca fez elogios aos atores e à direção. Mas malhou o filme por ser "facista" e por fazer uma "apologia à violência". E durma com essas balas perdidas voando sem rumo por aí...

Estou com a comissão e não abro. "O Ano..." é muito bom e merece a indicação, e até para a disputa final ao Oscar. Não há nada de errado. Ponto final.


(Trilha Sonora: Les Rita Mitsouko - Best Of)

quarta-feira, setembro 26, 2007

Queimei a Língua

O filme que vai representar o Brasil na pré-seleção para a disputa do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira é “O Ano em que meus Pais Saíram de Férias”, de Cao Hamburger. Eu, que tive acesso a alguns dos votos, afirmei – aí embaixo – que seria “O Céu de Suely”. Seria o meu voto, inclusive. Queimei a língua...

Mas tudo bem. O escolhido é um belo filme e, sem dúvida alguma, merece a “honra”. E tem mais: apelo comercial e um tema aderente às propostas artísticas da academia. Enfim. Há boas chances de ficar entre os cinco finalistas e, quem sabe, trazer a estatueta pela primeira vez ao país.

“O Ano em que meus Pais Saíram de Férias” vale a torcida!


(Trilha Sonora: Bic Runga - Birds)

sábado, setembro 22, 2007

Participação Especial 01

Este humilde boulevard é um espaço aberto a todos. Qualquer um pode postar comentários ou enviar textos para a publicação em espaço "nobre". Como incentivo, convidei algumas pessoas para uma participação especial. A primeira é de Maurício Moreira, que nos presenteia com um de seus contos. É meu preferido.


“Escuta aqui, ô, cara...”. E começou a confessar como se se conhecessem, face a face. “Do seu julgamento, não quero a clemência nem esse perdão mendigado, sofrido, meloso como a mão de seus ministros. Decidi: não desperdiço mais uma palavra sequer com o vocabulário que me ensinastes”. Injuriava-o, ali, em sua própria casa. Diante daquelas pessoas que jamais ousaram dirigir-se assim a ele. “Sobre seu falso ideário liberto o meu mais puro e singelo cuspe. Se é venenoso, é porque cultivaste-o assim. Se é ácido e gosmento, não mais iluda-me; sim, esta é uma ameaça, sem sobreaviso: cuidado, muita atenção ao pairar sobre minhas esperanças uma outra vez”. Prosseguia com a fúria de um desiludido. Ao redor, já se percebia o alvoroço indignado, dividido. “Meus joelhos por ti serviram, ô mestre das horas. Um dia estiveram em carne viva, é verdade, mas se hoje calejam é porque me desgarrei dessa máscara que há tempos tentastes me adornar, e nunca – você sempre soube disso – nunca ela se encaixaria em meu rosto”. A verborragia azucrinava as paredes da casa dele. Com o império erguido, não imaginava uma afronta rígida e destemida como aquela ali presente. “Por que isso? Fique tranqüilo, não é a ti que levarei mais essa indagação”. E ria, descomunal, se regozijava do momento mais sincero de sua vida, ali no cara a cara. “O que quero de ti, ora reizinho da barriga farta? O que quero de ti é nada além de restituição. Devolva-me o que eu gastara, durante noites e noites, em lamentações e culpas; quero de volta o prazer rasgado que me roubastes. Não peço mais que alívio; não desejo mais que harmonia. Não apenas não pudestes me oferecê-los, como, insatisfeito, aproveitastes para tachar-me um impositivo ‘meu filho, a virtude é o caminho dos nobres’; à merda com seu panfletarismo ordinário, ô deusinho”. E saiu arrastado do genuflexório, sem se esquecer de depositar o dízimo sagrado do mês.


(Trilha Sonora: Camille - Le Fil)

The Insider

O Brasil está selecionando, enquanto eu escrevo e você lê, o filme que vai representar o país no Oscar 2008. Até o momento, 14 poduções foram inscritas para a disputa da vaga. Estão na lista "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias", "O Primo Basílio", "A Grande Família", "Ó Paí, Ó", "Antônia", "Cidade dos Homens", "O Cheiro do Ralo", "Tropa de Elite", "O Céu de Suely", "Fabricando Tom Zé", "Muito Gelo e Dois Dedos D'Água", "O Dono do Mar", "O Passageiro - Segredos de Adulto" e "Batismo de Sangue".

