On The Boulevard des Capucines

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

sábado, julho 26, 2008

Vamos Tirar o Pé do Acelerador

O mundo gira a 1.669,8 quilômetros por hora. E viaja ao redor do Sol a 107.278,87 quilômetros por hora. Não vou arriscar fazer o cálculo das velocidades conjuntas. Para ser bem sincero, não sei nem por onde começar. Mas arrisco dizer sem nenhum medo de errar que estamos no maior gás. Sei lá o que está acontecendo... Acho que finalmente isso começou a nos afetar.

As pessoas hoje vivem correndo, aflitas com o relógio. Qualquer aparelhinho vagabundo faz tudo. Um celular, por exemplo, serve para ouvir música, fotografar, filmar, ler e-mails, ver TV e - que coisa inédita - até fazer uma ligação ou outra. E nós, armados com nossos celulares, fazemos tudo isso. Pior. Fazemos tudo isso e ao mesmo tempo. Pois bem. Já falei por aqui que o cinema é um reflexo da sociedade. Somos nós diante do espelho, na forma e no sentido.

E que cinema é essa nossa cara? O cinemão americano. O maior sucesso do verão é, sem grandes surpresas, 'The Dark Knight', também conhecido como o novo filme do Batman. A produção, dirigida mais uma vez por Christopher Nolan, está colecionando dezenas e dezenas de críticas positivas e, claro, milhares e milhares de dólares. Eu vou para o outro lado. Após uma semana de reflexões posso afirmar que não gostei. A interpretação de Heath Ledger é absurda (eu o indicaria ao Oscar) e o trabalho de reformulação do personagem é magistral. Mas o filme é ruim.

A pergunta é: por que?

A resposta é: porque é rápido demais.

'The Dark Knight' tem quase três horas. Ao invés de ser um passeio agradável no campo, são três horas em uma montanha-russa desgovernada. A história - que foi construída pela internet, em uma bela campanha viral para os fãs - apesar de relativamente simples é cheia de reviravoltas. Era coisa para uma trilogia, e que acabou condensada em três horas. Não sobra tempo para acompanharmos a trama, para entrarmos no clima, para conhecermos os personagens, seu ambiente e suas motivações. Não sobra tempo para pensar. Ao apagar das luzes, somos atacados por um bombardeio de imagens em um ritmo alucinante. Eu fiquei tonto. Que cinema é esse?

Sorte nossa que no mesmo cinema americano há ainda quem nos leve para um agradável passeio no campo. Acabei de ver 'Match Point', do Woody Allen. Estava dando um tempo de Woody Allen. Considerava estagnados seus trabalhos mais recentes. Mudei de idéia. E decidi correr (ai, ai) para recuperar o tempo perdido e assistir as obras que deixei passar...

'Match Point' é coisa de gente grande. Quem sabe, sabe. Woddy Allen nos dá todo o tempo necessário para conhecermos os personagens, seu ambiente e suas motivações. A história, apesar de relativamente simples, é cheia de reviravoltas. E quanta diferença! Podemos pensar, torcer, imaginar. Enfim, podemos curtir.

A lição que fica é de que precisamos tirar o pé do acelerador.

(Trilha Sonora: Gogol Bordello - Super Taranta!)

A Revolução do Punk Cigano

Alguém disse por aí que Gogol Bordello é uma mistura de The Pogues com The Clash. Acertou na mosca! Mas vou além... Gogol Bordello é uma explosão criativa, daquelas que surgem de tempos em tempos para fazer a gente pular até cansar. Há anos não ouvia nada tão absurdamente diferente e divertido.

E tenho duas boas notícias. A primeira é que este cidadão do mundo acaba de lançar seu álbum mais recente, 'Super Taranta!'. Um baita de um disco, para fazer a festa rolar. A segunda é que ele está vindo para o Brasil. Eu estarei lá, curtindo o tal do Gypsy Punk. Só para já ir criando a expectativa, fiquem com o vídeo da música 'Wonderlust King', que está no 'Super Taranta!'.

A trilha sonora é meio óbvia, não? :)

terça-feira, julho 22, 2008

Se Alguém Perguntar Por Mim...

