On The Boulevard des Capucines

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

sexta-feira, agosto 31, 2007

O Belo Cisne das Trevas

Por este boulevard desfilam várias musas. Uma delas, já comentada por aqui, é Siouxsie Sioux. A rainha dos góticos influenciou gerações e mais gerações com seu estilo (felizmente) inigualável. Recentemente, passei por uma daquelas minhas overdoses musicais, ouvindo tudo o que ela fez, dos Banshees aos Creatures. E, depois de tanta e tão relevante história, Siouxsie lança seu primeiro álbum-solo, “Mantaray”, em breve nas lojas e na internet, provando que está sempre de olho em seu tempo, sem saudosismo, levando sua arte adiante. O single é “Into a Swan”, aí embaixo. Belíssima trilha sonora. Espero apenas que Siouxsie Sioux faça uma turnê mundial e que, claro, passe por aqui. :)

quinta-feira, agosto 30, 2007

Favoritos da Madrugada

E lá vamos nós para mais uma nota “ah, que saudades da década de 80...”. Há tempos, quando começou o meu interesse por cinema, não tinha muitas opções além da TV. E acompanhava a programação diariamente nos jornais, sempre em busca de uma pérola, seja de um diretor que precisava conhecer, um vencedor da Palma de Ouro, um cult tardio e por aí vai. Os fins de semana, obviamente, eram especiais. Sem a obrigação de acordar cedo para ir para a aula, passava as madrugadas vendo os filmes do Corujão. E de tudo o que vi – e na época via qualquer coisa, de ponta a ponta, até a missa -, alguns ficaram marcados, por um motivo ou outro. Um deles é “O Destino do Poseidon”, até hoje o melhor “disaster movie” de todos os tempos.

“Disaster Movie” é quase um gênero, tipicamente americano, que surgiu com mais força logo no início dos anos 70, com “Aeroporto”. Depois vieram, entre outros, “Inferno na Torre” e “Terremoto”. A assinatura que marcou a década foi do produtor Irwin Allen, que capturou a psique americana para projetá-la nas telas (veja o posting “Ostracismo Cultural”, abaixo). Um filme de desastre tem tudo a ver com a capacidade de superação do homem, da vitória em meio à adversidade, de enxergar a luz mergulhado na escuridão. É um conto moral, de incentivo, onde os pecadores e os que não trabalham em equipe morrem e onde os heróis sacrificam a própria vida pelo bem geral. Os Estados Unidos estavam vivendo um período estranho: a geração Paz e Amor tinha sucumbido na tragédia de Altamont, em 1969, e jovens ainda lutavam por uma aventura ideológica no Vietnã, perto de acabar com uma derrota humilhante.

(Os japoneses também têm seus “disaster movies – tv series”, mas sempre a partir de um invasor externo, estilo Godzilla, que aparece na década de 50. Estes filmes também expressam tudo o que acabei de comentar, mais o medo de ser dominado por uma força maior, trauma da Segunda Guerra Mundial).

Tudo isso para falar que a refilmagem de “O Destino de Poseidon” foi a estréia da última semana na HBO. Por curiosidade, vi a primeira parte, até a onda virar o navio, ponto crucial da trama. E aí fiquei pensando sobre os avanços na arte cinematográfica. A cena moderna, de 2006, sob o comando de Wolfgang Petersen, é bem ruinzinha, sem impacto nenhum, sem qualquer efeito dramático. Nada depois faz muito sentido. A luta dos sobreviventes vira um tanto faz, tanto fez. Foi feita no computador, com água de mentira. A antiga, de 1972, sob o comando de Ronald Neame, é fantástica, de fazer você prender a respiração e agarrar em alguma coisa. A luta dos sobreviventes ganha, a partir de então, a dimensão certa. E o espectador, coitado, é obrigado a ir junto. Foi feita em um tanque e uma miniatura nos fundos do estúdio, com água de verdade.

Do mecânico para o digital, de nada serve a tecnologia se você não sabe o que fazer com ela. Simples assim...


(Trilha Sonora: Dolores O'Riordan - Are You Listening?)

quarta-feira, agosto 29, 2007

Tá Ouvindo?