A lista impressiona pela qualidade mas também por uma ou duas besteiras inomináveis. Mas vamos ao que interessa. Sem citar nomes, tive acesso a alguns dos prováveis votos dos integrantes da comissão escolhida pela Secretaria do Audiovisual. "O Céu de Suely" tem pelo menos três votos, dois garantidos. "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias" deve receber um voto só, mas é o único que tem um fator "surpresa" que não pode ser desprezado. Afinal, tem apelo. "O Primo Basílio" deve ficar com mais um voto.

Para resumir, afirmo que o filme que vai representar o Brasil no Oscar 2008 é "O Céu de Suely". Vamos ver o que será de minha língua...


(Trilha Sonora: The Creatures - A Bestiary Of...)

sábado, setembro 15, 2007

A Intolerância

“Intolerância”, o filme, é de 1916. Dirigido por David Wark Griffith como resposta ao intolerante “Nascimento de uma Nação” (de 1915, quase uma ode à Ku Klux Klan), a obra é um chamado histórico ao fim do preconceito, um chamado ao nascimento de uma nova era, livre de julgamentos por cor, raça ou credo. Afinal, todo preconceito é iletrado, irracional, ignorante. Burro mesmo. “Intolerância”, o substantivo, é dos dias hoje, do século – quem diria, XXI. Esta obra teve uma criação coletiva. Nada mais justo que todos nós – homens modernos, com acesso ilimitado à informação e cultura – lutemos agora pela sua destruição coletiva. Está em nossas mãos.

É triste e decepcionante ver que apenas poucas pessoas estão dispostas a percorrer essa estrada, talvez mera picada, já tomada pelo mato do descaso, do esquecimento... Até já falei sobre isso aqui mesmo neste blog. Mas dois fatos recentes não podem passar assim, em branco, sem que ninguém coloque a boca no trombone (como faz há anos o jornalista José Paulo de Andrade, pioneiro em dar voz a quem precisa ser ouvido).

O primeiro aconteceu em Israel, com Amos Gitai. A Autoridade de Radiofusão do país – queimando um pré-contrato – decidiu cancelar o apoio financeiro para a nova produção do cineasta, “Disengagement”, filmado na França, na Alemanha e em Israel, e com Juliette Binoche e Jeanne Moreau. Segundo um dos integrantes do comitê, o acordo foi rasgado porque Amos Gitai “não é um artista israelense”. Outro dileto participante do grupo afirmou que “o comitê aceitou completamente a alegação de que ele não mora ou cria em Israel. Há muitos cineastas israelenses que precisam muito de nosso apoio. O ARI (Autoridade de Radiofusão de Israel) é uma autoridade israelense e deveria assistir uma grande variedade de artistas israelenses ao invés de ajudar uma só pessoa que não trabalha em Israel, o que é de conhecimento geral. Que filme ele fez em Israel?”. A resposta: “esse é um simples ato de Macartismo. Eu moro em Israel, servi o exército e agora tenho de conseguir um carimbo kosher deles? Até onde isso vai? Tenho nojo de todo esse negócio de israelense, não-israelense. Eu era israelense o suficiente para os sírios, que atiraram no helicóptero em que eu estava durante a Guerra de Yom Kippur.”

Amos nasceu em Haifa, Israel, em 1950. Depois de quase morrer em batalha, decidiu abandonar as armas e trocá-las pelas luzes e câmeras. Por causa da visão crítica da sociedade israelense impressa em seus filmes, ele é classificado, em seu próprio berço, como um “outsider”. Mas tudo foi longe demais. Em um ato grotesco de censura, Amos Gitai foi (pré) julgado, (pré) sentenciado e (pré) condenado. Voltaremos a perseguir Galileus e queimar Brunos? Será que não aprendemos nada?

