On The Boulevard des Capucines

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Local: São Paulo, São Paulo, Brazil

quarta-feira, junho 27, 2007

A Bela de Nova Iorque

A bela de Nova Iorque - que, por um simples acaso do destino, nasceu na Califórnia - ficou mundialmente conhecida em 1987, cantando sobre um garoto que representava, na época, o crescente problema da violência doméstica. Este garoto era "Luka", aquele que vivia no segundo andar do seu (seu mesmo) prédio. A bela era Suzanne Vega.

O sucesso estrondoso da música terminou por iniciar um pequeno movimento de cantoras no estilo rock-pop-folk-contemporâneo adulto e ajudou a criar o festival Lilith Fair, uma celebração do talento feminino. Mas, apesar de tudo, Suzanne Vega foi aos poucos sendo esquecida aqui no Brasil. Felizmente, apenas aqui no Brasil. Sua carreira seguiu normalmente, cheia de altos. E o último deles acaba de ser lançado: "Beauty & Crime". Para variar, mais um belíssimo álbum.

Estão lá as baladas, os rocks tímidos, os pops mais animados e a bossa nova com aquele gostinho de chiclete. As letras sobre suas experiências por Nova Iorque são cantadas com a mesma voz sussurrada da década de 80. Uma pena que O CD seja bem curtinho, com 11 faixas bem curtinhas também. Queria mais. Eu sou fã de Suzanne Vega desde "Luka". Tenho todos os seus discos. E muito recentemente passei por uma overdose, revendo seus trabalhos, um a um. Que bela surpresa foi então ouvir um novo, cheio de canções inéditas.

Assim como Aimee Mann fez tantas e tantas vezes, Suzanne Vega veio para me salvar. Um timing perfeito.


(Trilha Sonora: Suzanne Vega - Beauty & Crime)

domingo, junho 24, 2007

Uma Pausa para o Esporte... E a Música

















A America’s Cup é um dos eventos esportivos mais antigos e tradicionais do planeta. É a Copa do Mundo da vela, realizada também de quatro em quatro anos. Estamos agora na fase final da edição de número 32, na Espanha, uma disputa entre os barcos Team Alinghi, da Suíça, que defende o título conquistado em 2003, e Team New Zealand, da Nova Zelândia. Apesar dos países, não é uma competição entre nações, mas entre equipes.

Em 1995, na Austrália, o Team New Zealand, com seu “Black Magic”, levou para casa o troféu e o direito de sediar o campeonato de 1999, que também venceu. Em, 2003, disputaria outra vez nas águas do Golfo de Hauraki, em Auckland. E eu estava por lá. E vi os kiwis perderem em casa para o time suíço, por 5 a 0, e que participava pela primeira vez da America’s Cup. Detalhe: Ernesto Bertarelli, CEO de uma empresa de biotecnologia da Suíça, entre os mais ricos do mundo, era o homem dos bastidores do Alinghi. Com dinheiro de sobra, ele contratou os melhores velejadores. Entre eles, Russel Coutts, ex-skipper (capitão) do TNZ. Ai, ai, ai...

A saída abrupta e, digamos, gananciosa de Coutts do TNZ para o adversário Alinghi não foi muito bem recebida. Ao deixar o porto para as provas decisivas, uma multidão de neozelandeses urrava “traitor, traitor, traitor” a plenos pulmões. O herói havia virado persona non-gratta. E a America’s Cup de 2003 ficou marcada pelo hino “Loyal”, de Dave Dobbyn, um dos músicos mais respeitados e conhecidos da Nova Zelândia. Team Alinghi respondeu, e com outra música: “Can’t Stop”, do álbum “By The Way”, do Red Hot Chili Peppers. E a competição de barcos foi transformada em uma guerra de declarações em versos rimados e refrões cantados aos gritos.

A final deste ano, como em 2003, será entre Team Alinghi, sem Russel Coutts, e Team New Zealand, no formato melhor de nove regatas. O placar (sempre atual, confira aqui ou no site da America's Cup): 5 a 2. Deu Alinghi! Deu RHCP! Aumente o volume!


(Trilha Sonora: Suzanne Vega - Beauty & Crime)

sábado, junho 23, 2007

Listas, Listas e Mais Listas

O American Film Institute divulga, a cada década, sua famosa lista com os 100 melhores filmes (americanos) de todos os tempos. Há algumas surpresas interessantes. “Cidadão Kane”, de Orson Welles, continua no topo, impávido colosso. Depois, na ordem, temos “O Poderoso Chefão”, de Francis Ford Coppola, “Casablanca”, de Michael Curtiz, “Touro Indomável”, de Martin Scorsese, “Cantando na Chuva”, de Gene Kelly e Stanley Donen, “E O Vento Levou”, de Victor Fleming, “Lawrence da Arábia”, de David Lean, “A Lista de Schindler”, de Steven Spielberg, “Um Corpo que Cai”, de Alfred Hitchcock e, enfim, “O Mágico de Oz”, também de Victor Fleming.