Finalmente, do alto de meus 30 e bem poucos anos, posso falar sobre o melhor show de rock que já vi. E foi agorinha há pouco, na noite desta terça-feira, 28 de agosto de 2007: Dolores O’Riordan, no Via Funchal, em São Paulo. Para não dizer que é meu coração quem está falando um pouco mais alto, tenho uma série de “razões racionais”. Vamos lá.

Antes de mais nada, quero deixar claro que não tenho o currículo de nenhum André Palugan ou Rodrigo Bio e de nenhuma Anita Coli. Mas tenho uns bons shows na memória, de Rolling Stones a Bob Dylan, de Ramones a Foo Fighters, de Pearl Jam a Audioslave, de Sepultura a Iron Maiden, de Yes a Jethro Tull, de The Cure a New Order, de Rita Lee a Barão Vermelho. Mas Dolores foi de uma intensidade emocional inigualável.

Também gostaria de deixar bem claro que nunca toquei nenhum instrumento em um palco – e obviamente não fiz isso para ninguém ver. Mas Fê Vellozo, baixista do 2DF – que lança disco novo em breve – já me disse qual é a sensação de fazer um show para um público que está a fim de curtir. E algo aconteceu de muito especial na apresentação de Dolores. O Via Funchal estava lotado, desde cedo. O pessoal do fã-clube, que ficou lá na grade, fez uma festa fantástica, com camisetas personalizadas, presentes, cartazes, flores e bexigas. A mulher que já liderou os Cranberries custou a acreditar. Quando acreditou, fez um show memorável, histórico.

Dolores foi um doce de simpática. Falou o tempo inteiro com a platéia, cantou, dançou com aquele jeitinho de robô, pulou, tocou músicas pedidas pela platéia – foi o Lado B “Willow Pattern”, e de improviso –, cumprimentou os mais próximos com toques carinhosos, jogou beijos, agradeceu milhões de vezes (com uma sinceridade palpável), disse que estava em êxtase, atirou água em todos (acertou gotas em mim – estava ali pertinho) e terminou o show com a camisa da Seleção Brasileira Feminina de Vôlei. A banda acompanhou o entusiasmo e quebrou tudo, tocando com uma violência fora do comum. Energia pura.

Ela ainda estava muito, mas muito confortável sem o peso do nome Cranberries. Depois de sua primeira experiência solo no palco – e diante de tudo que já comentei -, pode esquecer da banda. Os Cranberries não acabaram oficialmente, mas também não voltam mais. Por falar em Cranberries, Dolores abriu o show com “Zombie”, voltou para o bis com “Ode To My Family” e fechou com “Dreams”. Ela não deixou de lado “Linger”, “I Can’t Be With You”, “Salvation”, “Pretty”, “When You're Gone”, “Free To Decide” e “Animal Instinct”. Também mandou quase todas as músicas de seu álbum, claro.

Para terminar, deixo as “razões racionais” de lado para afirmar, mais uma vez, que Dolores O’Riordan fez o melhor show de rock que já vi. E sim, estou apaixonadíssimo. Mas isso nem precisava falar... :)

Acima, uma foto da gatíssima (mesmo!) irlandesa, roubada do Flickr, já do show em São Paulo. Como prometido.

(Trilha Sonora: Dolores O’Riordan – Are You Listening?)

quarta-feira, agosto 22, 2007

Para Alice

No original, em Inglês, o trecho final de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll. Para que a estrelinha seja uma menina feliz e que nunca perca o brilho de sua infância, exatamente como a mamãe.



"`Wake up, Alice dear!' said her sister; `Why, what a long sleep you've had! 'Oh, I've had such a curious dream!' said Alice, and she told her sister, as well as she could remember them, all these strange Adventures of hers that you have just been reading about; and when she had finished, her sister kissed her, and said, `It was a curious dream, dear, certainly: but now run in to your tea; it's getting late.' So Alice got up and ran off, thinking while she ran, as well she might, what a wonderful dream it had been.

But her sister sat still just as she left her, leaning her head on her hand, watching the setting sun, and thinking of little Alice and all her wonderful Adventures, till she too began dreaming after a fashion, and this was her dream:--
First, she dreamed of little Alice herself, and once again the tiny hands were clasped upon her knee, and the bright eager eyes were looking up into hers--she could hear the very tones of her voice, and see that queer little toss of her head to keep back the wandering hair that WOULD always get into her eyes--and still as she listened, or seemed to listen, the whole place around her became alive the strange creatures of her little sister's dream.

