On The Boulevard des Capucines

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

terça-feira, outubro 14, 2008

O Profeta Mobilizador

O cara aí do título sou eu.

Sim! Eu sou um profeta, e um profeta mobilizador.

Sou profeta porque fiz a previsão certeira de que a Mostra de Cinema de São Paulo estaria com os dias contados (apesar de alguns de seus pontos fortes). No último domingo, passeando pela avenida Paulista, dei um pulinho na central da Mostra, no Conjunto Nacional, umas três horas da tarde. A venda dos pacotes havia começado um dia antes, no sábado de manhã. Mais de 24 horas. E ainda estavam disponíveis três pacotes de 20 ingressos, uns oito de 40 e vários integrais e especiais. Lembro que, no ano passado, tais ingressos esgotaram enquanto eu ainda estava na fila. O descaso agora bate no bolso dos organizadores.

Eu falei! Eu avisei!

Sou mobilizador porque acenderam o Obelisco do Ibirapuera! Bastou meu texto indignado para que as autoridades acordassem para tal disparate histórico e cultural.

Eu reclamei! Eu reclamei!

Sou também, como visto acima, um delirante.

(Trilha Sonora: Stereolab - Chemical Chords)

sábado, outubro 11, 2008

5 Horas e 30 Minutos

Esse foi o tempo que eu ganhei, na cama, por desistir de enfrentar à insana tarefa de tentar comprar os ingressos para a Mostra de Cinema de São Paulo. A incompetência retrógrada dos organizadores acaba de resultar na perda de (mais) um cinéfilo: fiquei dormindo até mais de meio-dia. Depois, fui comer um bacalhau, homenagem indireta aos líderes de tão importante, mas tão maltratado, festival. Não fosse pela qualidade - muitas vezes questionável - dos filmes ou da inércia que a 'marca' exerce nos 'descoladinhos' da moda da vez, a mostra estaria com os dias contados. Uma tristeza substituída por sonhos que não me lembro... Eu vou ficar devendo a todos comentários sobre os filmes selecionados. Mas voltarei em breve.

(Trilha Sonora: Amanda Palmer - Who Killed Amanda Palmer?)

segunda-feira, outubro 06, 2008

O Grande Filme

Antes de a gente começar, que tal um acordo? Vamos falar sem hipocrisias, sem meias-palavras, sem eufemismos, sem falsas idéias... O cinema de arte não existe e nunca existiu. O cinema de arte é uma mera classificação de filmes para as prateleiras das locadoras ficarem pouco mais organizadas. O cinema nasceu, primeiro, como uma curiosidade científica. Em sua puberdade, foi entretenimento, mágica e diversão. Depois, cresceu para virar uma nova forma de registro histórico, ou até mesmo de propaganda política. E desde sempre, foi um baita de um bom negócio.

Para quem já está horrorizado, cito François Truffaut. Para quem já está surtando com a heresia, cito a fonte. Em entrevistas para Chris Petit e Verina Glaessner, realizadas entre os dias 30 de novembro e 6 de dezembro de 1973, e publicadas na revista 'Time Out' número 197, o cineasta francês, meu professor, disse: "Vejo apenas um ponto em comum entre os jovens cineastas (da Nouvelle Vague): todos eles se preocupam com o sucesso de bilheteria". Não acredita? Está lá no livro 'O Cinema Segundo François Truffaut', na página 40. De quem Truffaut estava falando? De Louis Malle, de Claude Chabrol, de Alain Resnais e de Jean-Luc Godard.

Reparem que eu não estou dizendo que não existe arte no cinema. Existe sim. Mas a arte que rende uns belos trocadinhos. Pode ser uma questão semântica. Só que pode ser uma questão semântica que fica em rota de colisão com um bando de pretensos intelectuais que vivem de repetir debates vazios para as suas patotas. Cá entre nós, isso não leva a lugar nenhum. 'Living is easy with eyes closed'. Quer ser feliz acreditando em coelhos que fabricam ovos de chocolate no maravilhoso mundo da Pirulitolândia? Problema seu. Quer propagar suas crenças ao mundo? O problema é nosso.