Temos muito para discutir. Mas vamos apenas refazer a lista, agora com as datas, em ordem outra vez: 1941, 1972, 1942, 1980, 1952, 1939, 1962, 1993, 1958 e 1939. Quais são as conclusões? Desde que eu nasci, há 30 e poucos anos, apenas dois filmes (americanos) mereceram a distinção de estar entre os Top 10. Desde 1993, há 14 anos, nenhuma produção é boa o suficiente para aparecer no meio dos melhores. Meu ponto é: para as novas gerações, de futuros cinéfilos e cineastas, quais são as referências? Será que na última década nada de interessante foi feito?

Imagino um garoto lá com os seus 14, 15 ou 16 anos. Um garoto que, como eu, amava o cinema e só os Beatles. Ele não lembra de “A Lista de Schindler”, lançado quando era um bebê, e nunca viu “Touro Indomável”, da década anterior ao seu nascimento. Adoro listas. Mas acho que alguém deveria parar, pensar e fazer algo radical. Que tal criar uma nova, com os filmes mais recentes, ou, talvez, uma reservada apenas para os clássicos? Vamos sacar “Cidadão Kane”, “O Poderoso Chefão” e “Casablanca” do pódium. Vamos abrir espaço para “Magnólia”, “Os Imperdoáveis”, “Os Bons Companheiros”, “Clube da Luta”, “Cães de Aluguel”, “Traffic”, “O Silêncio dos Inocentes”, “Moulin Rouge!”, “O Informante”, “Sideways” e por aí vai... Nada a ver com arte ou qualidade. Tudo a ver com a sustentabilidade do cinema para as novas gerações.


(Trilha Sonora: Gogol Bordello - Multi Kontra Culti Vs. Irony)

sábado, junho 09, 2007

Deu No New York Times



Aimee Mann escreve, com o talento de sempre, sobre os 40 anos de "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band". Texto no original, em Inglês. A ilustração é de Josh Gosfield.


P.S. I Loved You
By AIMEE MANN
Los Angeles


MY big brother was always the one to bring new music into the house. Until I heard the Beatles playing on his stereo in the basement, my favorite music had been Glen Campbell singing “Galveston” or my father playing “Won’t You Come Home, Bill Bailey” on the piano.

I was young enough to giggle when my brother changed the words of “P.S. I Love You” to...something more puerile, and four years later, young enough to think that “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” was really a band, and not the name of a Beatles record. In those intervening years, a transformation had taken place, and both the sound and the look of the Beatles had completely changed. Also, I was a little slow on the uptake, and didn’t notice the name “Beatles” spelled out in flowers on the cover.

Is it a testament to the quality, or purity, or beauty, or timelessness of that record (released 40 years ago this weekend) that it appealed so thoroughly to an 8-year-old, one who had virtually no contact with pop culture? I could not have been more out of tune with the zeitgeist — it would be two more years before I discovered radio, and even then I would have only the vaguest notion of what was out there. I bought my first LP solely on the basis of the cover (one of the reasons today I try to take extra care with the packaging of my CDs). It was pure dumb luck that it turned out to be Elton John’s “Madman Across the Water,” still one of my favorite albums of all time.

But the favorite is, and was, and must remain “Sgt. Pepper’s.” I had a love affair like no other with that record. My brother had bought it, of course, and when I heard it, I braved his wrath and smuggled it out to my friend’s house so I could play it over and over. You’d have had to know my brother back then to fully understand how daring that was.

In a way, that record seemed made for children: the fun false mustaches that came with the package, the bright shiny outfits, the cheery melodies, the jaunty horns. The band itself seemed almost irrelevant — scruffy mustachioed men in costumes, lost in a sea of collaged faces. I ignored them.

My ignorance extended to the opening song, which I took at face value as a real live introduction of the singer Billy Shears, who, whoever he was, became my favorite, with his dopey baritone, in humble gratitude for his pals — bless them, it all was so innocent, those marmalade skies and winking meter maids (whatever they were). The darkest moments were with the runaway girl — although a throwaway line in “Getting Better” (“I was cruel to my woman, I beat her...”) gave me pause. He beat her? What the heck? But hey — things were getting better all the time, so ... I shrugged and let it go.