O segundo fato aconteceu na Itália, durante o Festival de Veneza (bastou o elogio – vejam em “Veneza e A Idade da Terra” – para que tudo fosse por água abaixo – bem apropriado para a cidade. Ang Lee – Bazin está para Hitchcock como Reys está para Lee – venceu o Leão de Ouro, com “Lust, Caution”, e Brian De Palma ganhou o prêmio de melhor diretor com “Redacted”, mais um para a lista dos filmes que não verei de jeito nenhum). A recepção da crítica e de parte do público ao trabalho de Ang Lee é que chamou a minha atenção, e daqui, do outro lado do Atlântico. Muita gente disse que o diretor havia feito as pazes com o público heterossexual. Tudo por causa de “Brokeback Mountain”, transformado em um faroeste gay e, na maioria das vezes, de forma jocosa e desrespeitosa. Apesar de minhas diferenças com Ang Lee, não posso fazer nada além de defendê-lo, e veementemente. Está na hora de pararmos com classificações do tipo “filme gay” ou “filme sobre a diversidade sexual”. Para mim, é um pulinho para chegarmos a “filmes de índios”, “filmes de latinos”, “filmes de mulheres”, “filmes de negros”, “filmes de judeus”. Segregação preconceituosa no meio artístico, que deveria primar pela intelectualidade.

E esse tipo de classificação, de divisão, é prejudicial em qualquer lugar, não apenas nas artes ou no cinema. As cotas para negros logo podem virar cotas para índios, cotas para latinos, cotas para mulheres, cotas para judeus. Não demoraria para alguém ter a idéia de criar espaços especiais para negros e judeus nos ônibus e metrôs, por exemplo. Depois em lugares públicos, como parques, cinemas, teatros, bares e restaurantes. Ou para alguém decidir marcar negros e judeus com um emblema qualquer, que deveria ser vestido sempre, em local visível. Mais uma vez... Será que não aprendemos nada? Isso é racismo oficial. É racismo como política de estado. É nacional-socialismo. Para a fogueira, um passo. Será que é isso que a nossa geração vai deixar para as próximas gerações?

“Brokeback Mountain” não é um “filme gay”. Nem “Felizes Juntos”, de Wong Kar Wai. Nem “Shortbus”, de John Cameron Mitchell. São filmes como quaisquer outros, expressões de seus diretores. Alguns bons, alguns ruins, alguns lindos, alguns poéticos, alguns explícitos, alguns chatos. Mas são filmes e ponto final. Essa classificação reducionista tem como objetivos a provocação, o patrulhamento de idéias, o tolhimento da liberdade.

Chega de intolerância! Somos todos exatamente iguais! Para que deus rezamos, com quem dormimos, qual nossa cor, para que time torcemos, o que fazemos com nossos corpos, em quem votamos, o que vemos, lemos e ouvimos... Nada realmente importa. Essas características todas, essas diferenças, nos definem como seres humanos. Não devem e não podem ser julgadas. Não devem e não podem nos excluir.


Chega de intolerância!


(Trilha Sonora: Siouxsie – Mantaray)

terça-feira, setembro 11, 2007

A Magia do Cinema

Uma iniciativa muito interessante está ocorrendo, ainda tímida, discreta, em uma cidade do interior de São Paulo. É o projeto “Paulínia - Magia do Cinema”. É uma nova tentativa de fomentar no Brasil o cinema industrial. A criação deste pólo artístico lembra o que foi, lá na década de 50, a companhia Vera Cruz, também em São Paulo, em São Bernardo do Campo. A Vera Cruz, que assinava “Produção Brasileira de Padrão Internacional”, foi uma aventura de empresários italianos sonhadores, com pretensões “hollywoodianas”. Durou quatro anos. Produziu 18 filmes. “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, é o mais famoso de todos.

Em Paulínia, olhando de longe, e bem rapidamente, tudo parece um pouco mais profissional, apesar de algumas besteiras que li no site oficial (abaixo). Mas, de qualquer forma, é legal ver alguém buscando dar um rumo – mesmo que dentro de um túnel ainda sem luz – para a cinematografia nacional. Será um trabalho árduo e dispendioso. Eu testemunhei o que países como Nova Zelândia e Austrália fazem para atrair investimentos culturais, principalmente americanos. A infra-estrutura é fantástica, do saneamento básico aos estúdios, passando pelos transportes e pela segurança. Os benefícios fiscais são mais do que generosos. E os resultados vieram! A trilogia “O Senhor dos Anéis” foi filmada na Nova Zelândia. Outra trilogia, “Matrix”, na Austrália.

Paulínia, a cerca de 120 quilômetros de São Paulo, é famosa por ser um dos mais ricos centros petroquímicos da América Latina. Com dinheiro em caixa, sonha em ficar famosa agora no escurinho do cinema. Por enquanto, nada de “O Senhor dos Anéis” ou “Matrix”. O primeiro filme a receber o selo “Paulínia - Magia do Cinema” será “Topografia de um Desnudo”, de Teresa Aguiar, com Lima Duarte, Ney Latorraca e Gracindo Júnior. Acho que vale manter um olho nos peixes e o outro, claro, na frigideira.