O professor Edward Jay Epstein é um dos homens que estão aí para deixar essas feridas bem expostas. Ele é o autor do livro 'O Grande Filme: Dinheiro e Poder em Hollywood', que acaba de ser lançado no Brasil pela Summus Editorial (apesar da capa em Inglês na ilustração acima). Logo no primeiro capítulo, surge a comparação entre as cerimônias de entrega do Oscar de 1948 e de 2004. Na aparência, tudo parece a mesma coisa. O que mudou, e de forma significativa, foi o jeito de ser de Hollywood. As histórias da formação dos estúdios, da decadência dos estúdios e da falência dos estúdios estão lá, sem hipocrisias, sem meias-palavras, sem eufemismos, sem falsas idéias.

Para começar, vamos derrubar um mito. A hegemonia do cinema americano, tão bem retratado por Epstein, está destruindo os cinemas regionais. É uma meia verdade que os idiotas de plantão adoram jogar ao vento. Na época do cinema mudo, a produção americana já respondia por mais de 80% da produção mundial. E naquela época, os Estados Unidos também abocanhavam tudo o que aparecia de talento, empresarial ou artístico, que entrasse em sua mira. Isso não impediu o aparecimento do cinema alemão, do cinema italiano, do cinema inglês, do cinema japonês, do cinema russo ou até do cinema brasileiro. Como também não impede hoje o aparecimento do cinema iraniano, do cinema malaio, do cinema coreano, do cinema chinês, do cinema mexicano, do cinema argentino ou até do cinema brasileiro.

Vamos seguir em nossa ira iconoclasta e destruir mais uma bobagem: o aclamado (IRONIA) cinema independente americano. O cinema independente americano é aquela bomba da Segunda Guerra Mundial que está enterrada no quintal de um velho decrépito em uma região rural do sul da França. Não explodiu e nunca vai explodir. Primeiro porque não há ninguém independente em Hollywood. Se você algum dia viu algum filme independente americano, você viu também a prova de que isso não existe. Se você viu, alguém distribuiu e alguém exibiu. E como na produção, não há ninguém independente na distribuição e ninguém independente na exibição. O tal do cinema independente americano é o ópio dos intelectualóides.

E tem mais! O que é chamado de independente não presta. É ruim e sem graça. Exemplos: Steven (Eca!) Soderbergh e Hal (Argh!) Hartley. Apenas para constar, eu não considero Coppola (que fez 'O Poderoso Chefão' para a Paramount) e sua geração (Spielberg, Scorsese, Lucas) como o 'cinema independente no poder'. Na verdade, não foi bem assim... Na verdade, foi bem longe disso...

O resto dos ídolos atirados ao chão, deixo para você mesmo conferir. Leia o livro. O importante hoje - fundamental para a sobrevivência do cinema como curiosidade científica, entretenimento, mágica, diversão,forma de registro histórico ou propaganda política e, claro, negócio - é discutirmos o futuro do cinema. O que estamos fazendo hoje? E quais serão as consequências? Hollywood criou um monstro. Quem já viu o filme, sabe o final. O monstro escapa e mata o seu criador. O cinema americano vai entrar em colapso? Quando? Vai devorar os outros cinemas?

Minhas apostas: sim, em breve - na próxima década - e não.

Só Truffaut sabe...

(Trilha Sonora: Oasis - Dig Out Your Soul)

domingo, setembro 28, 2008

Aos Olhos Azuis


Peguei emprestado o título de Frank Sinatra para homenagear outra lenda americana, Paul Newman, que morreu de câncer aos 83 anos. Além de um belíssimo ator, era também um estranho no ninho em Hollywood. A fama não virou um meio de realização pessoal, mas de realização coletiva. Um ser humano daqueles invejáveis. Adeus.