And then things took a weird turn: a nightmare cacophony of strings, someone blowing his mind out in a car — what was that? Did he get shot in the head? What were the holes in Albert Hall? Things had gotten creepy and dark, and it lost me. I started skipping that last song.

I can’t listen to “Sgt. Pepper’s” anymore. As a musician, I’m burnt out on it — its influence has been so vast and profound. As a lyricist, I find that my ear has become more attuned to the likes of Fiona Apple and Elliot Smith, and though the words of “Sgt. Pepper’s” are full of vivid images — Rita’s bag slung over her shoulder, Mr. Kite sailing through a hogshead of fire, the runaway girl with her handkerchief — there’s an emotional depth that’s missing. I’m ashamed to say it, but sometimes John Lennon’s melodies feel a bit underwritten, while Paul McCartney’s relentless cheerfulness is depressing. The very jauntiness I used to love as a girl feels as if it’s covering up a sadder subtext. And what’s bleaker than a brave face?

The whole experience is uncomfortable, like realizing you can beat your own father at chess or arm-wrestling. I don’t want to go back and find that the carcass has been picked clean. Because I know without a doubt that “Sgt. Pepper’s” changed the course of my life. If the magic is gone, it’s only because first loves can’t be repeated. When I was 8, I’d never heard anything like it, and I can honestly say that if I live to be 100, I’ll never hear anything like it again.


(Trilha Sonora: The Beatles - Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band)

quinta-feira, junho 07, 2007

Sei Lá... Mil Coisas...

O verão americano ainda não acabou. Mas a batalha das trilogias já foi travada. Disputaram as bilheterias o Homem-Aranha, os Piratas do Caribe e o Shrek, ingresso a ingresso. Até agora venceu o herói, com 318 milhões de dólares. Em segundo lugar, o ogro verde, com 256 milhões de dólares. Na última posição, enfim, os piratas, com 218 milhões de dólares. E esses números dizem muitas coisas. Vamos ouvir...

Por que, afinal, o cinema americano aposta tanto em continuações, um fenômeno típico e muito característico do modelo de negócios nos Estados Unidos? Porque os filmes custam caro! Porque são investimentos altíssimos, na produção como um todo e também na divulgação. A média de um orçamento, hoje, lá nos EUA, é superior a 100 milhões de dólares. Este valor costuma dobrar com as campanhas publicitárias. Resumindo: levar algo para as telas não sai por menos de uns, digamos, 200 milhões de dólares. Com tanto dinheiro em jogo, é melhor não arriscar e partir para uma fórmula certa, já testada. E vamos nos 2, 3, 4...

Mas por que tanta verba destinada à divulgação? Porque você precisa arrastar as pessoas para o cinema. Só que a coisa não é tão simples assim. Você não tem apenas de arrastar as pessoas. Tem de arrastar rápido! Antes de algum concorrente tomar o seu lugar nas salas de exibição (uma outra guerra particular, por telas), antes de as críticas serem publicadas e lidas com atenção e antes de um possível boca-a-boca negativo. A verba de divulgação joga, sem pudores, todas as fichas no fim de semana de estréia, quando todas essas grandes produções arrecadam seus rios de dinheiro. Na segunda semana, a bilheteria cai pela metade, às vezes mais. E assim vai. Exemplo: “Homem-Aranha 3” abriu com 151 milhões de dólares em 4.252 salas no fim de semana do dia 06 de maio. Saltando no tempo, para 20 de maio, e com 4.324 cinemas, a venda de ingressos despencou para míseros 29 milhões de dólares. Hoje está em 7 milhões de dólares. Sacou?

Por que o cinema americano é assim? Pergunte aos senhores Steven Spielberg e George Lucas. Lá na década de 70 eles eram diretores independentes, lutando para conseguir um espaço qualquer em um mundo de gigantes. E atacaram o ponto fraco da indústria: o mercado jovem, repleto de adolescentes sugestionáveis em crises hormonais. A dupla cavou um espaço no verão, a principal época de férias escolares (como o nosso dezembro), descobriu a venda de produtos relacionados (traquitanas mil, de bonequinhos a camisetas a roupas de cama a imagens em sanduíches e cereais) e mudou o sistema. Spielberg e Lucas viraram os Midas do negócio. Eram eles os mais espertos da sala. E há 30 anos (o filme que abriu a tendência foi “Tubarão”, de 75, seguido por “Guerra nas Estrelas”, de 77) todos seguem a “Cartilha Spielberg/Lucas para Ganhar Dinheiro”.

