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segunda-feira, setembro 10, 2007

Aimee Mann X Bree Sharp

A indústria cultural é, muitas vezes, cruel com os artistas. E, entre tantas, a fonográfica é que mais recebe críticas, e de todos os lados, dos músicos aos fãs. Há tempos convive com a rebelião de downloads sem fim e com a revolta de suas estrelas.

A história de Aimee Mann começa lá na década de 80, com uma banda pretensamente punk, do it yourself, "The Young Snakes". Mas ela deixou a garagem para montar o ‘Til Tuesday, um grupo new wave que estourou logo no primeiro disco, “Voices Carry”, lançado pela Epic, da CBS. O sucesso levou ao segundo álbum, “Welcome Home”. As mudanças já podiam ser ouvidas. Do pop água com açúcar, o ‘Til Tuesdau havia evoluído para um rock mais consistente, de vôos mais altos. Aimee Mann tomava o poder, aos poucos, e começava a impor seu talento. Em busca de maior independência, iniciou uma briga inglória com os executivos da gravadora.

No meio da confusão, é lançado o disco “Everything’s Different Now”. O trabalho, com uma pequena dose de exagero, pode ser considerado o primeiro álbum-solo de Aimee Mann, de tão sofisticado, de tão diferente, como já dizia o título. Tudo mudou de verdade. O ‘Til Tuesday acabou logo depois e Aimee partiu para a carreira solo, ainda presa a uma gravadora, desta vez a Geffen. Vieram “Whatever”, “I’m With Stupid” e “Bachelor No. 2”.

Quando preparava este último, os problemas foram enormes. Ela foi pressionada a compor músicas “pegajosas”, para tocar no rádio. Não fez e foi abandonada. Para não jogar tudo no lixo, Aimee fundou a própria gravadora e lançou o álbum como independente. E aí veio o filme “Magnólia”, baseado em suas letras (Paul Thomas Anderson é fã antigo de Aimee Mann). A trilha rendeu, além dos elogios, uma indicação ao Oscar – perdeu para a canção de amor dos macacos, de Phil Collins, para "O Rei Leão" – e provocou a maior virada de sua vida.

Hoje, Aimee Mann mantém sua gravadora – e mais uma legião de fãs fiéis –, viaja por todo o mundo divulgando seu trabalho e, basicamente, faz o que bem entende. E como. “Lost in Space” e “The Forgotten Arm” consolidaram Aimee Mann como a melhor letrista do rock mundial (talvez de toda a música) e como uma das mais importantes artistas do planeta. Completa.

Como toda a moeda tem dois lados, há a história de Bree Sharp (imagem acima). Americana gata, de cabelos escuros, talentosa, apareceu de repente com rocks pops bacaníssimas, em “A Cheap and Evil Girl”, que fez um relativo sucesso empurrado pelo single “David Duchovny”. Apesar de tudo estar indo muito bem, a gravadora que lançou o álbum, no meio de uma crise financeira, decretou falência e deixou seus artistas afundarem com o barco.

Bree não desistiu e, com dinheiro do próprio bolso, fez “More B.S.”, um tanto irregular, mas ainda interessante, na mesma linha do disco anterior. Ela, sem querer, havia virado uma artista da cena independente. Nada significativo mudou e as coisas seguiram no mesmo rumo. No início deste ano, Bree anunciou - na internet – que estava trabalhando em seu terceiro álbum “Robots in Love”. Mas o lançamento atrasou, atrasou, atrasou e ainda não veio. Para dar um gostinho aos fãs, quatro músicas novas foram postadas em sua página no My Space. Também pela internet veio a explicação da demora. Bree Sharp foi procurada por uma gravadora e está, atualmente, em negociação. Os robôs apaixonados esperam...

Aimee Mann e Bree Sharp têm trajetórias até semelhantes, mas inversas. Aimee já é mestre. Bree está começando, aprendendo. Aimee deixou as gravadoras para cuidar da própria vida artística. Bree está fazendo o contrário. Entre as duas histórias, o importante é que a indústria da música, como tantas outras, está mudando radicalmente. O poder hoje é do consumidor e sua arma, a internet, o acesso ilimitado à tecnologia e à informação. Quem não entrar nesse jogo – e usá-lo de forma inovadora, favorável à sustentabilidade do negócio -, vai sair derrotado.

Viva Aimee. Boa sorte, Bree.


(Trilha Sonora: Bree Sharp - A Cheap And Evil Girl)