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quarta-feira, janeiro 16, 2008

A Pequena Bibi Bobinha

“A Pequena Bibi Bobinha” era um dos contos ilustrados do livro de bolso “Mad Vai ao Cinema”, lançado aqui em 1977, e que guardo com carinho até hoje (ao lado, a edição original, americana). Bibi Bobinha era uma menina que doava sangue quatro vezes por semana, dava metade dos biscoitos para os escoteiros do bairro (comia a outra metade para ter cáries e não deixar seu dentista sem trabalho) e ficava feliz quando recebia uns chutes do bondoso Senhor Maubofes, que, velhinho, coitado, precisava de exercício.

Você conhece ou conheceu alguma Bibi Bobinha. Ela era aquele garoto bobo que emprestava tudo para todo mundo, que pedia uma bola de presente para os pais só para levar na escola e deixar os colegas jogarem. Ela era aquele garoto bobo que fazia a lição de casa de todo mundo, que gostava das aulas – e dos professores – e nunca parecia estar triste, apesar de sua auto-estima corroída por anos de submissão em busca de amigos.

Os críticos estrangeiros de cinema em Hollywood são um bando de Bibis Bobinhas. Na premiação de domingo, os Globos de Ouro foram entregues (rapidinho, em uma hora e pouco, infelizmente com piadas e comentários sem graça, já que feitos de improviso – afinal, ninguém escreveu nada) para todo mundo. E todo mundo mesmo. Ninguém saiu de mão abanando. Quem mais ganhou, levou só duas estatuetas para casa (a lista completa está aí embaixo para você conferir).

As Bibis Bobinhas premiaram “Atonement”, “There Will Be Blood”, “No Country For Old Men”, “Sweeney Todd” e “The Diving Bell and the Butterfly”. Nos eventos realizados até agora – e já comentados por aqui – poucos filmes (“There Will Be Blood” e “No Country For Old Men”) estavam disputando atenções voto a voto, dividindo as escolhas. Mas no Globo de Ouro, foi a festa do caqui. E a festa do caqui compensou a festa que deveria ter caviar e champagne de graça – teve água e café e olhe lá. As Bibis Bobinhas agradaram todo mundo, exatamente como o garoto bobo do colégio que precisava mostrar que era aceito pela turminha:

“Ó, mãe, o Johnny Depp é meu amigo!”

A jornalista Ana Maria Bahiana, que trabalha há séculos no império, e faz parte da associação responsável pelo Globo de Ouro, fez algumas críticas recentes aos colegas, principalmente contra a não-indicação de Paul Thomas Anderson como Melhor Diretor por seu trabalho em “There Will Be Blood”. E perguntou se o filme, nomeado na categoria principal, havia se dirigido ou se escrito sozinho. Quem aparece listado na categoria principal fez por merecer. Ou deveria ter feito, não é? Mas se podemos agradar 300 espartanos e um montão de persas...

O Globo de Ouro 2007 será lembrado – por mim, pelo menos – não como o ano do boicote, do cancelamento e da entrevista coletiva, mas como o ano da lambança institucionalizada. Acho improvável que nenhum acordo tenha sido feito. Acho improvável que meia dúzia de puxa-sacos não tenha sentado na calada da noite e distribuído as estatuetas. E se há uma consultoria para garantir a credibilidade, basta lembrar que os números impressos nos relatórios da Enron também eram auditados. Ai, ai, ai... Vejam aí o que as Bibis Bobinhas aprontaram, com alguns títulos já em Português:


Melhor filme - Drama
Desejo e Reparação

Melhor filme - Comédia ou Musical
Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Melhor atriz - Drama
Julie Christie - Longe Dela

Melhor ator - Drama
Daniel Day-Lewis - Sangue Negro

Melhor atriz - Comédia ou Musical
Marion Cotillard - Piaf - Um Hino ao Amor

Melhor ator - Comédia ou Musical
Johnny Depp - Sweeney Todd

Melhor ator coadjuvante
Javier Bardem - Onde os Fracos não têm Vez

Melhor atriz coadjuvante
Cate Blanchett - I'm Not There

Melhor diretor
Julian Schnabel - O Escafandro e a Borboleta

Melhor roteiro
Onde os Fracos não têm Vez - Joel Coen, Ethan Coen

Melhor filme em língua estrangeira
O Escafandro e a Borboleta (França, EUA)

Melhor filme de animação
Ratatouille

Melhor canção
Into the Wild - "Guaranteed"

Melhor trilha sonora
Desejo e Reparação - Dario Marianelli

Melhor série dramática
"Mad Men"

Melhor série cômica
"Extras"

Melhor minissérie ou filme para televisão
"Longford"

Melhor ator em minissérie ou filme para televisão
Jim Broadbent por "Longford"

Melhor atriz em minissérie ou filme para televisão
Queen Latifah por "Life Support"

Melhor ator em série cômica
David Duchovny por "Californication"

Melhor atriz em série cômica
Tina Fey por "30 Rock"

Melhor ator em série dramática
Jon Hamm por "Mad Men"

Melhor atriz em série dramática
Glenn Close por "Damages"

Melhor ator coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV
Jeremy Piven por "Entourage"

Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou filme para TV
Samantha Morton por Longford



(Trilha Sonora: A Fine Frenzy - One Cell in the Sea)

5 Comments:

Blogger PatPat said...

cara, vim aqui a partir da LuCaires. Que demais! adorei a template, adorei o Boulevard, só "zapeei" o texto e vc é tudibom.
Panhê-puranga, em sateré-maué.

Passa lá "em casa".

11:25 PM  
Blogger PatPat said...

ah, qto ao Grobo di Oru, vamos relevar o Sistemão dos Bibisbobinh@s. Afinal, "good news" in d block: writers´r´n´strike.
E vá lá: tem no line-up
Mr. Bardem, Dona Blanchett, CAliFornication!!! e o clássico Day-Lewis (achei o máxxximo conhecer em Stansted p/Londres, vindo como eu de Dublin, um irlandês novinho, Jonathan, q era a "cara" de Day-Lewis)...
E os Irmãos Cohen! eles merecem, ou é troféu abacaxi?

11:34 PM  
Anonymous Anônimo said...

Como sempre, um bom post. Como já disse antes, não entendo lá muito do assunto. Mas a comparação com os números auditados da Enron é muito, muito boa mesmo...E, assim como outros leitores, também espero pela lista dos 100 Melhores Filmes...bjo

1:54 PM  
Anonymous Anônimo said...

Pô Mário, não era você que vivia dizendo ao Carlos Cima que se acha que houve treta no campeonato, que apresente provas?

Hahahaha te peguei em contradição hein, ou adivinhei que no fundo você não acreditava no que estava falando, como várias vezes você fez comigo até eu perceber que era seu estilo: joga uma bomba para ver quem cai... e eu sempre caía
:-D

Mas falando sério, adorei a história da Bibi Boinha.

Um grande beijo!

PS: pode me dar a porcentagem do lucro, já que angariei leitores para seu blog!

8:20 PM  
Anonymous Anônimo said...

A história da Bibi Bobinha é demais. Só você mesmo para desenterrar esses clássicos. A MAD foi uma das revistas da minha adolescência. Beijos e saudades!

2:33 PM  

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