The long grass rustled at her feet as the White Rabbit hurried by--the frightened Mouse splashed his way through the neighbouring pool--she could hear the rattle of the teacups as the March Hare and his friends shared their never-ending meal, and the shrill voice of the Queen ordering off her unfortunate guests to execution--once more the pig-baby was sneezing on the Duchess's knee, while plates and dishes crashed around it--once more the shriek of the Gryphon, the squeaking of the Lizard's slate-pencil, and the choking of the suppressed guinea-pigs, filled the air, mixed up with the distant sobs of the miserable Mock Turtle.

So she sat on, with closed eyes, and half believed herself in Wonderland, though she knew she had but to open them again, and all would change to dull reality--the grass would be only rustling in the wind, and the pool rippling to the waving of the reeds--the rattling teacups would change to tinkling sheep- bells, and the Queen's shrill cries to the voice of the shepherd boy--and the sneeze of the baby, the shriek of the Gryphon, and all thy other queer noises, would change (she knew) to the confused clamour of the busy farm-yard--while the lowing of the cattle in the distance would take the place of the Mock Turtle's heavy sobs.

Lastly, she pictured to herself how this same little sister of hers would, in the after-time, be herself a grown woman; and how she would keep, through all her riper years, the simple and loving heart of her childhood: and how she would gather about her other little children, and make their eyes bright and eager with many a strange tale, perhaps even with the dream of Wonderland of long ago: and how she would feel with all their simple sorrows, and find a pleasure in all their simple joys, remembering her own child-life, and the happy summer days."


(Trilha Sonora: Spider – The Way To Bitter Lake)

domingo, agosto 19, 2007

Ostracismo Cultural

Eu sou contra a pena de morte. E tenho lá minhas dúvidas sobre a prisão perpétua. Mas acho que muitas pessoas tinham mesmo de ser excluídas da sociedade, como o "cineasta" Neville d'Almeida. A sugestão que tenho é que voltemos a adotar a prática do ostracismo. A punição foi criada em Atenas, no ano 510 a.C., para punir políticos que abusavam do poder: se decretada, o culpado tinha de abandonar a cidade-estado por 10 anos, deixando todos os seus bens para trás.

Vamos falar sobre cultura. Neville d'Almeida destruiu o cinema nacional. Ele é, sem dúvida alguma, o maior dos responsáveis pela imagem negativa que o cinema brasileiro tem até hoje, e entre nós mesmos. Quando você ouve alguém falar que filmes nacionais não prestam e que são uma baixaria só, a culpa é dele, dos palhaços do chamado "cinema marginal" e dos imbecis da "boca do lixo". Mas principalmente dele, o pior diretor da história. O que esse pessoalzinho desprezível conseguiu foi acabar com o Cinema Novo, dos mais representativos movimentos da arte cinematográfica em âmbito mundial, e distrair o povo com muito samba, futebol, palavrão e mulher pelada. E isso tudo durante a ditadura militar, o que torna essa aventura não apenas alienante, mas perigosa e irresponsável...

Há tempos participei de um ciclo de palestras sobre cinema nacional. E lá tive a oportunidade de conversar pessoalmente com vários representantes desse período medíocre, como Ozualdo Candeias e Denoy de Oliveira, por exemplo. Eles falavam com orgulho que não estavam interessados em política, que odiavam a idéia central do Cinema Novo, que não suportavam a figura de Glauber Rocha e que faziam filmes de qualquer jeito mesmo. Foram eles que, seguindo a tese do "qualquer jeito mesmo", inventaram o formato 17,5 mm. Bastava pegar um rolo de filme 35 mm e cortar ao meio. Mas não foi apenas o celulóide que eles cortaram ao meio. Foi a mais importante e significativa expressão artística brasileira. Em seu lugar instituíram o orgulho da ignorância: não quero saber do país, quero é depravação! Esse monte de filmecos é que, aos poucos, foi minando o cinema nacional. E por muito pouco a coisa não foi pelos ares de verdade.