(Silêncio)

quarta-feira, setembro 24, 2008

Pílulas (Atrasadinhas) de Sabedoria

Pois é... Depois de ficar quase um mês afastado de minha meia dúzia (e olhe lá) de leitores, o que poderia falar? Mil coisas. Mas, para resumir, ando de cabeça cheia, coração ocupado e corpo dolorido (não pensem besteiras: é do Nintendo Wii). Vamos voltar logo ao batente. Como várias coisas aconteceram, farei pílulas de minhas idéias, de 1 a 10:

1. "Tropa de Elite" é um filme B ruim
Foi mais ou menos assim a crítica do New York Times ao filme de José Padilha. Nada mais justo. Só aqui mesmo, na boléia da pirataria de fundo de quintal, é que virou obra-prima. Por falar nisso, ainda não vi. Nem preciso. Deu no New York Times...

2. O Brasil no Oscar
Depois dos abusos autoritários da tropa de elite no ano passado, foi a vez de Bruno Barreto fazer politicagens. Nada além de uma montanha de interesses explica a indicação de "Última Parada 174" como o (O) representante do Brasil no Oscar. A "Última Parada" é mesmo o fim da picada. Com o perdão do trocadilho.

3. 'A Linha de Passe' de Walter Salles
Gostei muito, mas depois de uma conversa aqui e uma conversa ali, já vejo com olhos um tanto mais críticos. Não é uma maravilha. É apenas um filme muito bom - e obviamente melhor que o do Bruno Barreto, que, por acaso, ninguém viu...

4. 'Ensaio Sobre a Cegueira' de Fernando Meirelles
Fiquei decepcionado. Faltou direção. Acho que o Fernando Meirelles ainda está verde, apostando em maneirismos que não levam a lugar nenhum. Pontos fortes: Julianne Moore e Mark Ruffalo mais um pouco do texto que restou do José Saramago. E acho que é só isso...

5. O Festival do Rio e a Mostra de Cinema São Paulo
A maratona começou! No Rio de Janeiro, adivinhem, pelo menos três horinhas para garantir um ingresso. Já cansei de passar por isso, aqui em São Paulo. Culpa dos macaquinhos da idade da pedra que cuidam de tal 'logística'. Eu decidi que em 2008 vou ficar de fora, após anos e anos de fidelidade. Não quero mais ser tratado como gado para ver - com sorte - uns três bons filmes. Menos, né?

6. "Berlin Alexanderplatz"
O que me faria ser castrado e marcado com ferro quente a caminho do matadouro? A magnífica obra de arte de Rainer Werner Fassbinder, feita para a TV, com umas 15 horas de duração (imagem acima). Está na programação da mostra paulistana, anos depois de sua hoje famosa exibição original. Deveria ser um filme 'compulsório'. Você é obrigado a ver e ponto final.

7. Jean Vigo de Ponta a Ponta
A Versátil acaba de lançar um DVD duplo com a obra completa de Jean Vigo. Além dos mais conhecidos 'O Atalante' e 'Zero em Comportamento', ainda temos os seminais 'A Propósito de Nice' e 'Taris ou a Natação'. Já está em minha DVDteca. :)

8. Um Pouquinho de Música
Okey, okey. Eu fui ao show do Scorpions. Os caras estão velhinhos, fazem um show datado, mas mandam bem. Isso é o que vale. Para o fim do ano tenho garantidos os ingressos para o R.E.M. (viva!), o Gogol Bordello (party!) e o Judas Priest. Os da Madonna contarei apenas quando estiverem em minhas mãos. Carinha eclético, não?

9. Suicídio Virtual
Há pouco tempo divulguei aqui mesmo o meu perfil no Twitter. Desisti. Estou pensando agora em criar um perfil para o Boulevard des Capucines, sobre cinema e mais nada. Fiquem aí esperando.

10. Bolinhas Azuis
Para completar dez pílulas, comemoro em público o fato de eu já conseguir tocar algumas das bolinhas azuis no 'Guitar Hero'. Estava achando que o meu dedinho era um tanto atrofiado.


Apesar de estar com a cabeça cheia, o coração ocupado e o corpo dolorido, prometo passar por aqui mais vezes. Afinal, é muito, muito divertido. Até mais ver!