E onde isso vai parar? Bom. Caindo em um clichê, o monstro do cinema americano vai comer o próprio rabo. Para ter lucro, você vai ter investir cada vez mais. Até chegarmos a um ponto de total inviabilidade. “Piratas do Caribe”, por exemplo, teve um custo estimado de 200 milhões de dólares. Ufa. Então já teve lucro? Não, não... A produção é apenas uma parte de um negócio que envolve outros dois vértices: a distribuição e a exibição. Acreditem. Esse pessoal tem um poder de barganha fortíssimo. Para fazer uma conta bem grosseira, divida o total arrecadado por três. Vamos lá: 218 / 3 = 72. Puxa vida. Falta muito ainda... E agora a estréia já foi. Para piorar, a continha vale também para todas as praças fora dos Estados Unidos.

Não entendi nada... Então eles vão ficar no prejuízo? Não! Porque o cinema hoje não é só o cinema. É o licenciamento de imagem (lembram das traquitanas mil?), é a venda para TVs abertas e fechadas e, claro, a menina dos olhos: o aluguel e a venda de DVDs. Sim! O cinema virou uma plataforma. Você usa apenas para causar aquele “wow” e abrir caminho para outras formas de ganhar dinheiro. Basta criar uma franquia de sucesso, como os piratas, e pronto!

Você não está sendo pessimista demais? Não acho. O cinema sustenta toda essa rede. Qualquer colapso e veremos uma reação em cadeia. Sem contar com a pirataria (seja do Caribe ou não), que ataca uma fonte inequívoca de lucro: outra vez, os DVDs. Bem tranqüila a vida de um CEO de estúdio, hein?

Há algo mais que podemos tirar dos números? Sim. Talvez uma tendência. Desde a trilogia “Senhor dos Anéis” que as continuações arrecadam menos e menos. Os hobbits cresceram nas bilheterias, ano a ano. É um exemplo de trabalho (comercial e até, digamos, artístico) bem feito. A tecno-besteira pós-moderna “Matrix”, ao contrário, perdeu dinheiro ano a ano. É um exemplo do que não deve ser feito. Cenas de alto impacto visual ainda não ganham de uma boa história. O Homem-Aranha, os Piratas e o Shrek (a seqüência e o encerramento) não renderam como o primeiro da série. Esgotamento nervoso.

E você consegue dormir com um barulho desses? Sim. Eu durmo sonhando com a Marilyn Monroe em um filme de Billy Wilder. Isso ninguém nunca vai me tirar. :0)


Puxadinho:

Isabela Boscov, da revista Veja, teve a mesma idéia para a edição 2012: falar sobre o mercado cinematográfico a partir da guerra das trilogias. Partimos, portanto, de um mesmo ponto. Mas chegamos em lugares bem diferentes. Ela diz que "Hollywood finalmente aprendeu a domar a cabala das trilogias". Eu, que os números mostram uma tendência de esgotamento. Belo assunto para um happy hour...

Por falar em números... Você vai reparar que eles não batem. Isabela destaca a bilheteria mundial. Eu, a doméstica, dos Estados Unidos. Um ponto para Isabela, apesar de nossa cordial discórdia: o sucesso da franquia "X-Men". Assim como "O Senhor dos Anéis", é outro exemplo de trabalho bem feito.


(Trilha Sonora: The Dresden Dolls – The Dresden Dolls)

sábado, junho 02, 2007

Ass – The Movie

“Ass” é o filme dentro do filme “Idiocracy”, de Mike Judge, o criador de Beavis and Butt-Head. “Ass” é um filme em que tudo o que vemos é uma grande bunda. Só. Este filme, “Ass”, ganhou 8 Oscars, incluindo o de Melhor Roteiro.

Calma. Isso só vai acontecer em 500 anos, quando finalmente a humanidade sucumbir à imbecilidade e ao poder da propaganda, quando as democracias virarem idiocracias. Esta é a história de “Idiocracy”, que foi direto para as prateleiras de DVD, pulando o lançamento nos cinemas do Brasil. Um planeta de beavises and butt-heads, onde um ser de humilde estatura intelectual é um oásis de inteligência.

Vale para pensarmos sobre o futuro que estamos construindo hoje. Principalmente o futuro cultural. Particularmente o futuro do cinema. A piada acima está bem perto de ser verdade em alguns anos. O cinema está há tempos em um vale de mediocridade. Lá bem de baixo, vemos com esforço alguns pequenos montes – outros poucos picos – de relevância artística. O resto é só o resto, para passar o tempo. E olhe lá...


(Trilha Sonora: Gogol Bordello – Gypsy Punk: Underdog World Strike)