Segue o texto (ruim) do projeto, do site “Paulínia - Magia do Cinema”, quase na íntegra. Eu cortei uns parágrafos com informações repetidas, um errinho aqui e ali e o nome do atual prefeito, o autor da idéia. A arte deve estar além da política.


““Paulínia - Magia do Cinema” tem o objetivo de possibilitar o desenvolvimento de um novo segmento econômico, a promoção do turismo cultural e de negócio e o incremento da cultura, tendo como conseqüência a geração de empregos, diretos e indiretos, mediante a capacitação profissional da população local na área de entretenimento por meio do desenvolvimento e implantação da indústria do cinema.

O “Paulínia - Magia do Cinema” irá incrementar as atividades culturais do Município, com reflexo no aspecto turístico, atraindo milhares de pessoas, fazendo com que o comércio local intensifique as suas atividades e, conseqüentemente, haja um aumento na arrecadação das receitas tributárias próprias municipais.

Veja-se o exemplo de Hollywood, em Los Angeles/CA e da Universal Studios e MGM Studios, em Orlando/FL, ambos nos Estados Unidos, onde estão localizados os grandes estúdios de cinema, sendo alguns dos destinos de viagens mais procurados pelas pessoas do mundo inteiro, que sonham em visitar suas cidades cenográficas, movimentando o comércio, as indústrias hoteleiras, de alimentação, de turismo, etc. Na Flórida, o turismo é considerado sua maior indústria, com lucros estimados em US$ 57 bilhões ao ano.

Nesta esteira, importante ressaltar a abertura de um novo campo de atividades profissionais no Município de Paulínia, ligadas à atuação cênica, tais como: cenografia, fotografia, figurino, roteiro, montagem, etc.

Ademais, o cinema é um veículo de transmissão de idéias e pensamentos, além de ser uma forma de entretenimento e diversão. Filmes e vídeos são capazes de atrair um grande público, provocando debates e promovendo ações que envolvem a comunidade, criando uma marca regional de interesse nacional.

Tatiana Stefani Quintella, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Paulínia, é a responsável pelo projeto. Ela tem alta capacitação para o exercício do cargo, em razão da sua longa experiência obtida durante anos atuando nessa área como executiva de marketing da Warner Bros. e Columbia Tristar/ Sony Pictures, razão, inclusive, de sua identificação com o projeto denominado “Paulínia – Magia do Cinema”.”



(Trilha Sonora: Nickel Creek - Why Should The Fire Die?)

segunda-feira, setembro 10, 2007

Aimee Mann X Bree Sharp

A indústria cultural é, muitas vezes, cruel com os artistas. E, entre tantas, a fonográfica é que mais recebe críticas, e de todos os lados, dos músicos aos fãs. Há tempos convive com a rebelião de downloads sem fim e com a revolta de suas estrelas.

A história de Aimee Mann começa lá na década de 80, com uma banda pretensamente punk, do it yourself, "The Young Snakes". Mas ela deixou a garagem para montar o ‘Til Tuesday, um grupo new wave que estourou logo no primeiro disco, “Voices Carry”, lançado pela Epic, da CBS. O sucesso levou ao segundo álbum, “Welcome Home”. As mudanças já podiam ser ouvidas. Do pop água com açúcar, o ‘Til Tuesdau havia evoluído para um rock mais consistente, de vôos mais altos. Aimee Mann tomava o poder, aos poucos, e começava a impor seu talento. Em busca de maior independência, iniciou uma briga inglória com os executivos da gravadora.

No meio da confusão, é lançado o disco “Everything’s Different Now”. O trabalho, com uma pequena dose de exagero, pode ser considerado o primeiro álbum-solo de Aimee Mann, de tão sofisticado, de tão diferente, como já dizia o título. Tudo mudou de verdade. O ‘Til Tuesday acabou logo depois e Aimee partiu para a carreira solo, ainda presa a uma gravadora, desta vez a Geffen. Vieram “Whatever”, “I’m With Stupid” e “Bachelor No. 2”.