(Trilha Sonora: Metallica - Death Magnetic)

quarta-feira, agosto 27, 2008

Um Novo Ângulo da Perspectiva

Já leram 'Uma Questão de Perspectiva', logo aí embaixo? Pois é. Depois de relaxar e contar até 10 umas 45 vezes, comecei a pensar sobre o assunto novamente. E fiquei matutando quem é quem na história do cinema. Olhei a 'Lista Mário Reys dos 100 Melhores Filmes de Todos os Tempos', fiz visitas à minha memória, passei por uns livros e pronto! Separei os nove mais importantes diretores de todos os tempos, em minha modestíssima opinião. O objetivo é: não diga que um filme é genial se não tiver sido dirigido por um dos carinhas aqui. Eles são os Da Vincis, os Einsteins, os Darwins, os Shakespeares, os Freuds, os Mozarts, os Chicos Buarques, os Maradonas da sétima arte. Olhem só:

David Wark Griffith
Sergei Eisenstein
Fritz Lang
Alfred Hitchcock
Stanley Kubrick
Jean Renoir
Roberto Rossellini
Glauber Rocha
Ingmar Bergman


E agora você está aí querendo atirar na tela de seu computador. Calma. Há alguns cineastas que quase chegaram lá. Eu não os considero 'gênios', de talento nato, mas autores brilhantes, excepcionais. São esses aqui:

Federico Fellini
Michelangelo Antonioni
Luchino Visconti
John Ford
François Truffaut
Akira Kurosawa
Andrei Tarkovski


E agora você está aí carregando o revólver. Muita calma nessa hora. Eu pensei também nos diretores que são muito bons, que são ótimos, que são monstros do cinema. Segue uma pequena amostra, aberta para vocês palpitarem e aumentarem:

Jean Luc Godard
Francis Ford Coppola
Orson Welles
Pedro Almodóvar
Tsai Ming Liang
Paul Thomas Anderson
John Huston


Seguindo a lógica de famoso dito popular 'françois-trufista', os filmes dirigidos pelo primeiro escalão são melhores que os dirigidos pelo segundo escalão. E os do segundo escalão são melhores que os do terceiro escalão. Simples assim.

Achou Julio Bressane por aí? E Neville d'Almeida? Não? Pois é.

(Trilha Sonora: Beth Carvalho - Andança)

sexta-feira, agosto 22, 2008

Uma Questão de Perspectiva


O mundo está rápido demais. Tudo bem. Isso vocês já sabem... Mas além da velocidade excessiva, o mundo está fora dos eixos. Só assim mesmo para explicar tanta discrepância, cultural e - em tempos olímpicos - esportiva. Vamos aterrisar. Nas semanas passadas, ouvimos muito falar sobre o Festival de Gramado e sobre aquela papagaiada cinematográfica tupiniquim em Nova Iorque, que já foi tema de conversas nervosas aqui em nosso humilde boulevard...

O 36º Festival de Gramado consagrou o filme 'Nome Próprio', de Murilo Salles. O prêmio de melhor diretor foi para Domingos de Oliveira, por 'Juventude'. Murilo Salles fez 'Faca de Dois Gumes' e 'Todos os Corações do Mundo'. Domingos de Oliveira, 'Todas as Mulheres do Mundo' e 'Feminices'. Aqui no Brasil, eu os classifico como 'reconhecíveis'. Na América Latina, como 'autores dispensáveis'. No mundo, como 'uns nadas'. Como estamos agora falando de Kikitos, sem maiores críticas. Tudo bem. O que não está bem é a lista de homenagens que assolou os palcos de tão simpática cidade: Renato Aragão e Júlio Bressane.

Renato Aragão (aka Didi Mocó) é um mito. Um mito brasileiro, que não ultrapassa fronteiras. Um mito brasileiro que há séculos não brilha mais. Um mito brasileiro que vive de glórias passadas. Um mito brasileiro que construiu sua história na televisão, como protagonista de um dos melhores programas humorísticos de todos os tempos. No Brasil. E que tem história também no cinema brasileiro. Ele é um dos responsáveis por algumas das maiores bilheterias já registradas ao Sul do Equador.