Neville, o ignorante-mor dessa turminha, participou recentemente de um festival de cinema brasileiro em Nova Iorque, patrocinado pela Petrobras. Foi lá para tentar vender seu último filme, uma besteira qualquer sobre a herança indígena brasileira. Oxalá seja o último mesmo. Segundo ele, apenas o Brasil tem hoje tribos sofrendo com o avanço do "homem-branco". Sim, claro. Neville foi a Nova Iorque com o filho, com o nosso rico dinheirinho, e, com aquele ar de bufão dos trópicos, fez um discurso sem pé nem cabeça para americanos despreparados. Tive o azar de ver uma parte. Se tivesse um revólver, atiraria na TV.

É isso o que queremos de nosso cinema? O que estamos fazendo com a nossa cultura? Cinema é arte. Cinema é a expressão maior de um povo, da psique coletiva de um país. Cinema é para quem gosta de cinema, para quem ama cinema. Não é para os aventureiros que gostam de ver filmes no fim de semana ou que caem nas faculdades do país sem ter sequer visto "Cidadão Kane". É este o cinema, o cinema-arte, que temos de defender, que temos de discutir e glorificar. Sem deixar de lado o entretenimento, o choro fácil, o riso solto. Só não vamos confundir tudo. Como já disse aqui, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E há espaço para tudo e para todos, com exceção dos pseudo-artistas, como o calhorda do Neville.

De volta ao ostracismo, mas em sua vertente cultural. Minha sugestão é exilar Neville d'Almeida. Não por 10, mas por uns 50 anos. Que viva longe das câmeras e da sociedade brasileira. O estrago que ele fez foi grande demais. Basta relembrar "Os Sete Gatinhos", "A Dama do Lotação" (sim, ele também é o responsável pelo desconhecimento público da obra de Nelson Rodrigues - Neville o transformou em um velho depravado) e "Rio Babilônia", um lixo que não serve nem para a distração de adolescentes com excesso hormonal.

Vamos todos expulsar Neville do país. Neville, você não presta. Seus defensores podem ir junto, agarrados na sua echarpe engomada. Vocês também não prestam.

A foto acima é de Glauber Rocha, o melhor diretor que o Brasil conheceu (admirado em todo o mundo), e que morreu em acessos de loucura pela situação crítica do país. O homem ao seu lado é o mestre Roberto Rosselini. Preciso falar mais?

Está me incomodando muito ter apenas mencionado o nome de Neville d'Almeida. Espero tê-lo ofendido bastante... Por via das dúvidas, vou xingá-lo mais algumas vezes: Neville, você é um imbecil, um calhorda, um ignorante, uma vergonha.


(Trilha Sonora: Sepultura - Chaos A.D.)

Os Simpsons na Tela Grande

Pagar para ver no cinema algo que você pode ver de graça em casa, na TV? É o que diz Homer Simpson na abertura do tão aguardado “The Simpsons Movie”, chamando todos nós de idiotas. Somos? Claro que não. Vale muito a pena pagar para ver Os Simpsons no cinema. Apenas não espere uma saraivada de piadas e o ritmo ágil dos episódios. Como nem poderia ser diferente, em um longa-metragem tudo tem seu próprio tempo.

A crítica americana, na época do lançamento, há bem pouco tempo, entrou em uma discussão interessante. Todos elogiaram. Mas, de um lado, alguns disseram que a adaptação pecava por não ir além da série. De outro lado, alguns afirmaram que o filme era bom justamente por não buscar nada além da série. Eu fico com esse pessoal. “The Simpsons Movie” é um episódio mais comprido e só. E qual o problema? Basta pensar nos 18 anos da família na televisão (já foi dito por aí que Os Simpsons é a melhor comédia da história da televisão, em todos os tempos – quem discute?) e do impacto cultural que Homer, Bart, Margie, Lisa e Maggie causaram no mundo todo.

Seja idiota e vá ver Os Simpsons no cinema. A história, como todos já sabem – divulgada pela primeira vez (será?) aqui neste blog – tem a ver com um colapso ambiental provocado por Homer. Entre as melhores piadas estão a nudez frontal de Bart Simpson, uma gag visual das mais geniais, e o porco-aranha de Homer. Só mais uma coisinha, e que nunca é demais repetir: não saia da sala antes do final, final mesmo. By the way, nunca faça isso.