Quando preparava este último, os problemas foram enormes. Ela foi pressionada a compor músicas “pegajosas”, para tocar no rádio. Não fez e foi abandonada. Para não jogar tudo no lixo, Aimee fundou a própria gravadora e lançou o álbum como independente. E aí veio o filme “Magnólia”, baseado em suas letras (Paul Thomas Anderson é fã antigo de Aimee Mann). A trilha rendeu, além dos elogios, uma indicação ao Oscar – perdeu para a canção de amor dos macacos, de Phil Collins, para "O Rei Leão" – e provocou a maior virada de sua vida.

Hoje, Aimee Mann mantém sua gravadora – e mais uma legião de fãs fiéis –, viaja por todo o mundo divulgando seu trabalho e, basicamente, faz o que bem entende. E como. “Lost in Space” e “The Forgotten Arm” consolidaram Aimee Mann como a melhor letrista do rock mundial (talvez de toda a música) e como uma das mais importantes artistas do planeta. Completa.

Como toda a moeda tem dois lados, há a história de Bree Sharp (imagem acima). Americana gata, de cabelos escuros, talentosa, apareceu de repente com rocks pops bacaníssimas, em “A Cheap and Evil Girl”, que fez um relativo sucesso empurrado pelo single “David Duchovny”. Apesar de tudo estar indo muito bem, a gravadora que lançou o álbum, no meio de uma crise financeira, decretou falência e deixou seus artistas afundarem com o barco.

Bree não desistiu e, com dinheiro do próprio bolso, fez “More B.S.”, um tanto irregular, mas ainda interessante, na mesma linha do disco anterior. Ela, sem querer, havia virado uma artista da cena independente. Nada significativo mudou e as coisas seguiram no mesmo rumo. No início deste ano, Bree anunciou - na internet – que estava trabalhando em seu terceiro álbum “Robots in Love”. Mas o lançamento atrasou, atrasou, atrasou e ainda não veio. Para dar um gostinho aos fãs, quatro músicas novas foram postadas em sua página no My Space. Também pela internet veio a explicação da demora. Bree Sharp foi procurada por uma gravadora e está, atualmente, em negociação. Os robôs apaixonados esperam...

Aimee Mann e Bree Sharp têm trajetórias até semelhantes, mas inversas. Aimee já é mestre. Bree está começando, aprendendo. Aimee deixou as gravadoras para cuidar da própria vida artística. Bree está fazendo o contrário. Entre as duas histórias, o importante é que a indústria da música, como tantas outras, está mudando radicalmente. O poder hoje é do consumidor e sua arma, a internet, o acesso ilimitado à tecnologia e à informação. Quem não entrar nesse jogo – e usá-lo de forma inovadora, favorável à sustentabilidade do negócio -, vai sair derrotado.

Viva Aimee. Boa sorte, Bree.


(Trilha Sonora: Bree Sharp - A Cheap And Evil Girl)

segunda-feira, setembro 03, 2007

Veneza e “A Idade da Terra”

Dos festivais de cinema que existem ao redor do mundo, três são importantíssimos: Cannes, Berlim e Veneza. Aqui não há espaço algum para discussão.

Cannes viu muitos dos maiores diretores de todos os tempos, e seus melhores filmes. Recentemente abriu espaço para produções comerciais e virou uma feira de vendas, com o desfile de astros de Hollywood que nada têm a ver com arte e a exibição de produções como “O Código Da Vinci”. A sessão foi recebida com vaias e risos, o que mostra que o evento ainda tem uma certa dignidade.

Berlim está na mesma trilha. Há alguns anos, uma mudança de certa forma brusca na curadoria do festival o levou para mais perto de uma simples plataforma de negócios. Logo no primeiro ano sob o novo comando, o cineasta homenageado foi Paul Verhoeven, que estava lançando “O Homem Sem Sombra”. É desnecessário falar sobre perda de credibilidade, não é?

Veneza parece estar imune à movimentação monetária da indústria cinematográfica. Eu o considero hoje como o festival mais importante do mundo. Este ano o júri foi composto apenas por diretores – quase todos bons diretores (exceção de, quem diria, Paul Verhoeven). O presidente é Zhang Yimou.

O melhor de Veneza 2007, fora da competição oficial, será, sem dúvida, a exibição comemorativa de “A Idade da Terra”, o último trabalho de Glauber Rocha, e o mais polêmico. Em 1980 foi mostrado pela primeira vez lá mesmo, em Veneza. Os críticos odiaram. O público não entendeu nada e não gostou. Os diretores ficaram divididos.

