A Casa do Poeta
'La Chascona', em uma tradução livre, quer dizer 'despenteada'. Era assim que Neruda costumava chamar sua amante, Matilde Urrutia, com quem viveu até morrer, em 1973. Quando a relação foi oficializada, pouco tempo depois da época dos encontros secretos, é que começa a verdadeira história. Uma história que mistura poesia, amor e política. Uma história que você sente na pele ao andar por todos os aposentos da casa, que ainda guarda os móveis, os eletrodomésticos, os pratos, os copos, os talheres e os objetos decorativos reunidos pelo casal durante quase 20 anos. Também estão por lá alguns dos livros que faziam parte de sua biblioteca, alguns de seus manuscritos e alguns dos vários prêmios recebidos. Lá estão o cotidiano de um gênio e a intimidade de um homem.
É de uma emoção indescritível passear por 'La Chascona'. Você vê que mesmo as maiores mentes têm um dia-a-dia bem próximo do que temos todos nós, meros mortais. Durante a caminhada tentava imaginar o que acontecia ali, o que o influenciava, o que o inspirava... A casa preservou esses momentos, hoje para 'viagens' individuais. É assim que somos obrigados a pensar na criação artística, e como um todo. É assim que somos obrigados a pensar como alguns privilegiados conseguem transcender esse cotidiano banal da vida e transformá-lo em algo para a eternidade, em algo que define nossa aventura. Eu nunca antes havia visitado a casa de um artista brilhante, preservada como um retrato. É uma experiência única.
A foto que ilustra esse post é minha mesmo (obrigado, obrigado). Por razões óbvias, não é permitido capturar imagens dentro de 'La Chascona'. O que você vê por lá é só seu. Eu, por exemplo, guardo comigo essa sensação de 'minha vida de cachorro', de como não sou uma coisa nenhuma apenas diante do universo, mas também uma coisa nenhuma diante de pessoas como Pablo Neruda - e outras tantas. Um sentimento que nada tem de depressivo. Um sentimento que faz com que você entenda um pouco melhor tudo o que rola por aí, faz com que você deixe firmes os pés no chão...
(Trilha Sonora: Francisca Valenzuela - Muérdete La Lengua)
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