(Trilha Sonora: Dolores O'Riordan - Are You Listening?)

quarta-feira, agosto 15, 2007

Blonde

A produção é antiga e só agora chegou ao Brasil. Mas vamos deixar o atraso para outro pôr-do-sol. “Blonde”, que conta a história de Marilyn Monroe, do nascimento como Norma Jean Baker à morte como o símbolo maior do cinema, está sendo exibida pela GNT. A série é fraca: a produção é de quinta categoria, a direção é sofrível (viciada), o roteiro é um compilado de clichês – daqueles que transformam boatos em verdades* – e os atores são todos de segundo escalão. Todos? Bom... A atriz que faz o papel de Norma Jean/Marilyn Monroe, Poppy Montgomery, é uma bela, belíssima surpresa.

Durante todo o mês passado, a GNT mostrou algumas cenas de “Blonde” em seus intervalos. E durante todo o mês passado, confundi Poppy com Naomi Watts. Entre as duas, eu escolheria Naomi, que está entre as três melhores atrizes da atualidade. Enfim. Poppy é mais conhecida como a agente gatíssima de “Without a Trace”. Gatíssima, mas nem tanto. Para Marilyn Monroe, são anos-luz de distância. Mas cinema também é magia, não é? :)

Poppy está perfeita, principalmente como Norma. Em alguns momentos, impressiona até pela semelhança, que parece não existir, ou estar anos-luz de distância. Aí está a tal da magia, e do talento que ainda não tinha visto na tal agente gatíssima. “Blonde” vale, portanto, pelo desempenho excepcional de Poppy, que passo a olhar com outros olhos a partir de agora. Olhos de fã (de Marilyn Monroe) cativado, conquistado e, digamos, apaixonado.

* Sobre os boatos transformados em verdades. Vamos esclarecer alguns fatos:

1. Sim. Marilyn Monroe nunca conheceu o pai. Sua mãe trabalhou na RKO e ficou mesmo bem maluca.

2. Sim. Marilyn Monroe morou em um orfanato e foi e voltou de casas de famílias diversas mais de 20 vezes. Ela só teve um lar depois de famosa.

3. Marilyn Monroe foi casada três vezes. Dizem que o único homem que realmente a amou foi Joe DiMaggio.

4. Marilyn Monroe era bipolar, em uma época onde a doença não existia e, portanto, não poderia existir diagnóstico e não poderia existir tratamento.

5. Marilyn Monroe engravidou duas vezes e sofreu dois abortos.

6. Marilyn Monroe foi notada pela primeira vez por um fotógrafo enquanto trabalhava no esforço de guerra dos Estados Unidos. Suas imagens passaram pelas mãos de milhares de soldados e causaram furor. Pelo menos três departamentos militares diferentes elegeram Marilyn Monroe (ainda Norma Jean) a mulher mais bonita e desejável. Um dos departamentos a elegeu como a única pessoa capaz de derreter o Alaska (meu título favorito).

7. É uma besteira ofensiva falar que Marilyn Monroe teve de dormir com produtores para conseguir seus primeiros papéis. Eu não acredito, mesmo que possa ser verdade. Sua ascensão foi lenta, gradual e absolutamente natural.

8. Marilyn Monroe adorava ler. Tinha mais de 200 livros em sua biblioteca particular, de autores como Rilke, Milton, Whitman, Emerson e Tolstoi. Estudou literatura na Universidade da Califórnia. Nada mal para uma “loira burra”, não é? Antes de falarem isso dela a próxima vez, tentem achar nas estantes de suas casas livros de Rilke, Milton, Whitman, Emerson ou Tolstoi.

9. Claro! Era inteligente e esperta. Só aceitava trabalhar com diretores de inegável talento. Procure por aí a lista de cineastas que Marilyn Monroe escreveu para os seus agentes com a instrução “trabalho apenas com esses aqui”.

10. Sim. Marilyn Monroe teve um caso tumultuado com John Kennedy e, sim, com Bob Kennedy também. Qualquer dia falo mais sobre a minha teoria para a sua morte.

11. Sim. Sua casa foi grampeada por mafiosos liderados por Sam Giancana.

12. Era uma atriz fantástica. Seu trabalho em “Os Desajustos”, de John Huston – que nunca mais esqueceu do teste de Marilyn Monroe para “O Segredo das Jóias” –, fica fácil entre as 10 melhores atuações femininas da história do cinema. Em seu funeral, quem leu um memorial emocionado, repleto de elogios a seu talento, foi Lee Strasberg. E isso diz tudo...