... Diz que fui por aí
Levando meu bloguezinho embaixo do braço
Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
Se houver motivo
É mais um texto que eu faço
Se quiserem saber se volto
Diga que sim
Mas só depois que a saudade se afastar de mim


Pois é. Pego emprestada letra tão memorável - com algumas 'liberdades' - para dizer que enquanto eu estiver morrendo de preguiça e de saudades meu blog fica assim, sem atualização. Em breve volto para falar da velocidade do novo filme da franquia 'Batman' (com a interpretação magnífica de Heath Ledger), de Jonathan Safran Foer e da edição brasileira da revista Granta, da greve dos Correios, do Woody Allen, um pouco mais do último disco de Aimee Mann (porque nunca é demais) e das dez músicas que estão hoje no Top 10 do meu coração.

Combinado? Então tá...

Por enquanto, se alguém perguntar por mim diz que...

... Tenho um bloguezinho para me acompanhar
Tenho alguns queridos leitores, eu sou quase popular
Tenho a madrugada como companheira
A saudade me dói, o meu peito me rói
Eu estou na cidade, eu estou na favela
Eu estou por aí
Sempre pensando nela


(Trilha Sonora: Girlschool - The Very Best of Girlschool)

terça-feira, julho 08, 2008

The Good, The Bad And The Ugly


The Good

Glauber Rocha em DVD. Sua obra está sendo restaurada pouco a pouco e lançada em doses homeopáticas em Versátil. Nas prateleiras das boas lojas do ramo, você já encontra 'Deus e o Diabo na Terra do Sol', 'Terra em Transe', 'A Idade da Terra', 'Barravento' e 'O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro'. Trabalho impecável! Todos os DVDs trazem extras de montão, com documentários, entrevistas e tudo mais que um fã de Glauber Rocha podia querer em um sonho louco de verão.

The Bad

No DVD 'O Drgão da Maldade Contra o Santo Guerreiro' há um depoimento sobre o filme, com cerca de 30 minutos, de Martin Scorsese. É uma aula de cinema. Bem melhor do que cinco anos de críticas e análises imbecis nas publicações brasileiras (livro a cara de pouquíssimas pessoas...). O diretor de obras-primas como 'Touro Indomável' e 'Taxi Driver' diz logo que não entende bem a cultura mostrada, já que cresceu com uma visão limitada do mundo, isolado em uma comunidade italiana no Bronx, em Nova Iorque.

Mas Scorsese entende tudo! É a diferença entre um artista de verdade e um palhaço espalhafatoso como Michael Bay. Ele pode não sacar muito da cultura, mas pega tudo o que tem a ver com a linguagem cinematográfica e a construção da narrativa. Não é por acaso que é um mestre...

The Ugly

A Silver Screen Collection lança vários filmes importantes em DVD aqui no Brasil. Filmes importantes mesmo, de cineastas consagrado, acima de críticas. Mas lança de um jeito... As caixinhas são deploráveis, os textos são um pavor e as imagens, de quinta categoria. Há bem pouco tempo, chegaram ao mercado oito (8!!!) títulos da brilhante carreira de François Truffaut. Felicidade pouca é bobagem. Até ver o trabalhinho de porco (com todo o respeito aos bichinhos) que foi feito com obra tão significativa. Custava fazer algo bonitinho, puxa vida? Ao pessoal da Silvre Screen Collection: vejam e copiem os DVDs da Versátil.

(Trilha Sonora: The Ramones - End Of The Century)

Patrimônio Paulistano

9 de julho. Para nós, paulistas e paulistanos, não há data mais importante. Foi em um dia 9 de julho que estorou a Revolução Constitucionalista de 1932. A gente lutava contra o governo provisório de Getúlio Vargas, que havia suprimido a constituição. Oras, bolas! Vamos às armas!

Para comemorar evento tão importante, temos o tradicional desfile na região do Parque do Ibirapuera, onde está o famoso Obelisco, o maior monumento da cidade (são 72 metros de altura). Para quem não sabe, é um mausoléu. Ali estão os corpos de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo - todos mortos durante a revolta - e de mais de 700 bravos soldados. Em suas 'paredes' está o seguinte poema, de Guilherme de Almeida:

"Aos épicos de Julho de 32, que,
fiéis cumpridores da sagrada promessa
feita a seus maiores - os que
houveram as terras e as gentes por
sua força e fé - na lei puseram sua
força e em São Paulo sua Fé."