“A Idade da Terra” é o filme mais radical de Glauber Rocha (mais ainda que “Câncer”). É a sua mais ousada tentativa de revolucionar a linguagem cinematográfica, de buscar uma nova gramática. Até hoje, nada remotamente parecido jamais foi visto (nem de Godard). Sem falar muito sobre a linguagem, vale retomar rapidamente a escrita criada por David Wark Griffith e Sergei Eisenstein, aperfeiçoada pouco a pouco ao longo dos anos seguintes.

Sem pensar muito, faz tempo que não temos uma mudança realmente significativa na linguagem dos filmes. Talvez desde o aumento da mobilidade das câmeras, mais leves e, claro, portáteis, na década de 60. Mesmo assim é um fato questionável. O resto é conversa mole dos críticos idiotas que não sabem nada e dizem que “Matrix” e “Sin City” são revolucionários. Tá bom. Voltem para a escola.

“A Idade da Terra” é um filme difícil, para iniciados, estudiosos e amantes do cinema de verdade. É um filme, digamos, acadêmico, um “filme-tese”. E assim, como “filme-tese”, merece ser revisto com os olhos de hoje, livres do julgamento contaminado da época, e discutido e discutido e discutido mais uma vez.

Este deveria ser o papel dos festivais: a troca de idéias e experiências, no meio de um ambiente de alta cultura, para – como dizia Italo Calvino – pensarmos em algumas propostas para o milênio.


(Trilha Sonora: Kasey Chambers - The Captain)

Do Verão 2007 Para o Verão 2008

O verão americano deste ano foi dos mais interessantes dos últimos tempos nas salas de cinema dos Estados Unidos, pensando apenas no rico negócio das bilheterias.

Os capítulos finais das trilogias foram muito bem, obrigado. Na guerra de números travada por “Shrek”, “Piratas do Caribe” e “Homem-Aranha”, o herói venceu, com U$ 336 milhões, mas por pouco. “Shrek” fez U$ 320 milhões. “Piratas do Caribe”, U$ 308 milhões. Outros heróis das histórias em quadrinhos decepcionaram: O Quarteto Fantástico – mesmo com o reforço do Surfista Prateado – arrecadou meros U$ 131 milhões.

Harry Potter manteve a magia das seqüências anteriores, caminhando tranqüilo em uma série de poucos baixos e muitos altos. Foram U$ 283 milhões. Quem não fez mágica – só efeitos especiais, e fantásticos – e surpreendeu mesmo assim: “Transformers”, que fechou também com U$ 308 milhões. Matt Damon, como Jason Bourne, descolou, até agora, U$ 202 milhões, um reforço à média burra já comentada aqui. “Os Simpsons” não rendeu o esperado. Eu imaginava um padrão diferente: estréia consistente, mas discreta, e manutenção estável e sustentável. Não foi isso o que aconteceu e o desenho em longa-metragem seguiu a lógica dos blockbusters: abertura avassaladora e forte depreciação semanal, de cerca de 50%. Está hoje com U$ 178 milhões.

Para 2008, já temos como fazer algumas previsões. No Memorial Day, vamos ver a estréia do novo Indiana Jones, quase 20 anos depois do encerramento da trilogia original, com George Lucas, Steven Spielberg e Harrison Ford de volta. Também veremos outra enxurrada de heróis; Hulk, reformulado, agora com Edward Norton no papel principal e sem Ang Lee na direção; Batman – cujas filmagens têm sido acompanhadas cena a cena por fãs e redes de TV, como a CNN – retorna para enfrentar o mais sinistro dos Coringas; “O Homem de Ferro” (na imagem, o pôster teaser) impressiona hoje como a principal aposta da Marvel para o ano que vem, já escalada para abrir a próxima temporada de verão. A prévia mostrada na Comic-Con levou o lugar abaixo.

Teremos ainda, por enquanto, “Speed Racer”, dos irmãos Wachowski, a segunda parte de “As Crônicas de Nárnia” e um retorno suspeito de Brendan Fraser para mais um filme da série “A Múmia”.

E mais filmes devem pintar por aí. Vamos esperar...


(Trilha Sonora: Lucy Kaplansky - Every Single Day)