13. O nome “Marilyn Monroe” aparece 16 vezes neste post. Ops. 17.


(Trilha Sonora: Arctic Tale – Original Soundtrack)

domingo, agosto 12, 2007

Que Mundo é Esse?

A imprensa divulgou na última semana que o ator mais rentável do cinema americano é... Matt Damon! A cada dólar investido em seu salário, voltam U$29 (renda bruta). Fazendo um conta rápida e intuitiva - descontando impostos e custos com distribuição e exibição, por exemplo - diria que para cada dólar, retornam uns U$10 ou U$12. Talvez menos. Razoável.

Há bem pouco tempo, o ator dos U$100 milhões em Hollywood era Tom Hanks, dono de talento e competência inquestionáveis. Mas Matt Damon? Ele apareceu meio que de repente, e logo com um Oscar, como melhor roteirista por "Gênio Indomável", filme em que dividiu a caneta com Ben Affleck e a tela com Robin Williams, sob a direção de Gus Van Sant. Seu trabalho, desde então, é apenas razoável. É um daqueles profissionais que não comprometem uma produção (na maioria das vezes - em "Os Infiltrados" ele está patético), mas que também não ajudam. Eu não lembro de ter visto nenhuma grande atuação.

Vamos pensar um pouco mais sobre a notícia. Matt Damon trabalhou na trilogia "Homens e um Segredo", e ao lado de Brad Pitt e George Clooney. Foram três produções de orçamento "modesto", com pagamentos camaradas, e de boas bilheterias. Mas, cá entre nós, alguém comprou ingresso para ver Matt Damon? Duvido muito. Ele é também o ator principal da série de ação "Bourne", surpreendentemente bem aceita pelo público em geral. Temos também, como já comentado, "Os Infiltrados", que ganhou fôlego com os prêmios políticos que recebeu.

Acho que o número faz parte de uma daquelas estatísticas burras - e frias - de matemáticos calculistas. Um resultado sem análise, um dado sem informação. Bom para Matt Damon, sem dúvida. Para nós, é estranho. Eu não quero um mundo onde Matt Damon é o ator mais rentável, onde um bobo caricato como Miguel Falabella é respeitado - essa eu nem comento -, onde a aeróbica Ivete Sangalo é considerada uma grande artista e onde um bando de gente sem talento - de Piovanis a Dolabellas, de Hiltons a Richies - vira celebridade da noite para o dia. Tô fora.

(Trilha Sonora: Madredeus - O Porto)

quarta-feira, agosto 01, 2007

...e Antonioni

Como bom jornalista que sou, tomei um texto que recebi por e-mail, publiquei na internet sem pedir permissão e ainda um tanto fora de contexto. Sigo apenas o que a imprensa faz em seu dia-a-dia. Mas aqui serei um aluno bem ruim: abrirei espaço - e pela primeira vez neste blog - para o "direito de resposta" de Ricardo Homsi, que entra neste humilde Boulevard para tomar um café e jogar papo fora. Quando encontrar algo parecido com o que vai ler agora por aí, por favor, avise a todos. Essa discussão, esse debate saudável, esse conflito de idéias e percepções fazem falta. As vozes roucas que se calaram e sucumbiram à tirania de laudas e caracteres limitados também são culpadas pela produção artística medíocre.

"O curso de Cinema e Vídeo da USP é uma das últimas estufas a cultivar o chamado cinema autoral junto aos jovens. Lá se constata como é impressionante a força que um Gláuber Rocha pode ter sobre meninos e meninas que nem eram nascidos no ano em que ele morreu.

Convivi nesse meio sem participar espiritualmente dele, porque minha formação cinematográfica passa por uma geração americana de cineastas posterior aos falecidos desta semana: Woody Allen, Martin Scorsese e Francis Ford Coppola. Se hoje estão se repetindo ou se aquietando, em seu auge chegaram a ser sublimes. Confesso que só fui assistir a um longa de Antonioni durante a faculdade; de Bergman, só aluguei Fanny e Alexander em VHS porque a prova específica de admissão ao curso exigia conhecimento sobre o filme.