Na imagem acima você vê o Obelisco. Vê claramente. Agora experimente passar por lá no fim da tarde, ou de noite mesmo. Não vai ver coisa nenhuma. O Obelisco de 32 está às escuras. O monumento mais importante da cidade de São Paulo não pode ser visto depois das seis da tarde. Queria uma explicação, e bem razoável. Porque é um absurdo sem tamanho! Além das 'árveres', o Obelisco somos nós, paulistas e paulistanos! É a nossa alma, nosso corpo, nosso sangue! Tudo lá, imerso no maior breu. Uma baita de uma falta de respeito.

E aí eu lembro da tal Lei Cidade Limpa. Eu sou parcialmente contra e, obviamente, parcialmente a favor. Acho que tínhamos muito o que fazer antes de apontar os dedos para a poluição visual paulistana. Nossa cidade está suja, com as calçadas quebradas, as ruas em frangalhos, a iluminação precária, a sinalização em pé de miséria, as praças de dar dó e por aí vai. E o Obelisco apagado...

Tenham santa paciência!

Logo hoje, véspera do 9 de julho, vi o novo trailer de 'Blindness', último filme de Fernando Meirelles, baseado em 'Ensaio Sobre a Cegueira', de José Saramago, parcialmente gravado em São Paulo. Que delícia ver a cidade no cinema. Até aquela ponte horrorosa - estaiada, né? - fica bonitinha... Bom. Eu acho feia pacas. Mas admiro quem vê poesia e beleza em números e formas geométricas, como poliedros, por exemplo. Não apenas admiro. Tenho certeza que me apaixonaria por alguém assim. 'You must love what you don't have'.

Antes de eu ir embora, por favor, acendam o Obelisco!


(Trilha Sonora: Rasputina - A Radical Recital)

sexta-feira, julho 04, 2008

RSS/DV (ou Reflexões Sobre o Sentido/Da Vida)

Alguém já teve uma epifania? Pois é... Eu tive.

E faz bem pouco tempo. A vida, assim de repente, sem aviso, muda seu rumo e te leva junto, sem muita chance de escolha. Algumas alterações de rota são ruins, puxam você lá para baixo. Outras são ótimas, levam você lá para cima. A minha vida, quem diria, está em uma dessas fases.

Vejam só que agora o meu blog tem um RSS!

Joguei fora o meu espeto de pau...

Nada mais de e-mails chatos ou pressões pelo MSN! Bacana, não?

Cortesia da 'Lovely' Carol Leslie. Cheers, babe! :)

Cadastrem-se!


(Trilha Sonora: The Mars Volta - The Bedlam In Goliath)

High Bass Com Sotaque Latino

Por razões que já discutimos aqui (só ver os posts anteriores), o Brasil está culturalmente isolado do resto da América Latina. E na música não poderia ser diferente. Quantas bandas ou artistas, por exemplo, são famosos por aqui, de lotar casas de shows e tudo mais? Meia dúzia? Três, talvez? Enfim... São poucos. Mas quando falamos de um gênero específico, daqueles cultuados por nichos fora da moda, a história é outra.

Falemos de rock progressivo.

Eu tive a minha fase de fã de rock progressivo. Conhecia um monte de grupos estranhos de lugares esquisitos. Do Chile, tenho em minha coleção até hoje uma obra-prima incontestável: 'Alturas de Machu Picchu', o álbum clássico de Los Jaivas. Os caras - de Viña Del Mar - são os melhores representantes latino-americanos nesse tal de roque enrow progressivo. No Chile, são monumentais. A imagem que ilustra o texto (mais uma de minha autoria) é um busto de Eduardo 'Gato' Alquinta, guitarrista e vocalista da banda, morto em 2003. Está no Parque da Quinta Vergara, em Viña Del Mar, ao lado de Pablo Neruba e Gabriela Mistral. Reconhecimento pouco é bobagem.

Voltemos ao rock dos Jaivas, no ritmo há mais de 30 anos! 'Alturas de Machu Picchu' é baseado em um poema de Pablo Neruda. Está em 'Canto Geral'. Como o Pink Floyd fez em Pompéia, eles levaram todos os seus instrumentos para o topo das montanhas peruanas e gravaram um especial para a TV lá mesmo, em Machu Picchu. Também fizeram um show monumental na Ilha de Páscoa. Sem falar que tocaram na Antártida. Eles são os reis dos concertos 'diferentes'. Para quem não conhece, vale muito conferir. Para quem já conhece, vale uma nova visita.

E viva o rock latino dos Jaivas!

(Trilha Sonora: Alturas de Machu Picchu - Los Jaivas)