Nome:
Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

quinta-feira, agosto 30, 2007

Favoritos da Madrugada

E lá vamos nós para mais uma nota “ah, que saudades da década de 80...”. Há tempos, quando começou o meu interesse por cinema, não tinha muitas opções além da TV. E acompanhava a programação diariamente nos jornais, sempre em busca de uma pérola, seja de um diretor que precisava conhecer, um vencedor da Palma de Ouro, um cult tardio e por aí vai. Os fins de semana, obviamente, eram especiais. Sem a obrigação de acordar cedo para ir para a aula, passava as madrugadas vendo os filmes do Corujão. E de tudo o que vi – e na época via qualquer coisa, de ponta a ponta, até a missa -, alguns ficaram marcados, por um motivo ou outro. Um deles é “O Destino do Poseidon”, até hoje o melhor “disaster movie” de todos os tempos.

“Disaster Movie” é quase um gênero, tipicamente americano, que surgiu com mais força logo no início dos anos 70, com “Aeroporto”. Depois vieram, entre outros, “Inferno na Torre” e “Terremoto”. A assinatura que marcou a década foi do produtor Irwin Allen, que capturou a psique americana para projetá-la nas telas (veja o posting “Ostracismo Cultural”, abaixo). Um filme de desastre tem tudo a ver com a capacidade de superação do homem, da vitória em meio à adversidade, de enxergar a luz mergulhado na escuridão. É um conto moral, de incentivo, onde os pecadores e os que não trabalham em equipe morrem e onde os heróis sacrificam a própria vida pelo bem geral. Os Estados Unidos estavam vivendo um período estranho: a geração Paz e Amor tinha sucumbido na tragédia de Altamont, em 1969, e jovens ainda lutavam por uma aventura ideológica no Vietnã, perto de acabar com uma derrota humilhante.

(Os japoneses também têm seus “disaster movies – tv series”, mas sempre a partir de um invasor externo, estilo Godzilla, que aparece na década de 50. Estes filmes também expressam tudo o que acabei de comentar, mais o medo de ser dominado por uma força maior, trauma da Segunda Guerra Mundial).

Tudo isso para falar que a refilmagem de “O Destino de Poseidon” foi a estréia da última semana na HBO. Por curiosidade, vi a primeira parte, até a onda virar o navio, ponto crucial da trama. E aí fiquei pensando sobre os avanços na arte cinematográfica. A cena moderna, de 2006, sob o comando de Wolfgang Petersen, é bem ruinzinha, sem impacto nenhum, sem qualquer efeito dramático. Nada depois faz muito sentido. A luta dos sobreviventes vira um tanto faz, tanto fez. Foi feita no computador, com água de mentira. A antiga, de 1972, sob o comando de Ronald Neame, é fantástica, de fazer você prender a respiração e agarrar em alguma coisa. A luta dos sobreviventes ganha, a partir de então, a dimensão certa. E o espectador, coitado, é obrigado a ir junto. Foi feita em um tanque e uma miniatura nos fundos do estúdio, com água de verdade.

Do mecânico para o digital, de nada serve a tecnologia se você não sabe o que fazer com ela. Simples assim...


(Trilha Sonora: Dolores O'Riordan - Are You Listening?)