A citação do meu e-mail no texto anterior do Mário pode dar a entender que lamento a morte de Antonioni e Bergman por razões sentimentais. Não é verdade. Eu lamento pelas razões mais racionais possíveis.

Perdemos dois respiros intelectuais, duas variações no pulso do cinema, fundamentais para produzir buracos, derrubar limites e queimar pestanas. O cinema está se superficializando, e a morte desses dois símbolos é uma lente de aumento sobre esse processo.

Eu diria que o respeito pela inteligência adulta no cinema começou a diminuir em meados dos anos 70. Simbolicamente, a culpa talvez seja de um sujeito que, muito mais que cineasta, era um prodigioso inventor: George Lucas. Apoiado por um coletivo de jovens profissionais incansáveis e extraordinariamente criativos, e sob a mira do único estúdio que topou o risco financeiro, conseguiu produzir um filme que hoje todo mundo conhece. De uma só tacada, ele estabeleceu os parâmetros para o cinema-pipoca legível em escala planetária e subverteu toda a sistemática de distribuição e faturamento previsto para filmes. Abrir mão de cachê em troca dos direitos de venda de bonequinhos? Ninguém jamais ouvira falar nisso. Depois de Guerra nas Estrelas, ninguém mais deixaria de pensar nisso.

Não importava mais, por exemplo, ter ou não talento para dirigir atores. Lucas nunca teve esse componente (embora seu mentor Francis Ford Coppola tivesse de sobra). Seu cérebro estava em outra freqüência, e essa freqüência eletrizou o mundo. Conhecemos, a partir dali, as filas que dão volta em quarteirão. Ajudaram a provar que o prazer individual é o maior abridor de carteiras que existe.

O volume de dinheiro arrecadado permitiu à máquina cinematográfica americana crescer como um leviatã. Seus produtos abriram mercados e tornaram-se cada vez mais cobiçados, emulados, sonhados. O ideário de Lucas, fundamentado em escapismo e tecnologia aplicada à simulação, passaria nesses últimos trinta anos a ser majoritário – em função principalmente do impulso que dá aos negócios. Hoje, é hegemônico.

Nunca tivemos tantas salas de cinema no mundo – mas nunca antes os filmes foram tão parecidos uns com os outros.

O ciclo básico de ascensão, apogeu e decadência que permeia tudo no universo vai se encarregar de, um dia, subverter essa hegemonia. Os primeiros sinais de esgotamento estão aí: tínhamos bonequinhos e vídeo-games baseados em filmes, e hoje temos filmes baseados em bonequinhos e vídeo-games. Roteiristas que antes se apoiavam em literatura universal, hoje transcrevem quadrinhos de ação. Atores são chamados a interpretar figuras planas criadas originalmente para entreter sem compromisso e sem história.

Seja qual for o futuro, porém, não se pode esquecer que o cinema começou há 111 anos com a única intenção de entreter. Os esquetes cômicos registrados em nitrato pela Cinematográfica Pathé tinham a mesma intenção dos Transformers computadorizados de hoje em dia.

Se os filmes hoje são rasos, é bom verificar o atual estado da alma humana. Ou o tamanho da população infantil. Consumo de bobagens é próprio de crianças. Só temos de ter mais cuidado ao formá-las, para que não permaneçam crianças a vida inteira."


Valeu, Ricardo!

O Boulevard está aberto a todos! Gritem!

(Silêncio)

Ainda sobre Bergman...

Bergman, nas retinas ofuscadas pelas lágrimas de Emerson Luis, amigo de longa data.

"O amor e a morte: Amorte. Para Ingmar"

http://emerluis.wordpress.com/

Não visite apenas. Adicione aos seus favoritos.


(Silêncio)

Michelangelo Antonioni (1912-2007)

31 de julho de 2007. Poucas horas depois da morte de Ingmar Bergman, talvez por não suportar a solidão artística a que seria condenado, partiu Michelangelo Antonioni. Havia dito no texto abaixo que o cinema perdia apenas um grande cineasta, que nós perdíamos muito mais. Agora acho que tudo mudou. Nós perdemos mais, bem mais. Nós perdemos dois grandes diretores e, levada por eles, a arte do cinema. Perdemos tudo. E em dois dias, sem tempo para despedidas ou lamentos.

O cinema morreu ontem, dia 31 de julho de 2007, aos 111 anos.