Dos 749 filmes com a assinatura 'Os Trapalhões' e a marca Renato Aragão, quantos prestam? Nenhum. Quantos são legais? Vários, de perder de vista. Quantos são divertidos, ótimos para passar o tempo com risadas inocentes e bolinhos de chuva? Opa! Mais um tantão. Esses filmes são relevantes para a cultura nacional? Não, mas admito que o tema pode ser discutido. São relevantes para o cinema nacional? Não. E aqui não há espaço para debate. E Renato Aragão? É um bom ator? Por vezes é engraçadinho. E olhe lá. Mas ele então dirigiu alguns deles? Talvez nem o carro entre a sua casa e o set. São filmes de arte? Nem a pau, Juvenal! Esse tal de Renato Aragão ainda foi homenageado no Festival de Gramado? Pois é...

O Festival de Gramado tem de celebrar o cinema latino-americano, com ênfase para o cinema brasileiro, para o cinema brasileiro de arte, a expressão real de nossa herança social e cultural. Homenagem a Renato Aragão é uma baita de uma trapalhada, fruto de uma perspectiva torta que temos de nós mesmos. Mas o pior estava por vir em uma noite que teve até blecaute. De luz e de idéias.

Júlio Bressane é um marginal. Diretor de 'Matou a Família e Foi ao Cinema', 'Memórias de um Estrangulador de Loiras', 'O Monstro Caraíba', 'Filme de Amor' e 'Cleópatra'. Ele é uma figurinha inexpressiva na cultura nacional. Fora daqui então... No cinema nacional, ele até conseguiu escrever seu nome nos livros com destaque. Com destaque aqui no Brasil. Lá fora, no mundo civilizado, nunca ninguém ouviu falar do infeliz. vamos ajustar as lentes. Júlio Bressane é um dos responsáveis pela decadência do cinema nacional anos atrás. Júlio Bressane era um dos babacas incompetentes do tal do 'Cinema Marginal', um cineminha vagabundo sem ambições artísticas e, pior, afastado do que era o Brasil naquele momento. Um cineminha de pão e circo e olhos bem fechados. Era o cineminha que não queria pensar, que fazia oposição ao 'Cinema Novo' com putaria. Foi a obscenidade deslavada que afundou a percepção do brasileiro em relação ao cinema produzido por aqui. Foi o bundalelê nas telas que manchou os olhos dos brasileiros. Para alguns, de forma indelével. "Cinema brasileiro não presta" virou mantra na boca de muita gente que só via o cinema nacional na "Sala Especial", e com as calças arriadas. E dá-lhe Bressane! E ele ainda falou que a homenagem tinha gosto azedo. Concordo plenamente.

Vocês já perceberam que eu falei demais. É a raiva. E ainda nem comentei nada do festival de cinema brasileiro de Nova Iorque. Minha opinião é clara: desperdício de dinheiro público. Não quero um centavo meu usado para a divulgação equivocada de filmes como 'O Guerreiro Didi e a Ninja Lili'. Muito menos de Bressanes ou Nevilles. É tudo uma questão de perspectiva. Nem tudo o que é bom, legal e divertido por aqui é bom, legal e divertido em Nova Iorque ou em Pequim. Está mais do que na hora de enterrarmos nosso complexo de vira-lata, nossa vontade desmedida de querer ser, de querer pertencer, de forçar a barra para criar factóides do tipo 'Gramado homenageia Renato Aragão e Júlio Bressane'.

Wim Wenders, em visita ao Brasil, disse que o cinema atual carece de um senso de 'pertencimento local', de 'culturas regionais'. Afirmou também que conheceu o Brasil por meio dos filmes de Glauber Rocha. E como já disse Anton Tchecov, cante a sua aldeia para cantar o mundo. Sem exercer o princípio da homegeneidade, do 'vou fazer igual', do 'vou copiar'. Somos o Brasil e fazemos cinema brasileiro. temos relevância aqui (faltava não ter...) e alguma na América Latina. Eventualmente, no mundo. Pan-americano não é Olimpíada. Rio de Janeiro não é Pequim. Thiago Pereira não é Michael Phelps. Renato Aragão não é Charles Chaplin. Júlio Bressane não é John Ford. E o Brasil é só o Brasil mesmo. E olhe lá...

É tudo uma questão de perspectiva.

(Trilha Sonora: iPod da Carol - Shuffle Songs)