Em um século e onze anos oficiais de vida, o cinema fez muito por todos. Homens como David Wark Griffith, Sergei Eisenstein, Jean Renoir, Fritz Lang, Alfred Hitchcock, John Ford, Billy Wilder, Howard Hawks, John Huston, Andrei Tarkovski, Roberto Rosselini, Akira Kurosawa, Orson Welles, Luis Buñuel, Charles Chaplin, Rainer Werner Fassbinder, Stanley Kubrick, David Lean e Luchino Visconti (e tantos outros) fizeram do cinema a expressão artística mais relevante da humanidade, e por sua qualidade intrínseca, pela mágica de seu movimento. Foram os mestres de gerações e mais gerações. Estes mestres, aos poucos, foram indo embora, deixando apenas seus legados, que renasciam em discípulos aqui e ali. Mas agora tudo chega ao fim. Dos mestres resta apenas a lembrança, que vai ser dissipada pela ausência de novos seguidores.

A linha foi quebrada.

Quem pode hoje ser chamado de mestre? Jean-Luc Godard. E só. Apesar de ser uma caricatura de diretor (já comentei aqui sobre “Filmes de Godard”), sua contribuição ao cinema é inegável. Alguém mais? Bernardo Bertolucci? Pedro Almodóvar? Werner Herzog? Woody Allen? Tsai Ming-Liang? Francis Ford Coppola? Theo Angelopoulos? Martin Scorsese? Alain Resnais? Wim Wenders? Takeshi Kitano? Clint Eastwood? Todos alunos, fazendo muito bem a lição de casa, claro. As principais referências ou são tênues (estudantis) ou não existem mais. E aqui vou pedir a ajuda de Ricardo Homsi, que, no dia em que o cinema morreu, enviou o seguinte e-mail:

“Considerando a sincronicidade das perdas dos dois cineastas, seria legal ver uma reflexão sobre o “fim simbólico” de uma era. Cineastas “eruditos” (inclusa aí uma geração posterior a Antonioni, personificada por Woody Allen e Scorsese) estão perdendo espaço para o apelo visual do CGI, para bons operadores técnicos e para o marketing bilionário? Para que lado a coisa vai? A inexorável marcha da cultura visual sobre a mente abstrata já demarcou o cinema como seu território por excelência? A globalização vai nos permitir encontrar outros observadores-pensadores que se expressem pelo cinema?”

Afinal, quando isso aconteceu? Podemos dizer que o vazio de talento que assola o cinema é culpa da hegemonia econômica americana? Talvez não. Ou talvez não somente. Na época do cinema mudo, por exemplo, os Estados Unidos eram responsáveis por mais de 80% dos filmes. O domínio cultural sempre existiu, porém, em algum momento, deixou de ser saudável para ser perverso. Esta perversidade é que, sem ser notada, foi minando e corroendo as culturas locais como um vírus. O que vemos hoje é um festival de explosões grandiosas, efeitos especiais fantásticos, figuras geradas por computador. E o que acontece com aqueles que gostam de ir ao cinema para reconhecer um vizinho, um amigo ou o pai, para ver na tela um amor perdido, para vivenciar paixões desvairadas, para sentir uma emoção qualquer? Essas pessoas vão ter mesmo é de entrar na pele de um adolescente de 15 anos e imaginar o que aconteceria com o planeta após a invasão de robôs gigantes que se transformam em carros, caminhões, helicópteros e aviões.

Acho que todos temos as respostas para as perguntas do e-mail do Ricardo. Eu vou dar as minhas, ainda sob o impacto das mortes de Bergman e Antonioni, dois de meus cineastas preferidos. Sim. Os cineastas “eruditos” estão fadados à repetição (Allen) e a besteiras como “Os Infiltrados” (Scorsese), que hoje até passa por um grande filme. A coisa vai para um lado essencialmente comercial, com o cinema como mera plataforma de lançamento de produtos para jovens em ebulição hormonal. A mente abstrata será inundada pela ação ininterrupta da glândula hipófise, e mesmo em adultos desprevenidos: um estímulo contínuo à puberdade. A globalização até ajuda, em minha humilde opinião. Mas será que veremos o surgimento de novos mestres?

Não tenho nem mais força nem mais vontade para ter esperanças.

O cinema morreu com Antonioni.


(Silêncio)